Três prefeitos no Ceará vão assumir 5º mandato; outros cinco vão chegar ao 4º em 2025
Em alguns casos, os antepassados de prefeitos e prefeitas eleitos em 6 de outubro iniciaram seus ciclos políticos ainda no século XIX
O resultado nas urnas no primeiro turno das eleições municipais no Ceará agradou, em várias cidades, grupos e famílias que exercem forte influência na política local há muito tempo. Ao menos 15 municípios cearenses terão, em 2025, gestores que assumirão o seu terceiro, quarto ou até quinto mandato no Executivo. Em alguns casos, os antepassados de prefeitos e prefeitas eleitos em 6 de outubro iniciaram seus ciclos políticos ainda no século XIX.
A legislação veda a reeleição para um terceiro mandato seguido no Poder Executivo, mas não impede que políticos busquem a prefeitura ou outros cargos de gestão na eleição subsequente. Nesse meio-tempo, muitos conseguem emplacar aliados no governo municipal e assegurar influência suficiente para, no pleito seguinte, retornar como candidatos e garantir a vitória, consolidando o poder nas suas bases eleitorais.
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Em Quixeramobim, Tauá e Horizonte, estão os recordistas em mandatos, que vão governar seus municípios, a partir de 2025, pela quinta vez. São eles, em ordem, Cirilo Pimenta (PSB), Patrícia Aguiar (PSD) e Nezinho Farias (PSB).
Outros cinco gestores vão ocupar a mesma função pela quarta vez, como é o caso de Jaime Veras (PSD), Monteiro Filho (MDB), Nilson Diniz (PSB), Roberto Pessoa (União) e Zé Dival (PP), de Barroquinha, Arneiroz, Cedro, Maracanaú e Itatira, respectivamente.
Já aqueles que vão ser conduzidos ao seu terceiro mandato são Eliria Queiroz (PSD), de Ibaretama; Iraldice Mão Cheirosa (PP), de Graça; Michele Queiroz (PP), de Beberibe; Moesio Loiola (PSB), de Campos Sales; Simão Pedro (PSD), de Orós; e Webston Pinheiro (PSD), de Solonópole.
Conheça os prefeitos recém-eleitos ou em atividade com mais tempo de mandato na lista a seguir.
Átila Câmara
Reeleito para um terceiro mandato na Prefeitura de Maranguape, Átila Câmara (PSB) se tornou o primeiro prefeito da história da cidade a ser reconduzido para uma segunda gestão consecutiva, e com ampla vantagem: alcançou 73,99% dos votos. Átila foi eleito vereador em 2008 e prefeito em 2012, mas não conseguiu se reeleger em 2016. Concorreu à Prefeitura novamente em 2020, logrando vitória pelo Solidariedade.
Neste material, ele também inaugura uma lista de herdeiros políticos no Estado, já que é filho de Pedro Pessoa Câmara e sobrinho-neto de Antônio Botelho Câmara, ambos do ex-prefeitos do município.
A influência da família na região não se restringe a eles. O tataravô, Álvaro Câmara, era dono de fazenda em Maranguape e em Quixeramobim. Da sua ramificação familiar, outros nomes já passaram pela política institucional, como o ex-deputado estadual Antônio Câmara.
Cirilo Pimenta
O segundo nome desta lista é, também, o mais longevo entre os prefeitos de Quixeramobim. Cirilo Pimenta (PSB) iniciou a vida pública como vereador do município, passando, depois, pela Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), até ser eleito prefeito na cidade do Sertão Central em 1996. Foi reeleito em 2000, e em 2006, após emplacar um sucessor, Edmilson Jr., foi alçado novamente a deputado estadual.
O aliado governou a cidade por dois mandatos que, quando finalizados, deram espaço para a terceira gestão de Cirilo, a partir de 2013. Houve uma tentativa de reeleição em 2016, mas foi Clébio Pavone quem levou a melhor naquele ano.
Como reviravolta, este foi derrotado por Cirilo Pimenta em 2020, que, fortalecido, conquistou as urnas neste ano e garantiu o quinto mandato como prefeito de Quixeramobim, a partir de 2025.
Eliria Queiroz
No Sertão de Quixeramobim, a primeira mulher prefeita de Ibaretama chega à sua terceira gestão. Trata-se de Elíria Queiroz (PSD), cuja chapa também é composta por Carlinha (PSB). O município também guarda outra peculiaridade: ainda que tenha uma chapa majoritária 100% feminina, não elegeu nenhuma mulher para a Câmara Municipal.
