Tabela do frete defasada e diesel mais caro: como está a situação do setor logístico

Elevações do diesel pressionam custos do transporte de carga e de produtos

Escrito por Redação ,
posto de combustível
Legenda: Litro do diesel já está mais caro que gasolina em alguns postos de Fortaleza.
Foto: Fabiane de Paula

Meio de locomoção de cargas predominante no Brasil, o transporte rodoviário exerce influência direta no preço de praticamente todos os produtos no País. Apesar das fortes altas no valor do diesel estarem pressionando atualizações mais constantes, a tabela de frete segue defasada e prejudicando os resultados do setor logístico.

O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Ceará (Setcarce), Marcelo de Holanda Maranhão, revela que a frequência de atualização da tabela foi reduzida, mas segue insuficiente.

Tendo em vista que o combustível representa de 40% a 50% dos custos de operação do segmento, a regulação previa, que a cada 10% de elevação no preço do diesel, o piso fosse revisto. Esse gatilho caiu para 5% de reajuste no preço do combustível, provocando duas atualizações somente este ano.

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"Realmente, se faz necessário realinhamento do frete rodoviário, haja vista não só o aumento do preço do diesel, mas o fim do crédito do Pis/Confins", afirma.

Desde o dia 17 de maio, o setor logístico deixou de contar o crédito relativo ao pagamento do Pis/Confins. Maranhão esclarece que as empresas pagam uma alíquota de 9,5% desses tributos em cima do valor do frete. A operação, no entanto, gerava crédito que era utilizado como desconto na compra de combustível.

"Essa medida que suspende o crédito do Pis/Cofins deve onerar ainda mais o custo do combustível, em torno de 9,5%. Então, o frete também está sendo onerado, colocando pressão também por realinhamento do valor do frete"
Marcelo de Holanda Maranhão
Presidente do Setcarce

Redução de impactos

O presidente do Setcarce ainda pontua a importância de serem pensados novas políticas de preço do diesel no Brasil, para que o setor logístico consiga operar de forma mais consistente.

Ele também revela que alguns modelos foram discutidos durante o Seminário Brasileiro do Transporte de Carga, realizado na quarta-feira (1º). As ideias serão levadas para debate com os agentes econômicos envolvidos, como o Governo Federal, os Estados, e o meio produtivo, para chegar à melhor alternativa.

"O que nós, transportadores, precisamos é de uma política de preços mais consistente, que dê mais segurança, haja vista que amanhã não sabemos qual vai ser o valor do diesel", destaca Maranhão.

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O consultor na área de petróleo e gás e presidente da Câmara Setorial de Logística do Estado do Ceará (CSLog), Bruno Iughetti, reforça que o preço do diesel alcançou um patamar insustentável ao setor logístico, ficando até mais caro que a gasolina em alguns casos.

"A tabela de frete ainda precisa ser trabalhada, porque não corresponde à necessidade do pessoal que utiliza o transporte rodoviário. E não é apenas sobre o frete em si que o diesel impacta, mas os demais itens que dependem desse transporte, principalmente gêneros alimentícios"
Bruno Iughtti
Presidente da CSLog

No início de março, a Petrobras anunciou reajuste elevou o preço do diesel em 24,9%. Os valores ficaram congelados por 60 dias, mas em maio já sofreram novo aumento de 9%.

Para frear o ritmo exponencial da escalada, ele cobra que o Governo busque fórmulas para amenizar os efeitos das subidas, como subsídios, por exemplo.

Uso de dutos

Outra alternativa viável, segundo o consultor, seria otimizar a utilização dos dutos de transporte de combustíveis da Petrobras, que hoje operam com apenas 50% da capacidade em alguns casos.

Permitindo que as distribuidoras utilizem essa malha, o custo do transporte reduziria, podendo retirar cerca de R$ 0,30 no valor do litro do diesel.

"Evidentemente, seria estabelecido uma taxa para a movimentação dos combustíveis pelos dutos, o que recai em benefício sobre o preço final, porque haveria maior concorrência nesse transporte", esclarece Iughetti.

Para isso, no entanto, a regulamentação do setor precisaria ser adaptada para permitir esse tipo de negociação, além de requerer possíveis investimentos na ampliação da malha de dutos, hoje concentrada especialmente no Sudeste e Centro-Oeste. No caso do Ceará, já há instalação da Petrobras em São Gonçalo do Amarante com dutos disponíveis.

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