Número de investidores mirins cearenses cresce mais de 5 vezes; veja dicas para incentivar crianças
Já são 939 investidores mirins no Estado, contra apenas 172 em 2019
Para além da poupança, outros investimentos têm se popularizado no Brasil nos últimos anos e o perfil de quem investe também está se diversificando em termos de idade. De acordo a B3, o número de investidores brasileiros com menos de 18 anos cresceu mais de 11 vezes entre 2019 e 2023, considerando dados até junho deste ano.
No caso dos cearenses, já são 939 investidores mirins neste ano, contra apenas 172 de 2019 (antes da pandemia), um aumento de mais de 5 vezes. A popularização dos investimentos em renda variável vem ocorrendo já há 6 anos, com um pico durante a pandemia.
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Com a Selic na mínima histórica e a baixa rentabilidade dos investimentos de renda fixa, mais investidores partiram para a Bolsa em busca de maiores ganhos. A popularização de conteúdos sobre investimentos nas redes sociais e no Youtube tem chamado crianças e adolescentes para investir desde cedo.
Para especialistas, a iniciação precoce nos investimentos pode ser positiva para o futuro da criança, mas os pais devem estar próximos para ensinar e acompanhar de perto os aportes. O ideal é aliar o poupar e o investir em busca de sonhos de médio e longo prazo, ensinando sobre rentabilidade e risco.
Investindo desde cedo
Aos nove anos, Arthur Vitor Lopes já sabe o que pretende fazer com o dinheiro que investe todos os meses em uma conta digital voltada para crianças: ter sua própria casa e sair debaixo das asas da mãe aos 24 anos.
O pequeno começou a investir no ano passado e junta todos os meses metade da mesada de R$ 50 que recebe da mãe, além de eventuais presentes de familiares. O interesse em investir surgiu após ele fazer um curso de educação financeira para crianças, ministrado pela própria mãe.
“A vantagem é que você consegue ganhar dinheiro. É tipo assim, quando você está investindo você está emprestando dinheiro para o banco, você recebe juros do banco. É tipo quando o banco te empresta dinheiro e você tem que pagar juros para o banco, mas aí é ao contrário”, explica.
Ele planeja no fim do ano conseguir comprar um videogame com seu suado dinheirinho. O sonho para o futuro é conseguir se aposentar cedo e viver de renda.
Meu sonho é ser jogador de futebol. Que quando eu for jogador de futebol eu posso jogar no profissional e ganhar muito dinheiro. E aí eu posso pegar metade desse dinheiro e investir. Aí quando eu me aposentar eu já vou estar 'ricaço' e não vou ter problema nenhum, vou estar vivendo de renda. Aí eu vou poder me aposentar com 40 anos”
A economista Darla Lopes, de 40 anos, mãe do menino, se orgulha do interesse do filho pela temática. Ela ensina sobre investimento para outras crianças e defende que a educação financeira deve ser ensinada desde cedo.
“Já virou algo natural, que é algo que a gente ensina para adultos, o importante não é quantidade, é a recorrência. Tem meio que essa regrinha, de ganhei, preciso investir, desde cedo. A gente adulto tem muita dificuldade porque a gente não aprendeu isso”, diz.
Arthur ainda investe apenas em renda fixa, mas afirma que será em breve um “investidor arrojado”, tendo vontade de comprar ações da bolsa e criptomoedas. O plano é que mãe e filho estudem juntos, para que o pequeno possa investir com segurança.
Incentivo da pandemia
Em 2020, quando começou a pandemia, o estudante João Santiago de Miranda, hoje com 17 anos, estava isolado em casa e, sem poder sair com os amigos, começou a assistir a vídeos no YouTube sobre investimentos.
O adolescente, então com 14 anos, começou a se interessar mais e mais pela temática, passando a seguir influenciadores que falam sobre o assunto e querendo ler livros e fazer cursos de investimentos.
Sua estreia na Bolsa foi aos 14 anos, após ganhar de aniversário um dinheiro para investir.
