Modernização da agricultura familiar deve incentivar volta de jovens ao campo

Agricultores com idade inferior a 25 anos são minoria, o que traz uma preocupação sobre a manutenção do modelo de produção para as próximas gerações

Escrito por Heloisa Vasconcelos , heloisa.vasconcelos@svm.com.br
Legenda: Boa parte da produção de agricultura familiar na região metropolitana é de coentro e cebolinha
Foto: Kid Júnior

Apesar da importância da agricultura familiar para a subsistência e mesmo para o abastecimento local, há uma preocupação com a continuidade desse modelo de produção para as próximas gerações. 

Não há dados mais recentes sobre a situação no Ceará, mas o Censo de 2017 apontava que apenas 2% das unidades familiares na região metropolitana de Fortaleza possuíam chefes de família com idade igual ou inferior a 25 anos. A maioria absoluta é comandada por chefes acima de 65 anos. 

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Para o secretário-executivo da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), Cacá Pitomba, é necessário que haja uma modernização nas práticas utilizadas no campo a fim de incentivar os jovens a ficarem.  

Segundo ele, a SDA busca desenvolver iniciativas para incentivar a presença dos mais jovens no campo, como é o caso do projeto São José, que dá apoio a jovens das comunidades rurais. 

Jovens na agricultura 

Cacá não percebe que tenha havido uma mudança nas práticas da agricultura familiar com a pandemia, mas o perfil dos agricultores tem mudado lentamente ao longo dos anos. 

No censo da agricultura familiar de 2017, a região metropolitana de Fortaleza possuía 28.113 unidades agricultoras familiares. Em Fortaleza, eram 244 unidades.  

“De 244 unidades de produção familiar em Fortaleza, apenas duas são de jovens menores de 25 anos. Nossas grandes preocupações tem sido a mudança no perfil rural, a juventude quando tá ficando já fica em outros serviços”, afirma.  

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Ele reforça que há uma predominância de chefes de família acima de 65 anos no meio rural, o que traz uma preocupação sobre a continuidade da agricultura familiar. Segundo ele, uma boa parte das pessoas já não desenvolvem agricultura como atividade principal. 

As unidades familiares com chefe de família abaixo de 25 anos não chegam a 2%. Tem um nível bem elevado com chefes acima de 65 anos, aposentados que continuam a frente isso. É um item que a gente vem refletindo, a gente vai conviver com essa redução drástica da camada mais jovem na agricultura
Cacá Pitomba
secretário-executivo da SDA

A assessora de desenvolvimento de agricultura familiar da SDA, Neyara Lage, considera que há um déficit de trabalho no campo, o que afasta os mais jovens. Ela aponta que a agricultura familiar não é apenas sobre o plantio e cultivo, mas envolve também pecuária e serviços. 

Legenda: Outras atividades para além do plantio entram na agricultura familiar
Foto: Kid Júnior

“Uma boa parte das pessoas já não desenvolvem agricultura como atividade principal, tem visualmente um déficit de trabalho. Tem um desafio nosso de manter os jovens no campo com tecnologias avançadas”, diz. 

Cacá defende que é necessária uma modernização no campo para manter os jovens, tornando a atividade perene para as próximas gerações. 

“Acredita-se que a juventude tendo boas condições de permanência na área rural, ela fique. Mas acreditamos também na modernização, nas áreas mais desenvolvidas o campo é muito modernizado, não precisa mais ficar sol a sol na enxada 8 horas por dia”, defende. 

Modernização no campo 

Esse é um ponto que também bate o presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Antônio Rodrigues Amorim. Segundo ele, há uma necessidade de melhoramento nos processos utilizados pela agricultura familiar. 

O desenvolvimento na agricultura tem uma tendência de aproximar mais tecnologias mais modernas e eficientes para que os jovens se sintam inclusos nos processos produtivos. Não tem mais como continuar com os instrumentos passados, tem início tecnologias que ajudam os pequenos a desenvolverem melhor suas áreas
Antônio Rodrigues Amorim
presidente da Ematerce

Ele cita que as empresas têm começado a desenvolver soluções para esse modelo de produção, a exemplo do motocultivador, que acelera o cultivo de hortaliças. 

“Na horticultura, um canteiro de 50 m em uma serra ardilosa leva um dia de serviço. Com esse equipamento faz em 5 minutos, muda totalmente”, coloca. 

Antônio afirma que a agricultura familiar na região metropolitana é bem representada pelas hortaliças, sobretudo coentro e cebolinha. Segundo ele, são quase 600 hectares só das duas culturas. 

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