Por que não esperar o dólar abaixo de R$ 4 tão cedo? Entenda

Moeda sofreu desvalorização de mais de 9% nos últimos seis meses, mas novas reduções são vistas com certa cautela por fatores internos e externos

Escrito por Luciano Rodrigues , negocios@svm.com.br
Legenda: Desvalorização do dólar, embora recorde, ainda mantém economistas em alerta.
Foto: Divulgação/Arquivo

A animação de compradores de dólares e de boa parte do mercado financeiro tem por base os números do câmbio neste primeiro semestre de 2023. Desde 2016, a moeda estadunidense - principal reduto de investidores em aplicações dentro ou fora do país - não sofria uma queda tão acentuada.

De janeiro a junho deste ano, o dólar, que rompeu a casa dos R$ 5,40 nos primeiros dias de 2023, já é cotado com frequência abaixo dos R$ 5, uma desvalorização de 9,1%. O prognóstico para o segundo semestre, embora mostre certo otimismo, é visto com bastante cautela por especialistas.

Segundo Breno Cysne, diretor de operações da Sadoc Corretora de Câmbio, a expectativa é que o mercado mantenha a flutuação do dólar entre R$ 4,90 e R$ 5,20, o que faz com muitos brasileiros aumentem a procura pela moeda, sobretudo em investimentos no exterior.

"Minha previsão é que o mercado fique entre R$ 4,90 e R$ 5,20, acho que essa é uma boa cotação, tanto para importadores como para exportadores. Muitos brasileiros também estão dolarizando seu patrimônio no exterior, adquirindo imóveis nos Estados Unidos e Portugal, abrindo contas bancárias no exterior e comprando ações no mercado da bolsa de valores americana. Notamos desde dezembro a grande procura na dolarização do patrimônio", explica.

Já nos prognósticos de Caio Ito, gerente comercial da OuroCâmbio, o dólar deve continuar flutuando, sobretudo com as expectativas pelas aprovações de reformas. A atual tendência de desvalorização da moeda deve fomentar o setor de viagens internacionais.

"Depende muito das aprovações das reformas, mas acredito que a tendência é continuar aumentando, até porque nesse valor fica mais atrativo viajar para fora. A tendência continua sendo de baixa, por volta dos R$ 4,70", avalia o gerente.

Queda comprovada, mas cenário realista

Apesar da redução recorde, o valor da moeda ainda é considerado alto para os parâmetros da economia brasileira. A diminuição aquém da ideal é também um desafio para os especialistas de mercado. Segundo o Boletim Focus, do Banco Central, a previsão é de que o dólar se mantenha na casa dos R$ 5.

Para Ricardo Eleutério, economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), "o dólar foi feito para desmoralizar os economistas" pela imprevisibilidade. Por sofrer interferências de fatores político-econômicos tanto dentro quanto fora do Brasil, a variação da moeda dos EUA é encarada como incerta.

"O dólar está girando hoje em torno de R$ 4,88, se ele descer para R$ 4, é uma redução de cerca de 18%. É uma queda muito forte, acentuada e difícil de acontecer em um espaço breve de tempo. O dólar pode continuar caindo, mas não em uma intensidade dessa magnitude", esclarece o economista.

"Até o final do ano que vem, a previsão de fechamento do dólar é em torno de R$ 5, mas é um chute muito grande fazer previsão de taxa de câmbio, nem os modelos econométricos mais sofisticados podem alcançar sucesso, mas nesse conjunto de análise, o dólar abaixo de R$ 4 é uma possibilidade extremamente remota a curto e médio prazo", completa.

Com as políticas adotadas pela equipe econômica do presidente Lula (PT) nos seis primeiros meses de mandato e os prognósticos de curto a médio prazo, é possível sim se esperar uma redução gradual da moeda estadunidense, aliado a um novo boom de commodities, como pondera Victor Ary, gestor de portfólio da Grifo Asset. Para ele, o Brasil deve ter uma injeção de dólares na economia nos próximos anos.

"Arredondando a política econômica externa do Brasil, somos um país majoritariamente exportador de commodities. Considerando que as commodities, em geral, vêm sofrendo com recuo dos preços, é natural que ocorra uma diminuição das exportações, o que pressiona a entrada de dólares no país e reduz a pressão sobre a valorização do real. Além disso, é importante ressaltar a relevância da teoria de diferencial de juros nessa consideração", pontua.

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