Os preços dos combustíveis no Brasil, e no Ceará, assustam os motoristas, mas parecem que não têm sido suficientes para reduzir o consumo — considerando gasolina e diesel — no primeiro trimestre de 2022.
Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), os volumes vendidos pelas distribuidoras no Estado tiveram aumento para os dois derivados de petróleo, superando os níveis de 2019 e 2020.
Para a gasolina, na comparação entre o primeiro trimestre de 2021 e igual período de 2022, o aumento do consumo foi de 5,8%, considerando o período entre janeiro e março.
Neste ano, de acordo com a ANP, foram repassados pelas distribuidoras 321,4 mil metros cúbicos (m³) de gasolina, contra 303,8 mil m³ em 2021. Já em 2020, foram consumidos 316,9 mil m³ de gasolina no Ceará.
A Agência também registrou aumentos, ainda que menores, para o diesel. O patamar de consumo do óleo combustível em 2022 superou os dois anos de pandemia (2021 e 2020) e ainda o patamar pré-covid registrado em 2019.
Nos três primeiros meses deste ano, as distribuidoras cearenses revenderam 255,3 mil m³ de diesel, o que representa uma alta de 0,38% em relação a 2021, quando foram repassados 254,3 mil m³. Já em 2020, foram 240,7 mil m³. E, em 2019, 236,4 mil m³.
De acordo com Bruno Iughetti, consultor em petróleo e gás, o aumento do consumo de combustíveis vieram apesar dos altos patamares do preço de revenda nos postos por conta de uma demanda represada durante o período da pandemia.
Além, disso, as recentes elevações do preço do etanol — conhecido como alternativa à gasolina e ao diesel — também pode ter ajudado no crescimento da demanda pelos combustíveis convencionais.
"Eu acho que houve um efeito de represamento de consumo durante a época da pandemia, e agora com a abertura, os níveis de consumo tendem a ficar em linha com os números antes da pandemia. Isso explica parte da variação, e houve também uma alta de preço de etanol hidratado por conta da demanda externa", disse Iughetti.
"Então os preços da abertura gradual, com preços sendo transferidos para o etanol, fazem com os combustíveis tenham uma retirada em alta geral observada nas distribuidoras", completou.
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Para Ricardo Coimbra, economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia no Ceará (Corecon-CE), esse aumento da demanda por combustíveis também tem relação com a retomada da economia e o retorno ao trabalho presencial de muitas atividades que estavam em home office.
"Esse aumento de demanda nesse começo do ano estão relacionados ao crescimento das atividades econômicas, com as pessoas deixando de trabalhar em home office para retornar ao escritório, aí temos um crescimento de demanda e até dos congestionamentos. Então mesmo com um aumento significativo dos preços dos combustíveis, você acaba tendo um crescimento de demanda", explicou.
Considerando esse cenário, Coimbra ainda projetou que o consumo de gasolina e diesel deverá continuar em alta nos próximos meses, apesar dos preços em patamar histórico de revenda nos postos.
"E isso deve permanecer nos próximos meses visto que outras atividades estão tendo crescimento de retomada, como entretenimento, turismo. Vamos entrar em um período de férias então a movimentação de turismo deve aumentar. A partir do momento que temos essa retomada de serviços e logística, indústria e outros setores, temos esse aumento no consumo", comentou.
Para tentar evitar os impactos financeiros pelos níveis altos de consumo em um momento de preços elevados, Coimbra destacou que os motoristas podem replanejar trajetos e pensar modais alternativos, como caminhadas e bicicletas.
Além disso, há a possibilidade de buscar veículos híbridos, movidos a gasolina e energia elétrica, por exemplo, para os consumidores com mais espaço no orçamento.
"Fica difícil porque o combustível tem uma demanda inelástica e o próprio etanol está com preço bastante elevado pelos níveis de demanda do mercado externo, e porque os níveis de produção não vem acompanhando o crescimento da demanda, então temos essa demanda represada", disse o economista.
"Importante também sempre analisar os preços, analisando aquela conta de 70% dos preços entre gasolina e álcool, mas a tendência é, no futuro, termos a utilização de veículos híbridos, com a energia elétrica, mas isso pode demorar um pouco aqui no Brasil", completou.