Renda fixa ou variável: onde investir com a alta dos juros

De acordo com os especialistas é preciso considerar os resultados de cada investimento e os juros reais, mesmo com a Selic a 2,75% e com previsões de novas altas. Mas eles também destacaram algumas categorias na renda fixa

Escrito por Samuel Quintela , samuel.quintela@svm.com.br
Juros Selic
Legenda: Na lista do Banco Mundial, o spread bancário brasileiro foi superado apenas por Zimbábue e Madagascar
Foto: Shutterstock

Com a última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, de elevar a Selic, taxa básica de juros brasileira para 2,75% no dia 18 de março, os investidores no País passaram se perguntar se os investimentos em renda fixa voltaram ter destaque no mercado financeiro. Para os economistas, a atualização dos juros no País não deve mudar muito o perfil de aportes para quem busca bons rendimentos

Para o economista e presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, a decisão do Copom, de fato, muda um pouco do potencial dos investimentos em renda fixa, o que deve aumentar o interesse das pessoas com perfil mais conservador.

Contudo, ainda é muito difícil comparar com o potencial dessas categorias de investimento ante outros períodos históricos do Brasil. 

Veja também

Tipos de renda fixa

  • Tesouro direto
  • Certificado de Depósito Bancário (CDB) 
  • Certificado de recebíveis imobiliários ou do agronegócio (CRI e CRA)
  • Debêntures
  • Letras de crédito imobiliário ou do agronegócio (LCI ou LCA)
  • Títulos públicos federais 

Ele fez referência ao período de janeiro de 2014 a maio de 2017, quando a Selic estava acima do patamar de 10%, chegando ao pico de 14,25%. 

Coimbra ainda ponderou que, mesmo com as sinalizações do Copom para novo aumento de 0,75% na Selic, a renda fixa não deverá sofrer uma grande mudança quanto aos regimes de rendimento, fazendo com que a renda variável ainda seja apontada como tendo o maior potencial de retorno. 

"Se a gente observar, ainda é um patamar baixo (para a Selic), mas devemos ter um novo aumento e, com isso, a taxa básica fica mais competitiva para se buscar em vez de investir na poupança. Quando tivermos uma nova reunião do Copom, com nova alta de 0,75% podemos ter uma procura ainda maior das pessoas com perfil mais conservador, porque ela começa a ser uma boa opção para quem quer investir em renda fixa, tanto para os investidores individuais quanto para pessoas de fora do país", disse Coimbra. 

Investimentos para observar

A opinião é corroborada pelo economista Alex Araújo, que também apontou a renda variável como a opção de maior potencial de retorno no momento. Ele comentou que os investidores podem encontrar boas opções em fundos de investimentos ou até no mercado de ações. 

Ele destacou que, apesar da alta da Selic, é sempre preciso considerar os juros reais ao se planejar os retornos para os investimentos. Por exemplo, se o você aplicar R$ 1.000 e tiver um retorno de 12% ao ano, você terá R$ 1.120. Contudo, se a inflação daquele ano fechar em 7%, o juro real, na verdade, foi de apenas 5%.

"Uma das novidades é que o BC, além do resultado imediato, sinalizou que há a possibilidade de subir a Selic em 0,75% na próxima reunião, e o mercado incorpora isso nas projeções. Mas para os investimentos de renda fixa temos uma dúvida de como vai ser isso até o fim do ano. Até a reunião do Copom a expectativa era de chegarmos até 4,5% para a Selic, mas agora já podemos esperar que ela pode a 5% ou 6% e isso prejudica os investimentos em renda fixa, considerando o patamar de inflação que temos no Paí", explicou.  

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Legenda: A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial
Foto: Raphael Ribeiro

Araújo, no entanto, afirmou que ainda há boas opções para se considerar na renda fixa, caso a pessoa tenha um perfil mais conservador de investimentos. 

Dicas do momento

  • Títulos atrelados ao IPCA 
  • Debêntures incentivadas (isentas do IR)
  • Tesouro Direto 

Cuidados com a renda variável

Apesar dos investimentos em renda fixa ainda apresentarem um rendimento baixo em comparação com os de renda variável, Alex comentou ser preciso ter muita cautela antes de começar a aplicar recursos no mercado de ações, por exemplo.

Ele destacou que o aumento da taxa de juros poderá ter influência no valor das empresas na Bolsa de Valores Brasileira (B3) e que será preciso reunir informações sobre certos investimentos.

O economista comentou que o investidor precisará fazer análises cautelosas sobre setores e empresas caso considere comprar ações no mercado. 

"A atratividade da renda variável dependia da Selic muito baixa, mas quando se corrige isso os preços das empresas devem ser corrigidos. Apesar da pandemia, segmentos e empresas conseguiram ter rentabilidade acima do cenário negativo então ainda tempo empresas muito boas e que estão aproveitando a demanda do commodities, como mineração, proteína e celulose", disse.

"Mas é obvio que o investimento em renda variável exige muita análise e um cuidado maior do onde se estiver investindo, mesmo que empresas brasileiras estejam aproveitando muito bem o momento para explorar alguns ramos da economia", completou Araújo.

Retomada pela vacinação 

A opinião é compartilhada pelo presente do Corecon-CE, que alertou para a instabilidade do mercado durante os efeitos da crise do novo coronavírus. Segundo Coimbra, será preciso ter muita cautela para investir em rendas variáveis. 

Além disso, o mercado brasileiro, segundo o economista, só deverá apresentar sinais de uma retomada consolidada quando o processo de vacinação avançar em massa pelo País, reduzindo os números de contaminação e óbitos pela covid-19. 

"É cedo projetar como será a evolução dos investimentos em renda variável, que andam instáveis pela pandemia, e vai depender muito da retomada da atividade econômica, das empresas se recuperarem. Se o mercado conseguir enxergar que teremos uma recuperação da econômica no segundo semestre, podemos ter uma tendência de aumento dos investimentos na renda variável e na Bolsa de Valores. Mas tudo isso dependerá da vacina, e da redução dos casos. Nesse momento, a vacinação é ponto-chave para economia como um todo", explicou Coimbra.

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