Vereadores repercutem suspensão de linhas de ônibus em Fortaleza e revelam detalhes de negociações
Setor recebe subsídios e incentivos fiscais, que estavam em processo de ampliação em mesa de negociação
Vereadores usaram a tribuna da Câmara Municipal de Fortaleza, nesta terça-feira (30), para condenar a decisão do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) de suspender 25 linhas de ônibus na Capital. Outras 29 rotas ainda passaram por redução de frota.
Representantes da base reiteraram que a medida ocorreu de maneira surpreendente, especialmente porque havia uma reunião com a Prefeitura marcada para a segunda-feira (29), data em que os cortes foram anunciados.
(Havia) uma mesa de negociação há mais de quatro meses, capitaneada pelo prefeito Evandro Leitão, junto ao Governo do Estado, ao Sindiônibus e à Etufor. [...] Semana passada, na quarta-feira, nós pagamos mais R$ 2,5 milhões que não estavam no combinado. Nós demos um aporte financeiro ao Sindiônibus, e na segunda-feira, com uma reunião marcada para 11h, nós fomos surpreendidos, por volta das 5h e 6h, com uma medida totalmente descabida.
O PontoPoder pediu mais detalhes à Prefeitura de Fortaleza e à Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) sobre esse repasse. Quando houver retorno, a matéria será atualizada.
No mesmo tom, o vereador Aglaylson (PT) comentou os bastidores das tratativas mencionadas pelo colega. Em discurso no plenário, o petista informou que a ampliação da ajuda financeira para o setor estava na mesa de negociação.
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Atualmente, o Governo do Estado concede isenção do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) da frota de ônibus, que representa R$ 4 milhões, e incentivo de R$ 2 milhões para Bilhete Único Metropolitano.
Além disso, há isenção de 50% do pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o diesel. A expectativa era aumentar esse benefício para 100%, representando uma renúncia fiscal de R$ 40 milhões.
Esses foram os termos de conversa entre o presidente da Etufor, George Dantas, e o secretário da Casa Civil do Estado, Chagas Vieira, segundo Aglaylson. Os dois órgãos confirmam as tratativas.
“Em 2025, a previsão é (chegar a) R$ 233 milhões entre repasses e subsídios por parte do Estado e da Prefeitura ao Sindiônibus. É muito dinheiro para chegar na segunda-feira de manhã e os trabalhadores da nossa Capital serem surpreendidos com a suspensão de 25 linhas de ônibus e a redução em mais de 29 linhas”, apontou o vereador do PT.
Vice-presidente da Câmara, Adail Junior (PDT), por sua vez, exigiu que o sindicato patronal seja responsabilizado pelo prejuízo causado a usuários que tiveram que recorrer a aplicativos de transporte, como Uber, para chegar aos seus destinos.
A Câmara Municipal deve convocar audiência pública nos próximos dias com a presença do Sindiônibus para tratar da atual situação do transporte urbano de Fortaleza. Adail Júnior também manifestou o interesse em convocar a entidade para esclarecimentos na Casa.
‘Pegos de surpresa’
Nesta terça-feira (30), o prefeito Evandro Leitão (PT) disse que foi “pego de surpresa” com a decisão do Sindiônibus e confirmou que havia uma negociação em andamento, com vigência até 31 de outubro.
Segundo o Sindiônibus, o sistema de transporte coletivo da Capital vive o momento de maior déficit financeiro já registrado na sua história. Em entrevista à Verdinha FM, o presidente do sindicato, Dimas Barreira, afirmou que faltam R$ 7 milhões mensais para o setor funcionar de maneira satisfatória.
Hoje, a Prefeitura repassa cerca de R$ 16 milhões por mês. “Tínhamos dado um incremento por meio do governo do Estado de R$ 5 milhões. Tínhamos uma reunião ontem (segunda-feira) às 11h, mas fomos pegos de surpresa”, disse Evandro.
O prefeito também ressaltou que não aceitará “pressões”. “Me sinto na obrigação de dizer a população e ela está coberta de razão por que o transporte público de fortaleza deixa muito a desejar, mas estamos trabalhando para melhorar. Não vamos aceitar pressão”, complementou.