Eliria se elegeu prefeita pela primeira vez em 2012, e venceu. Buscou a reeleição em 2016, mas foi derrotada por Edson Moraes, contra quem fez oposição até voltar a ter sucesso nas urnas, em 2020, com um cenário mais pulverizado no município.
Em 2024, venceu com 54,97% dos votos, contra Dr. Rodrigues Moraes (União), que recebeu 37,79%, e Magno Alexandre (PT), com 7,24%.
Iraldice Mão Cheirosa
Filiada ao PP, a prefeita reeleita de Graça, na região da Ibiapaba, concorre ao cargo pelo menos desde 2004, ininterruptamente. Foi em 2012 que ela conseguiu o seu primeiro êxito nas urnas e foi escolhida gestora do município. O mandato acabou em 2016, ano em que ela buscou a recondução, mas foi derrotada por Augusto Brito, ex-prefeito da cidade.
Iradilce, inclusive, enfrentou outra representante do clã na cidade: a atual senadora Augusta Brito (PT), filha de Augusto e sobrinha de Pedro Neudo, que também tinha sido prefeito de Graça nos anos 1990. Elas disputaram eleições em lados opostos em 2004 e em 2008, anos em que Augusta saiu na frente e assumiu a Prefeitura.
Em 2020, os dois grupos políticos voltaram ao embate eleitoral na figura de Augusto e de Iradilce, mas ela levou a melhor pela segunda vez. Em 2024, após passagens pelo PRB e pelo PDT, ela concorreu à Prefeitura novamente pelo mesmo partido ao qual era filiada há cerca de dez anos, o PP. No último dia 6 de outubro, Iradilce Mão Cheirosa derrotou Gadyel Gonçalves (PT), ex-marido de Augusta Brito e ex-prefeito de São Benedito, na mesma região.
Jaime Veras
Dando seguimento à trajetória da família na política, o prefeito de Barroquinha, Jaime Veras (PSD), foi reeleito para um quarto mandato no início de outubro. Sua primeira vitória majoritária foi em 1996. A segunda foi em 2000. Voltou à Prefeitura em 2021 por um placar apertado, de cerca de um ponto percentual de distância do adversário, o primo Ademar Veras, no ano anterior.
Jaime é filho de Veraldina Veras, a primeira governante de Barroquinha, emancipada em 1988, e tio de Aline Veras, que comandou o município entre 2005 e 2008 como a prefeita mais jovem do Brasil. À época, ela derrotou Ademar que, apesar do sobrenome, rompeu com parte da família e foi para a oposição. O embate entre grupos se repetiu no pleito seguinte, já com Ademar vitorioso em 2008, em 2012 (na figura de Tetê) e em 2016, com candidatura própria.
Em todos esses anos, Jaime se colocou como candidato, mas só foi vitorioso novamente em 2020. O feito se repetiu em 2024, com a preferência de 50,26% do eleitorado, novamente um placar apertado. A sua adversária foi Tainah Marinho (PT), que ficou com 49,74 %.
Michele Queiroz
Já a saga da prefeita reeleita de Beberibe, Michele Queiroz (PP), começou em 2012, quando foi escolhida pela população para gerir o município. Ela foi lançada candidata às vésperas do pleito, há 12 anos, quando o seu marido, o ex-prefeito Daniel Queiroz, renunciou à disputa.
Desde então, ela tem vivido uma trajetória de consolidação como liderança política no município, sendo eleita para outros dois mandatos: em 2020 e, agora, em 2024. Ela buscou a reeleição em 2016, mas foi derrotada por Padre Pedro. Nesse intervalo, ela chegou a trocar o PP pelo PL, mas retornou ao primeiro partido para o novo pleito.
Em 2024, ela disputou o cargo contra Dr. Anderson Peroba (DC) e Paulo Dino (PSD), alcançando 60,85 % dos votos.
Moesio Loiola
Eleito para um terceiro mandato como prefeito de Campos Sales, em 6 de outubro, Moesio Loiola (PSB) também chegou a acumular oito passagens pela Assembleia Legislativa do Ceará (Alece). Em 2023, como suplente, assumiu a cadeira de deputado estadual mais uma vez, antes de concorrer à Prefeitura.
Também radialista e empresário no setor de comunicação, Moesio é sobralense, mas chegou ao poder em Campos Sales em 2012 e foi reeleito em 2016. Para a sucessão, o então prefeito lançou o seu sobrinho, vereador Romulo Loiola, como líder da chapa. Ao seu lado, como candidato a vice-prefeito, o presidente da Câmara à época, João Luiz.
