Para economizar, consumidores trocam supermercados por compras online para itens de 1ª necessidade

Itens não perecíveis e com prazos de validade extensos, como higiene e limpeza, são cada vez mais procurados em plataformas online

Escrito por Carolina Mesquita ,
Legenda: Especialista revela que cerca de 70 milhões de brasileiros passaram a fazer compras online nos últimos três anos
Foto: Jirapong Manustrong/Shutterstock

A forte inflação dos últimos meses, que chega a 10,17% em um ano em Fortaleza, tem despertado a criatividade das famílias. Buscando preços mais baixos e economia, os consumidores estão preferindo pedir itens do dia a dia, como cosméticos, produtos de higiene e limpeza, pela internet.

O abatimento pode chegar a quase 50% em relação aos preços praticados em lojas físicas convencionais, conforme indica a experiência da população.

É o que indica a tradutora Michelle Lebowe. Há anos ela já compra produtos de marcas específicas para cabelos e pele pela internet. Além do preço mais baixo, a facilidade de encontrar os itens em lojas online na comparação com a disponibilidade em estabelecimentos físicos é um dos atrativos.

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Ela detalha que um hidratante facial de R$ 150 nas farmácias pode ser encontrado por R$ 120 na internet. Em alguns casos, comprando kits, um dos produtos pode até sair "de graça". "O kit com shampoo, condicionador e óleo foi R$ 150. Em loja (física), só o shampoo e condicionador é mais que isso", ressalta.

A compra mais recente de Michelle foi uma panela de pressão elétrica por R$ 360. Em suas pesquisas, a tradutora encontrava o mesmo produto por até R$ 700 em lojas convencionais.

Além das pesquisas por conta própria, ela revela que participa de vários grupos que divulgam promoções. A partir das dicas, ela avalia o que está precisando comprar e se possui disponibilidade no orçamento para a compra.

As compras online da tradutora, moradora do município de Eusébio, se intensificaram durante a pandemia, quando os serviços de entrega passaram a ter melhor cobertura na região onde reside.

Ela desabafa que, antes, precisava dar o endereço de amigos que moram em Fortaleza para a entrega, pois as transportadoras não chegavam até ela.

"A única coisa que chegava aqui eram as contas. Não tinha entrega de supermercado, as plataformas diziam que não tinham achado o endereço. Com a pandemia, isso mudou e facilitou muito", comemora.

Orçamento apertado

O analista de gestão, Leandro Perruci Ribeiro, passou a comprar itens do dia a dia em plataformas online no ano passado, motivado pelo aumento generalizado nos preços.

O foco dele e da noiva, com quem mora, é o segmento de higiene e limpeza, em que eles identificaram um peso significativo nas compras.

"A inflação pegou e a gente foi buscar alternativas. Minha noiva tem acompanhamento de páginas de promoção e a gente costuma comprar quando é quantidade maior. Normalmente, a gente compra sabão em pó, sabão líquido, amaciante, e a gente compra aquelas embalagens maiores", relata.

Dessa forma, ele indica que a reposição é feita uma vez por mês ou a cada dois meses, dependendo de quando o produto acaba e da disponibilidade de ofertas.

A gente substituiu quase tudo da loja física. Como compramos em quantidade, dá tempo achar promoção novamente. A gente praticamente não utiliza mais a loja física pra essas coisas".
Leandro Perruci Ribeiro
Analista de Gestão

Sobre a economia, Leandro estima que consegue pagar de 20% a 30% menos pelos mesmos produtos comprados pela internet.

"É uma economia bem boa. Como esses produtos são mais caros, na compra do mês ou semanal que a gente faz pesa menos, fica um pouco melhor", afirma.

Ele também indica que pretende continuar utilizando essa estratégia e até ampliar o leque de produtos adquiridos online caso identifique situações que valham a pena.

Mudança de mercado

O professor da Faculdade CDL e da Unichristus, Christian Avesque, explica que a pandemia gerou três tendências principais de mudanças no consumo em lojas físicas e online.

O primeiro deles é a queda da barreira entre concorrência direta e indireta. Isso significa que, atualmente, todos os pontos da cadeia, seja na esfera do atacado ou do varejo, concorrem pelo mesmo consumidor final.

"A concorrência não é mais setorial. Na linguagem popular, é todo mundo furando o olho de todo mundo. É a indústria, o atacadista, o varejista, querendo vender pro consumidor final", afirma.

Além disso, o consumo ficou mais funcional, de forma que a população identifica os produtos com desempenhos semelhantes e decide pelo máximo de benefício com o menor custo.

O segundo bloco diz respeito à digitalização do público. O especialista revela que cerca de 70 milhões de brasileiros passaram a fazer compras online nos últimos três anos.

Estando mais inserido no ambiente virtual, o consumidor passa a conhecer mais e melhor as opções de compras disponíveis, gerando uma queda na fidelização às marcas e lojas, por exemplo.

"Com mais produtos substitutos, ficamos menos vinculados a uma marca, mas sim ao custo benefício. A gente compara preço, rendimento, volume, desempenho, durabilidade, e faz uma conta se vale a pena puxar o nível de preço para cima ou para baixo", esclarece Avesque.

O professor universitário também ressalta que a compra para estocar, por volumetria, é um dos aspectos que proporciona a competitividade dos valores virtuais, mesmo princípio que garante o sucesso dos atacarejos.

O terceiro bloco que tem impulsionado a competitividade do ambiente virtual é a crise econômica e pode gerar três comportamentos diferentes ao consumidor:

  1. Intensidade da compra: se o consumidor percebe que a crise é momentânea e não intensa, ele diminui a cesta de compra, mas não troca produtos
  2. Marcas de segunda linha: se a crise é de tempo médio e intensidade maior, o consumidor mantém o volume da cesta de compra, mas migra para marcas de segunda linha
  3. Corte na cesta: se a crise é longa e muito intensa, além da redução do volume da cesta de compra, o consumidor troca os produtos por subprodutos, suficientes apenas para garantir a sobrevivência

Avesque ainda comenta sobre os grupos de divulgação de promoção. Ele ressalta que as redes sociais reforçam o comportamento de filiação não pela marca, mas pelo custo benefício.

"Isso não é algo que começou agora, mas com os buscadores de preço, com as plataformas C2C. Se o consumidor tempo para pesquisa, conhece a ferramenta e tem informação da categoria, ele vai migrar de marca o máximo que puder", explica.

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