Inflação faz setores que 'bombaram' no início da pandemia perderem fôlego

Além da demanda sazonal, a redução do poder de compra dos consumidores em razão da inflação puxou o declínio de alguns segmentos

Escrito por Bruna Damasceno , bruna.damasceno@svm.com.br
Consumiddores andam na praça do ferreira
Legenda: A tendência agora é que a demanda reprimida por serviços e lazer ganhem fôlego
Foto: Helene Santos / SVM

A situação emergencial de confinamento devido à pandemia de Covid-19 impulsionou os mercados de móveis, eletrônicos, itens para reformas residenciais, entre outros. Aquecidos nos últimos dois anos, agora esses setores começam a esfriar em razão da crise econômica e da inflação, além da mudança de comportamento do consumidor. 

Para se ter ideia, no Brasil, a produção de móveis, que disparou 29,5% até maio de 2021, caiu 19,2% em igual recorte deste ano, segundo a Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel)

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Já as comercializações de eletrônicos despencaram 19% nos primeiros cinco meses de 2022, quando comparadas com o mesmo período do ano anterior, conforme mostram os dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros).

Pressão inflacionária

O economista e conselheiro regional de economia (Corecon), Wanderberg Almeida, observa que, a partir de 2020, houve pressão da demanda para a adequação e o conforto de toda a família em casa e, também, de um ambiente ergonômico para o trabalho remoto. 

“Mas percebi uma variação do preço de produtos por não termos insumos o suficiente, fazendo com que o valor de alguns produtos aumentasse. Isso acabou afastando o consumidor que realizava essas compras”, observa. Nesse contexto, explica, os compradores passaram a priorizar outras aquisições.

Além do encarecimento desses produtos, a alta generalizada dos alimentos diminuiu o poder de compra da população. Almeida acrescenta que a oscilação cambial também refletiu no custo da indústria, enquanto o aumento dos juros impactaram o crédito. 

“A inflação também está corroendo o orçamento do consumidor, reduzindo o interesse de consumir alguns produtos”, destaca. 

O presidente executivo da Eletros, Jorge Nascimento, reitera que a conjuntura socioeconômica contribuiu para o declínio.“Nossos resultados estão diretamente vinculados ao poder de compra da população, que vem sendo prejudicado pela inflação alta, que diminui a renda das famílias", aponta.

"E o aumento na taxa de juros que eleva as restrições e inibe o consumidor a buscar crédito para adquirir nossos produtos. O dólar acima de patamares desejáveis também dificulta”, completa. Nascimento avalia que, com o arrefecimento da crise sanitária, o setor passou a disputar parte dos rendimentos das famílias com os serviços.

“Na pandemia, apesar de um período caótico registrado nos primeiros meses, não apenas recuperamos as vendas, como registramos resultados surpreendentes. O isolamento fez com que o consumidor investisse em melhorias no lar”, lembra. 

A principal queda registrada foi na comercialização de ar-condicionado, com retração de 36% entre janeiro e maio de 2022, na comparação com o mesmo período do ano passado. Contudo, a Eletros projeta que a chegada do 5G volte a impulsionar o setor, com lançamentos em séries de produtos conectados. 

Movimento inverso 

O economista a professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Ricardo Coimbra, lembra que alguns segmentos acumularam perdas no início da pandemia, mas outros ganharam fôlego, como os supermercados, as farmácias e o delivery. 

Contudo, com a reabertura das atividades, a demanda foi sendo redirecionada para mercados que estavam quase estagnados.

“Segmentos relacionados com os serviços vêm crescendo de forma significativa, bem como bares, restaurantes e entretenimento com o contato direto com o público. A tendência de crescimento é maior dessa parte relacionada com o lazer e com o turismo”, prevê. 

 

 

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