Com pendências na Justiça, Romulo retirou a candidatura, abrindo espaço para João concorrer a prefeito – e vencer a disputa. Já no novo mandato, contudo, o novo prefeito rompeu com Moesio, que foi para a oposição. Apartados, os dois políticos se tornaram adversários nas eleições de 2024, na qual Moesio levou a melhor.
Monteiro Filho
O prefeito de Arneiroz, Monteiro Filho (MDB), foi reeleito para o quarto mandato à frente da cidade, dando seguimento à trajetória do seu bloco político na região. Ele é o coordenador de um grupo que tem se mantido no comando do Executivo municipal desde a sua primeira eleição, em 2008, quando derrotou um clã tradicional no município, o dos Petrola.
Dali, ele foi reconduzido para uma gestão que findou em 2016. De saída do cargo, elegeu como sucessor o sobrinho, Edgar Monteiro. Mas em 2020, foi ele o candidato à Prefeitura de Arneiroz. Vitorioso, ele buscou a recondução em 2024, mais uma vez ganhando adesão da maioria do eleitorado.
Em entrevista ao PontoPoder em junho deste ano, ele atribuiu a permanência do grupo político que lidera à implementação de um "modelo diferente" de gestão na cidade. "A gente tenta estar se reinventando, inovando, com investimento em todas as áreas. A minha presença no município, sempre com atenção, atendendo as pessoas, têm surtido efeito positivo", disse.
Nezinho Farias
O prefeito de Horizonte, Nezinho Farias (PSB), foi eleito no início de outubro para o seu quinto mandato no Executivo. Ainda nos anos 80, ele foi vereador no município - logo após a emancipação política -, elegendo-se ao governo pela primeira vez em 1992.
Em 2004, foi eleito vice-prefeito, mas voltou à cabeça da chapa majoritária em 2008. A reeleição veio em 2012 para um mandato que durou de 2013 a 2016. Naquele ano, indicou a vice Kátia Maia à composição liderada por Chico César, que já havia comandado a cidade em três oportunidades, e apoiou a dupla na sucessão. A parceria rendeu a vitória, mas não durou muito tempo, já que Chico e Nezinho, que já tinham vivido indas e vindas desde a década de 80, romperam.
Em 2020, Nezinho voltou a disputar a Prefeitura diretamente, e venceu a eleição, renunciando à cadeira de deputado estadual conquistada, pela primeira vez, em 2018. Já no seu quarto mandato, em 2022, lançou a esposa, Jô Farias (PT), como candidata à Assembleia Legislativa e conseguiu manter uma representante da família na Casa por mais um quadriênio.
Nilson Diniz
O prefeito eleito de Cedro, Nilson Diniz (PSB), caminha para o seu quarto mandato na cidade. Ex-presidente da Associação dos Municípios do Ceará (Aprece), já comandou o executivo de Cedro entre 1993 e 1996 e entre 2013 e 2020. Ele também é médico urologista lotado no Hospital Geral de Fortaleza (HGF).
No último pleito eleitoral, houve alternância de titularidade, mas não de grupo político – Joãozinho de Titico, o vencedor naquele ano, foi indicado por Diniz após ter lhe acompanhado na vice-prefeitura, entre 2017 e 2020. Já nestas eleições, o veterano ganhou apoio de antigos adversários, como o ex-prefeito Rodrigo Xavier, que lhe derrotou em 2004.
Seu tio, o já falecido ex-deputado João Viana, também chegou a ganhar eleições na cidade, inclusive em cima de Nilson Diniz, em 1996, 2000 e 2008. Por 15 anos na história recente, a gerência da família do médico no município do Centro-Sul cearense foi interrompida, mas a influência dos Diniz vem desde as origens, uma vez que o avô do próximo prefeito, José Gabriel, foi o primeiro a governar Cedro.
Patrícia Aguiar
Em Tauá, a atual gestão também conta com capital político ancestral: a prefeita reeleita, Patrícia Aguiar (PSD), é casada com o ex-vice-governador Domingos Filho (PSD), neto de um dos últimos intendentes do território, o fazendeiro Domingos Gomes Freitas. O intendente municipal era uma espécie de prefeito da República Velha (1889-1930), que era indicado pelo presidente do estado, este equivalente ao governador de hoje em dia.
Em 2025, Patrícia vai assumir o seu quinto mandato como prefeita da cidade, cargo ocupado por ela entre 2001 e 2008 e entre 2013 e 2016. A alternância nesse ínterim se deu por meio de Odilon Aguiar, primo de Domingos, eleito em 2008 dentro do mesmo bloco político.
