Legislativo Judiciário Executivo

Cinco episódios que mudaram os rumos da oposição no Ceará em 2025

Principais lideranças da oposição firmaram acordos para unificar o grupo, contudo, proposta enfrenta resistência de alas mais ideológicas.

Escrito por
Igor Cavalcante igor.cavalcante@svm.com.br

Aproximações improváveis e avanços na proposta de uma frente ampla marcaram o ano da oposição cearense em 2025. Ao mesmo tempo, crises internas e a instabilidade no campo bolsonarista tumultuaram articulações locais que chegaram a avançar ao longo do ano.

Às vésperas de 2026, a oposição chega sob a incógnita de conseguir transformar essas aproximações em um projeto político coeso, competitivo e sustentável.

O PontoPoder listou cinco fatos políticos marcantes deste ano.

Café da oposição vira espaço de articulação e ensaio de alianças

Os encontros informais de parlamentares e lideranças da oposição ganharam protagonismo ao longo de 2025 no Ceará. As reuniões, batizadas de “café da oposição”, foram usadas como espaço de debate político, anúncios, acenos públicos e ensaios de alianças entre diferentes campos oposicionistas.

Normalmente realizados em gabinetes de deputados do União Brasil, do PL ou do PDT — ala alinhada à direita —, os encontros enfrentaram, no início do ano, dificuldades para ganhar tração. Em fevereiro, uma das reuniões chegou a frustrar articulações devido à ausência de nomes centrais, como Roberto Cláudio (PSDB), Capitão Wagner (União Brasil) e André Fernandes (PL).

O cenário começou a mudar em maio, quando a mobilização de parlamentares como Queiroz Filho (PDT), Lucinildo Frota (PDT), Dra. Silvana (PL), Cláudio Pinho (PDT), Felipe Mota (União Brasil), Antônio Henrique (PDT), Sargento Reginauro (União Brasil) e Pastor Alcides (PL) resultou na presença do ex-governador Ciro Gomes em um dos encontros.

Ciro ao lado de deputados oposicionistas, como Cláudio Pinho, Dra Silvana, Pastor Alcides, Queiroz Filho, entre outros.
Legenda: Presença de Ciro no "Café da Oposição" foi um ponto de virada tanto para ele quanto para o grupo oposicionista.
Foto: Thiago Gadelha.

Naquele que foi considerado, até então, o movimento mais explícito de aproximação do político com diferentes alas da oposição, Ciro foi tratado como potencial candidato ao Governo do Ceará e anunciou apoio à pré-candidatura de Pastor Alcides, pai do deputado federal André Fernandes, ao Senado.

Ao longo do ano, as reuniões passaram a contar também com a participação do ex-prefeito de Fortaleza José Sarto (PSDB), além de Roberto Cláudio, Capitão Wagner e André Fernandes. À medida que se repetiam, os encontros estreitaram laços entre ex-integrantes da base governista, hoje na oposição, e lideranças tradicionais oposicionistas.

Veja também

As conversas desembocaram na construção de uma estratégia de frente ampla, articulada para enfrentar a possível candidatura à reeleição do governador Elmano de Freitas (PT) em 2026.

Roberto Cláudio sela aliança com o bolsonarismo

Publicamente alinhado a lideranças bolsonaristas desde as eleições municipais de 2024, o ex-prefeito Roberto Cláudio aprofundou essa aproximação em 2025 ao se reunir com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 29 de maio.

O então presidente do PL no Ceará, deputado estadual Carmelo Neto, classificou o encontro como “excepcional”. Segundo ele, participaram da reunião, além de Bolsonaro e Roberto Cláudio, os deputados André Fernandes e Rogério Marinho (PL-RN). “Eu posso dizer que foi um excelente começo de namoro, né? A conversa foi muito boa. Inclusive, ficou ali o gostinho de quero mais e o convite para uma conversa em Brasília”, disse.

Em junho, Roberto Cláudio afirmou que o diálogo teve como foco o cenário político local e a construção de uma frente ampla de oposição no Ceará. Questionado sobre a aproximação com Bolsonaro — de quem já foi crítico no passado —, o ex-prefeito citou exemplos de reaproximações políticas no campo governista, como a aliança entre Lula e Geraldo Alckmin (PSB) e a reaproximação do PT com o ex-senador Eunício Oliveira (MDB).

“O que está na história é da história. Nós não tratamos do passado, mas do presente e do futuro do Ceará”, afirmou Roberto Cláudio ao justificar a aliança com Bolsonaro.