“Um dia eu cheguei para conversar com meu pai, perguntei se ele me ajudava para começar a investir. Aí eu comecei a estudar mais a fundo, fazer cursos online, li muitos livros, e comecei a investir por curiosidade. Meu presente de 14 anos foi um dinheiro para eu começar a aplicar na bolsa. Eu pedi R$ 100 e meu pai me deu R$ 1.000”, lembra.
Hoje, além das ações na Bolsa, ele investe em fundos imobiliários, fundos no exterior e algumas ações internacionais. De tanto estudar sobre o assunto, o jovem ajuda amigos e familiares a investirem, compartilhando um pouco de seus conhecimentos.
O pai de João, o empresário Marcelo Miranda, de 50 anos, conta que o filho quem toma conta de parte dos seus investimentos hoje.
“O mais legal é que tudo isso começou por iniciativa 100% dele. Nós somos uma família que nasceu dentro de empreendedores, de negócios, me viu trabalhando desde criança, meus primos, meus tios, os avós. Essa iniciativa de começar a investir não foi porque eu disse para ele estudar, ele que trouxe”, conta.
João não tem em mente um objetivo concreto para seus investimentos. Ele planeja poder colher no futuro os frutos do que investe hoje, podendo receber dividendos que serão importantes para cobrir suas despesas no futuro.
Aumento de jovens na Bolsa
O diretor de Relacionamento com Clientes e Pessoas Físicas da B3, Felipe Paiva, conta que o número de investidores na Bolsa cresce de forma acelerada nos últimos seis anos, em todas as regiões do País e em todas as faixas etárias.
Ele destaca que o aumento de crianças e adolescentes na Bolsa sinaliza para uma maior conscientização dos pais, que ensinam sobre educação financeira mais cedo e estudando em busca de maior rentabilidade.
Ver crescer o número de investidores nessa faixa etária também sinaliza que os pais estão iniciando seus filhos mais cedo, com olhar de longo prazo, e trazendo o tema da educação financeira para o encontro da família. Cada vez mais pessoas estão descobrindo que investir na bolsa pode ser para todos”.
Ele ressalta que o Ceará é hoje o 9º estado em volume de recursos investidos na Bolsa, sendo a segunda região que mais cresceu em termos de novos investidores desde 2020 até hoje, uma alta de 133%. Para ele, o potencial de crescimento ainda é grande.
“Temos direcionado esforços para serviços que facilitem a jornada do investidor pessoa física. Intensificamos nossas ações de educação financeira em parceria com o mercado. Lançamos o site de notícias Bora Investir e entramos no TikTok, rede voltada para a população mais jovem, que vem apresentando ótimo engajamento nos conteúdos”, cita.
Como apresentar os investimentos a crianças e adolescentes?
O coordenador do MBA em gestão financeira da FGV, Ricardo Teixeira, destaca que é interessante iniciar as crianças e adolescentes desde cedo no universo dos investimentos. O ideal é que esse ensinamento seja feito de forma didática e adequada de acordo com a idade e com o entendimento de cada criança.
“É muito bacana isso para a criança e adolescente ir aprendendo que tipos de investimentos existem, como você deve se planejar. [..] A partir do momento que você desde pequeno sabe ser investidor, você não vai ter dificuldades na sua vida adulta em fazer escolhas de investimentos”, defende.
Ele afirma que, antes de apresentar os investimentos para as crianças, os próprios pais já devem ter uma vida financeira saudável, aplicando conceitos de educação financeira no dia a dia em casa. Segundo ele, não existe um “valor certo” para começar a investir, mas é importante que aquele dinheiro seja prescindível para a família, não trazendo problemas caso seja perdido.
“Tem que ser com valores pequenos e com responsabilidade. Um ponto importantíssimo é deixar a criança decidir se ela quer correr mais ou menos risco para que ela possa aprender. A criança pode correr risco e aprender com isso e chegar à conclusão do que é melhor”, indica.
O ideal, dependendo da idade, é começar os investimentos ainda na renda fixa, partindo para aplicações com mais risco à medida que a criança demonstre interesse. Outra dica é ligar os investimentos à ideia de sonhos, aliando uma poupança mensal ou semanal à ideia de que aquele dinheiro pode trazer ganhos futuros.