Já em 2017, após falhar na tentativa de recondução, Patrícia passou a faixa para um representante da oposição, Carlos Windson – ainda que Fred Rego tenha finalizado o mandato na cadeira de prefeito devido à cassação do colega de chapa. Em 2020, ela mediu forças com Fred perante as urnas e venceu as eleições. No último dia 6, novamente Patrícia saiu vitoriosa, após enfrentar um grupo adversário mais unido e robusto. Também conseguiu eleger a filha Gabriella Aguiar (PSD) como vice-prefeita de Fortaleza.
Roberto Pessoa
O empresário Roberto Pessoa (União) tem dominado a política maracanauense há 20 anos – não à toa, será reconduzido, em 2025, ao seu quarto mandato como prefeito. Estreou no Executivo em 2005, quando foi empossado na Prefeitura e iniciou uma sequência de oito anos na gestão da cidade. Antes disso, por 13 anos, exerceu um mandato como deputado estadual e outros três como federal.
Nas eleições de 2012, lançou o então vice-prefeito Firmo Camurça como seu sucessor, logrando êxito na empreitada. No pleito seguinte, foi a vez de Roberto aparecer nas urnas como vice-prefeito – e vencer novamente, ao lado de Firmo. Nos quatro anos subsequentes, ele foi a Brasília e voltou: foi eleito deputado federal em 2018 e, em 2020, venceu as eleições a prefeito de Maracanaú, alcançando seu terceiro mandato na posição.
Em 2024, Roberto agregou antigos opositores à sua candidatura, como o deputado estadual Julio Cesar Filho (PT), e foi eleito com uma folga de quase 40% em relação à segunda colocada na disputa, a deputada estadual Dra. Silvana (PL). Desta vez, a chapa do veterano foi composta, ainda, por Gerson Cecchini (PT).
Simão Pedro
Filho de dois ex-prefeitos de Orós, Luiz Moreira Pequeno e Tereza Cristina Alves Pequeno, Simão Pedro (PSD) foi eleito para um terceiro mandato no comando da cidade com a mãe como vice-prefeita. Ele já governou o município do Centro-Sul cearense entre 2013 e 2020.
No último pleito municipal, José Heriberto Moreira Pequeno chegou a ser lançado como candidato à sucessão, mas apresentou renúncia posteriormente devido ao seu estado de saúde, agravado pela Covid-19. Em substituição, o grupo governista lançou Zé Rubens (PSD) à disputa e garantiu mais quatro anos no poder.
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Suplente na Alece, Simão Pedro reassumiu uma cadeira na Casa no início de outubro com a licença-maternidade da deputada Gabriella Aguiar (PSD), que deu à luz a sua terceira filha, chamada Sara, no início do mês. Ele deixou o cargo pouco depois para fazer as tratativas de sucessão no município. Com a vitória da chapa de Gabriella, ele pode voltar ao cargo definitivamente.
Webston Pinheiro
Eleito no último dia 6 de outubro para a Prefeitura de Solonópole, Webston Pinheiro (PSD) vai assumir, em 2025, o terceiro mandato à frente da cidade. Ele esteve no comando entre 2013 e 2020.
No último pleito, dado a impossibilidade de reeleição para o terceiro mandato seguido, Webston lançou a prima, Ana Vladia, à sucessão. Após um quadriênio representando a família na Prefeitura, ela anunciou que não buscaria a recondução e que, nessa posição, estaria o ex-prefeito.
O novo prefeito conquistou 56,55 % dos votos contra 43,45 % de Thiago Nogueira (PP), seu único adversário no pleito de 2024.
Zé Dival
José Ferreira Mateus, mais conhecido como Zé Dival (PP), foi um dos gestores eleitos no Ceará com maior vantagem em relação aos seus adversários. Em Itatira, no Sertão de Canindé, ele chegou a 80,98% dos votos, habilitando-se ao seu quarto mandato no Executivo. Os três primeiros foram entre 2004 e 2012 e entre 2021 e 2024.
A influência no município conta com apoio do ex-prefeito e atual deputado estadual Almir Bié (PP), tanto que a vice-prefeita, por mais um mandato, será Carolina Bié. Ela é sobrinha do parlamentar e já chegou a assumir a Prefeitura quando o colega de chapa foi afastado da função pela Justiça.
Antes de ser eleito prefeito em 2004, Zé Dival ocupou o cargo de presidente da Câmara Municipal.