O encontro marcou a aliança definitiva de Roberto Cláudio ao campo bolsonarista, consolidada paralelamente com sua saída do PDT rumo ao União Brasil e com a parceria política com Capitão Wagner, André Fernandes e outras lideranças das duas legendas.

Ciro volta ao centro do debate e migra para o PSDB

Em 2025, Ciro Gomes retornou ao centro do debate eleitoral ao participar de uma reunião da oposição na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), no início de maio. O encontro reuniu diferentes correntes oposicionistas e abriu espaço para discussões sobre o futuro do grupo em 2026.

Veja também

Na ocasião, houve acenos à pré-candidatura do deputado Alcides Fernandes (PL) ao Senado, apoio público à postulação de Roberto Cláudio ao Governo do Estado e, nos bastidores, conversas sobre uma possível candidatura do próprio Ciro ao Palácio da Abolição. Até então, aliados ainda o citavam, ao menos publicamente, como eventual nome para a disputa presidencial.

A defesa da candidatura ao Governo ultrapassou os gabinetes e ganhou as ruas, com faixas espalhadas por viadutos da Capital. Apesar do movimento, Ciro manteve cautela e evitou confirmar publicamente a intenção de disputar o cargo.

Contudo, essa possibilidade ganhou força com sua troca partidária. Em outubro, Ciro deixou o PDT e se filiou ao PSDB. A ala oposicionista avalia, com base em pesquisas internas, que o ex-ministro aparece como o nome mais competitivo para enfrentar Elmano de Freitas, apostando no desgaste do governo em áreas como segurança pública e economia.

O ato de filiação dos ex-pedetista ao PSDB foi cercado de simbolismo e reuniu lideranças da oposição que defendem sua candidatura ao Governo do Estado. No discurso, Ciro afirmou que, se dependesse apenas de sua vontade, “não seria mais candidato a nada”. “Mas o juízo é pouco aqui; quem manda é o coração”, disse.

União da oposição avança de olho em 2026

Ensaiada ainda em 2024, a construção de uma frente ampla de oposição ganhou ações mais contundentes em 2025. A estratégia foi aproximar ex- aliados do campo governista, hoje na oposição, e lideranças historicamente antipetistas.

O movimento ganhou corpo a partir do esforço de lideranças em reduzir resistências ideológicas em nome de um projeto eleitoral comum. A aproximação entre Roberto Cláudio, Ciro Gomes, Capitão Wagner e setores do bolsonarismo passou a ser tratada como um passo necessário para viabilizar uma candidatura competitiva ao Palácio da Abolição.

Nos bastidores, a avaliação predominante era de que a oposição, fragmentada nas últimas disputas estaduais, precisaria superar divergências pessoais e partidárias para não repetir derrotas recentes. A defesa de uma candidatura única ao Governo do Estado e de uma composição consensual para o Senado passou a orientar parte das articulações ao longo do ano.

Crise na oposição expõe limites da frente ampla e reabre disputas

Apesar dos acenos de unidade, 2025 também evidenciou os limites da construção desse campo oposicionista. O discurso de convergência esbarrou em embates públicos e crises de liderança que chegaram ao fim do ano, colocando em risco a estratégia de frente ampla.

Um dos episódios, registrado em julho, ocorreu por conta de críticas públicas feitas por Ciro Gomes ao ex-presidente Jair Bolsonaro. À época, André Fernandes reagiu e recuou das tratativas que incluíam lançar Pastor Alcides ao Senado, e Ciro ao Governo do Ceará.

Veja também

Interlocutores do ex-governador e do deputado federal entraram em cena e reaproximaram os dois, articulação que firmou uma aliança entre as duas alas oposicionistas. Contudo, desacordos envolvendo o deputado André Fernandes e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro voltaram a ameaçar a aliança. Em visita ao Ceará, ela criticou a aproximação com Ciro e defendeu o apoio à candidatura de Eduardo Girão (Novo), também pré-candidato ao Governo do Ceará.

O episódio, que suspendeu novamente as conversas entre bolsonaristas e Ciro, expôs o desgaste da tentativa de conciliar campos ideológicos distintos dentro do mesmo projeto eleitoral.

As incertezas sobre o futuro político de Jair Bolsonaro, as disputas internas entre partidos e as divergências quanto ao desenho das alianças nacionais ampliaram o ambiente de instabilidade. Enquanto uma ala da oposição bolsonarista defende uma articulação programática entre diferentes espectros políticos, outra vê risco de incoerência ideológica e desgaste eleitoral.

Este conteúdo é útil para você?
Assuntos Relacionados