Com prejuízo líquido histórico de R$ 934,1 milhões, Aeris mira em exportações para sair de crise eólica

Apenas no 4º trimestre de 2024, montante foi de 833,1 milhões, impactado pelo final de três grandes contratos com as empresas Siemens Gamesa, Nordex e Weg

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br
Complexo produtivo da Aeris no Pecém
Legenda: Complexo produtivo da Aeris no Pecém
Foto: Divulgação

A cearense fabricante de pás eólicas Aeris Energy registrou prejuízo líquido de R$ 934,1 milhões em 2024. Deste montante, R$ 833,1 milhões foi no quarto trimestre (4T24), conforme os resultados divulgados nesta semana. Na comparação com o mesmo período de 2023 (R$ 63,9 milhões), o prejuízo aumentou 1.204,7% no quarto último trimestre e 776,5% no total do ano, já que em 2023 o valor foi de R$ 106,6 milhões.

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O resultado trimestral negativo tem como base a redução no valor recuperável dos ativos, ou seja, como se usa no mercado, do “impairment” de R$ 751 milhões, ocorrido pela perda de três grandes contratos com as empresas Siemens Gamesa, Nordex e Weg.

A relação com os clientes é muito boa. O fim dos contratos ocorreu por uma questão de demanda. Temos certeza que assim que retomar (o aquecimento do mercado eólico), a Aeris estará no campo de visão destes players”.
CEO Aeris Energy
Alexandre Negrão

Ainda do total da baixa contábil, R$ 505,4 milhões são referentes a estoques, R$ 213,2 milhões a provisões para perdas, e outros R$ 32,3 milhões foram apontados como intangíveis. Esta última cifra tem relação com um projeto encerrado em que foram entregues somente 440 pás das 1.168 inicialmente previstas.  

Mais números negativos

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, sigla em inglês usada no mercado) no 4T24 também foi negativo (R$ 1,6 milhão), já no mesmo período de 2023 havia sido positivo de R$ 34 milhões. No somatório do ano de 2024, a queda foi de 58% quando comparado a 2023, ou seja, desceu de R$ 330,3 milhões para R$ 138,8 milhões.

Ainda considerando todo o ano passado, a receita líquida (R$ 1,52 bilhão) teve redução de 46,5% em comparação a 2023 (R$ 2,83 bilhões). Já se olharmos apenas para o último trimestre do ano, a queda é ainda maior e chega ao índice de 69,9%, também se considerarmos o ano retrasado. Foram R$ 211,4 milhões ante R$ 702,7 milhões.

O que está sendo feito para mudar o quadro

Na apresentação dos resultados, o diretor Administrativo Financeiro e de Relações com Investidores da Aeris, José Azevedo, explicou que a empresa está realizando a renegociação das dívidas, como medida para garantir a liquidez necessária.

Estamos buscando o alongamento dos prazos e a revisão dos ‘covenants’ financeiros, com expectativa de conclusão com sucesso até o final do 1T25”. 
CFO Aeris Energy
José Azevedo
 

Ele afirma ainda que a Aeris está trabalhando com um prazo de retomada previsto para 2027 e 2028. 

No mercado nacional, em parceria com as associações brasileiras de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica) e da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a empresa tem feito tratativas com o governo federal. A intenção é incentivar leilões de energia eólica e a implementação de uma alíquota compatível com o mercado para a importação de componentes e aerogeradores.

Conforme o CEO Alexandre Negrão, além do PLD (Preço de Liquidação das Diferenças), cálculo que determina o preço da energia elétrica no Mercado de Curto Prazo, mais alto, em 2024 foi prospectado um incentivo maior do Fundo Clima do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), com taxas mais atrativas para o setor eólico.

“Porém, não acredito em um boom eólico, mesmo com a chegada de data centers e do hidrogênio Verde (H2V). A (energia) solar está tomando muito o mercado da eólica no Brasil. Então, mesmo passando a fase baixa em 2025 e 2026, não devemos ter mais 4 ou 5 giga/ano (como se teve no auge do processo). Acredito que teremos uma média de 2,5 a 3 giga/ano em 2027, na retomada”, comenta Negrão.  

Exportações são foco da empresa

Um dos pontos positivos nos resultados de 2024 foi o aumento de exportações. A empresa saiu de R$ 5 milhões no terceiro trimestre de 2024 (3T24) para R$ 67,2 milhões, representando 31,8% da receita líquida do último trimestre de 2024, e um crescimento de 1.235% em relação aos três meses anteriores.

“Apesar dos desafios do mercado interno, conseguimos ampliar nossa atuação internacional e reforçar nossa posição como fornecedor global de pás eólicas, aproveitando muito a demanda externa e o crescimento do mercado de manutenção e serviços no exterior. A tendência é que essa participação siga crescendo nos próximos anos”, afirma José de Azevedo.

Sobre os mercados mirados pela companhia está, principalmente, os Estados Unidos. Porém, outros países da América Latina, como Argentina, Guatemala e México também estão sendo trabalhados. 

O mercado norte-americano deve ser um dos principais vetores de crescimento, com novas oportunidades de negócios impulsionadas pelo fortalecimento da energia renovável na matriz energética global.

“A nossa estratégia de internacionalização, que intensificamos em 2024, abre um caminho sólido para os próximos anos. Estamos preparados para aproveitar as oportunidades do setor eólico global e expandir nossa atuação de forma sustentável”, reforça Azevedo.

Já o mercado europeu, conforme Negrão, esbarra nos custos de transporte para que a Aeris consiga ser competitiva. “Temos conversas com a Europa, mas sabemos que é um mercado menos acessível por conta da distância, já que no nosso negócio o transporte é crucial”.

Serviços são destaque positivo

A unidade de serviços da empresa foi destaque positivo no último trimestre de 2024. A Aeris esperava um crescimento de cerca de 5% no 4T24, mas obteve 30%. Assim, o ano fechou com crescimento de 10%. O setor, atualmente, atende além do Brasil, Estados Unidos e América Latina.

Com os investimentos que estão sendo feitos nessa área a empresa acredita que em um futuro breve os serviços poderão representar entre 20 e 30% da receita da Aeris. São apontados mais serviços em máquinas novas, com potência maior, como também em máquinas com pás antigas que precisam de manutenção alta. Nesse último caso, ocorre principalmente nos Estados Unidos.

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