O que esperar do Tesouro Direto em 2022
A alta da Selic irá impactar diretamente na rentabilidade de alguns títulos, que podem oferecer lucros de dois dígitos no ano que vem
Após um 2020 de fuga da renda fixa devido à baixa rentabilidade de investimentos atrelados à Selic, essa categoria tem se tornado mais atrativa à medida que a taxa básica de juros segue uma trajetória de alta desde março deste ano. O Tesouro Direto não foge dessa lógica.
Todos os títulos do Tesouro Direto tiveram algum ganho na rentabilidade ofertada em 2021 em relação a 2020. Essa tendência de alta é esperada ainda durante o primeiro trimestre de 2022, mas as taxas devem continuar vantajosas ao longo de todo ano para pré-fixados e Tesouro Selic.
Veja também
Os títulos de Tesouro IPCA+ podem ter queda diante de um arrefecimento da inflação no ano que vem. Mesmo assim, eles garantem o poder de compra do investidor, desde que o resgate dos aportes seja feito apenas nos vencimentos.
Apesar de a rentabilidade dos títulos ter aumentado, a analista de investimentos da Rico, Paula Zogbi, alerta que o preço no mercado secundário caiu, o que pode trazer prejuízos para quem queira vender antes do vencimento.
“Quando a gente vê uma alta na taxa básica de juros e um aumento do risco fiscal, as taxas dos títulos do Tesouro também sobem. Um título que pagava 5% ao ano, hoje paga cerca de 11% ao ano. Quando a taxa sobe muito, o preço desse título cai no mercado secundário, para quem quer vender antes do vencimento”, contextualiza.
Cenário vantajoso
O Tesouro Selic é um título do Tesouro Direto que rende o equivalente a 100% da Selic. A opção não era a mais lucrativa quando a taxa básica de juros estava na mínima histórica, em 2% ao ano, mas está em bons patamares com a Selic a 9,25%.
A previsão do último boletim Focus é de que a Selic feche 2022 em 11,5%, enquanto a inflação deve reduzir ao patamar de 5,03%. Isso significa, na prática, que o investimento no Tesouro Selic renderá acima da inflação, o que protege o dinheiro do investidor.
Paula Zogbi alerta que, apesar de os retornos estarem maiores, o investidor deve sempre prestar atenção à inflação para não perder poder de compra.
Para quem vai investir a partir de agora, a taxa está mais atraente agora do que no começo do ano. Por outro lado, tem uma inflação mais alta. Tem que pensar sempre o rendimento real, quanto vai render acima da inflação
O rendimento de títulos pré-fixados também teve um aumento, decorrente de uma maior percepção de risco em 2021. “Quando o mercado verifica que o cenário de risco do país está um pouco mais ameaçado, tende a exigir um pouco mais de prêmio. Esse ano tivemos um aumento no risco Brasil, então teve um maior retorno nos prêmios”, resume o analista de soluções financeiras da Ativa Investimentos, Rodrigo Beresca.
Atenção aos prazos
Por ser renda fixa, o Tesouro Direto entrega ao investidor exatamente a rentabilidade que foi prometida no momento do aporte. Isto é: desde que o dinheiro seja mantido nos títulos até o vencimento.
Paula Zogbi afirma que o começo de 2022 pode ser um bom momento para entrar no Tesouro para quem pretende negociar no mercado secundário, já que uma possível redução da inflação pode garantir lucros mesmo com a venda antes do prazo.
“Se a taxa cai, o preço sobe e você ganha mais dinheiro no curto prazo. Pode acontecer porque a inflação continua pressionada”, diz.
A recomendação de Rodrigo Beresca é apostar em títulos com taxas flutuantes e só investir em pré-fixadas quando houver intenção de manter o dinheiro até o fim do prazo.
A gente tem uma volatilidade bem grande, se o investidor quiser vender antes do prazo pode ter prejuízo. Se a estratégia do investidor for fazer aplicação e manter até o vencimento, é interessante também
Onde investir?
A escolha de qual título investir depende substancialmente do objetivo do investidor e do tempo em que ele pretende retirar os recursos.
“A gente tem exposição a vários títulos no tesouro direto. No curtíssimo prazo, o tesouro Selic é o mais indicado. Caso você pense ganhar dinheiro com venda antecipada, pré-fixado 2024 é a melhor opção”, aponta Zogbi.
Para quem quer ingressar no mercado, Beresca recomenda buscar um assessor credenciado em órgãos regulatórios para que seja dada a orientação ideal.
“Deve conhecer perfil de investidor, se é mais conservadora ou arrojada. Deve entender sua necessidade de liquidez, se precisa sacar a qualquer momento ou pode deixar em um prazo mais longo”, acrescenta.
Veja onde investir:
- Tesouro Selic: indicado para quem quer fazer reserva de emergência, devido à possibilidade de sacar os recursos a qualquer momento.
- Tesouro IPCA+: Por ser atrelado à inflação, é uma boa opção para médio e longo prazo, já que protege o poder de compra do investidor. Paula Zogbi não recomenda, contudo, os títulos de longuíssimo prazo, devido à dificuldade de prever o cenário futuro.
- Tesouro pré-fixado: Boa opção para investimentos de curto prazo, desde que mantido até o vencimento. Não é recomendado no momento para investimentos de longo prazo, já que o valor no mercado secundário pode mudar.