Tesouro Direto desvaloriza no começo de 2021; ainda vale a pena investir?

Com alta da taxa básica de juros pelo Banco Central, os títulos do Tesouro Direto acabaram perdendo valor. Economistas ainda apontam potencial destes investimentos

Escrito por Samuel Quintela , samuel.quintela@svm.com.br
Legenda: Movimentações de mercado geraram quedas de até 14% no rendimento de títulos do Tesouro Direito segundo um levantamento do jornal Valor Econômico
Foto: Foto: Fernanda Siebra

Com a economia se ajustando à nova realidade imposta pela pandemia, os títulos do Tesouro Direto se desvalorizaram frente a queda da taxa de juros, mesmo com o último aumento da Selic e por questões no mercado internacional. Contudo, apesar das potenciais perdas, economistas avaliam que este investimento em renda fixa ainda pode dar bons retornos se houver planejamento. 

Mas como um título de rendimento fixo pode poder valor? A justificativa tem relação com a marcação a mercado, que funciona como uma sinalização para ajustar os retornos a partir da emissão de novos títulos. O sistema é feito para equiparar rendimentos no caso de novos títulos no mercado. 

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Por exemplo, se um você contratou um ativo com rendimento de 10% ao ano, e o Governo emite um novo título com rendimentos de 12% ao ano –  considerando que tenham havido reajustes na Selic – o seu investimento deve perder valor no mercado secundário. Ou seja, se houver a intenção de vender o título, a pessoa que comprar poderá pagar um valor menor do que você investiu no passado, já que existem títulos que rendimento melhor no mercado. 

Como o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) estipulou o aumento da Selic em 0,75% na última reunião, já prevendo uma nova alta de 0,75%, os novos títulos atrelados à taxa básica terão uma remuneração de 3,5%. Em comparação com títulos emitidos nos últimos 12 meses, quando a Selic estava em 2%, deverá haver uma valorização dos novos títulos e desvalorização dos antigos. 

Além disso, o aumento da taxa de juros do equivalente aos títulos do Tesouro nos Estados Unidos também acabou pressionando os rendimentos desse tipo de renda fixa no Brasil. 

Essa movimentação gerou quedas de até 14% no rendimento de títulos do Tesouro Direito, segundo um levantamento do jornal Valor Econômico. 

A lista de perdas é liderada pelo Tesouro IPCA+ 2045 (-14,15%), e seguida pelo Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2031 (-12,43%), Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2029 (-11,42%), Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055 (-9,46%), e outros. 

Rendimento garantido 

Contudo, segundo o presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE) o investidor não precisa se preocupar tanto com essas flutuações se houver um planejamento de longo prazo para garantir bons níveis de rendimento. Ele comentou que uma das estratégias para não depender tanto das alterações da taxa Selic é comprar títulos em momentos diferentes, fazendo que com a taxa média gere compensação por possíveis quedas. 

"As pessoas que compram título público na perspectiva de fazer uma aposentadoria, ela vai observar nas aplicações que aqueles períodos lá atrás ele vai ter um retorno maior, mas, na média, a pessoa pode ter um retorno favorável mesmo que com as alterações da Selic. Fazer uma taxa média é muito interessante para ter períodos de taxas baixas e elevadas para compensar essas alterações", disse. 
Ricardo Coimbra
presidente do Corecon-CE

O economista também ponderou que, dependendo do momento da contratação do título, mesmo que a Selic chegue a 3,5%, a queda do potencial de ganho não é tão considerável, o que pode dar mais tranquilidade aos investidores. Coimbra ainda destacou que as pessoas que adquiriram títulos antes de maio de 2020 ainda poderão ter rendimentos maiores no caso de terem comprado títulos pré-fixados. 

Isso porque, até maio de 2020 a taxa Selic ainda estava em 3,75%. 

"A perda de potencial é tão significativo? Dependendo do que se tinha investido pode ser que seja uma certa quantia, então isso irá aumentar no longo prazo, mas não será uma quantia significativa. Se você observar, a gente tem uma certa variação, sim, partir dessa última alta de 0,75% e devemos ter uma nova alteração da Selic, que deve chegar em 3,5%. Mas isso vai depender de quando a pessoa fez a aquisição do título. Se a pessoa fez há mais de um ano, talvez ela sinta redução de ganhos.

Pré-fixado e pós-fixado 

Para compreender o rendimento dos títulos de renda fixa atrelados à Selic, quando um título é pré-fixado, o rendimento será estipulado pelo valor da taxa básica de juros no momento da emissão daquele título. Se a Selic estiver a 3,5% e o vencimento for em 2050, você terá esse rendimento garantido. 

Se o título for pós-fixado, o rendimento do título deve acompanhar os ajustes da Selic até o momento do resgate do investimento. Se o Copom alterar a Selic, o rendimento também é atualizado, para cima ou para baixo. 

Outro exemplo de título pós-fixado são aqueles que acompanham a inflação do País, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Observando tendências 

Para ajudar o investidor a escolher o melhor título para investimento, o economista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Allisson Martins, afirmou ser preciso entender o perfil e estratégia que melhor se adequar a cada um. 

Segundo ele, é preciso avaliar o montante que se pretende investir e o tempo previsto do resgate. 

Além disso, Martins comentou ser muito importante acompanhar as análises do Boletim Focus, divulgados a cada segunda-feira pelo Banco Central. No relatório, segundo ele, é possível ter previsões do mercado para se avaliar qual o melhor momento para se contratar um título pré-fixado ou pós-fixado. 

"Uma boa ferramenta que temos para acompanhar são as notícias de jornal. Mas o principal instrumento é o Boletim Focus, em que todos os agentes do mercado financeiro sinalizam as tendências das taxas. É quase uma consultoria gratuita ali. Eles projetam o que o mercado está vendo para frente e é um bom parâmetro para definir estratégias de investimento. Apessoa tem de acompanhar o mercado. Agora, o Tesouro tem uma volatilidade muito menor do que outros ativos, como ações, então ele requer uma atenção menor do que as opções de renda variável", explicou. 

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