Agricultura de sequeiro ainda domina 95% da área plantada no Ceará
Plano da Sedet é transacionar para culturas com maior tecnologia e valor agregado
Milho, feijão e castanha de caju são hoje as culturas predominantes na agricultura cearense. Mas, para o futuro, a Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Ceará (Sedet) planeja que esses produtos gradualmente percam espaço para outros produtos de maior valor agregado.
A agricultura cearense é dividida entre produção de sequeiro, que depende integralmente das chuvas, e irrigada, com maior tecnologia e produtividade. A primeira hoje corresponde a 95% da área plantada, de acordo com a Sedet.
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Com apenas 5% das terras, a plantação irrigada já corresponde a 48% do valor bruto de produção agrícola do estado. A geração de emprego e o consumo de água também são otimizados nessa modalidade.
A gente tem estimulado na agricultura a questão de indicadores. Queremos culturas com grande rentabilidade por hectare, grande número de empregos e baixo consumo de água
O Valor Bruto de Produção (VPB) das lavouras no Ceará totalizou R$ 5,1 bilhões em 2021. Em 2020, foram 1.510.045 hectares de área plantada no estado.
Principais produções
A agricultura cearense é predominantemente familiar e a produtividade é bastante dependente do regime de chuvas durante a quadra chuvosa, de fevereiro a maio. Milho e feijão lideram em termos de área plantada.
Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Amilcar Silveira, ainda há potencial para crescimento dos grãos no estado, mas é necessário investir em sementes com maior tecnologia para aguentar o estresse hídrico.
Nós não estamos 10% da possibilidade de chegar lá. O perímetro irrigado de Russas utilizamos menos de 25% da realidade. Nossas áreas de sequeiro não conseguimos utilizar 10%. Temos 90% ainda que podemos crescer. Estamos engatinhando
Amilcar tem perspectivas positivas para 2022. “Esse ano tudo indica que terá chuvas acima da média. As perspectivas se concretizando no período chuvoso deve ter um aumento na área plantada e da produtividade. Esperamos um aumento de 30% se a quadra chuvosa se concretizar”, projeta.
A castanha de caju também é importante, principalmente em termos de exportação. Em 2021 foram exportados o equivalente a US$ 90,2 milhões somente do produto, o principal foco das exportações do agronegócio cearense.
Ainda nos produtos agrícolas, o estado vem ganhando espaço nas exportações de flores e hortaliças. A fruticultura tem um papel central no valor bruto da agricultura cearense.
Fruticultura
A fruticultura é o principal setor da agricultura cearense, se destacando tanto em sequeiro como irrigada. A maior produção é da banana, mas outras culturas têm se destacado por terem um maior valor agregado.
“Na fruticultura, o setor mais forte é a cultura da banana. É onde a gente tem as maiores áreas e maior lucro para produção. A gente tem outras culturas que são menores que a banana em termos de área, mas que tem um grande volume e importância comercial, como é o caso do melão, tem uma importância na exportação”, explana o secretário da Sedet, Silvio Carlos.
Conforme o secretário, o setor de frutas e hortaliças tem uma geração de emprego superior à agricultura de sequeiro tradicional.
“Na fruticultura em geral tem 1 emprego por hectare. No setor das hortaliças vai de 4 a 6 empregos por hectare. Quando vai para as flores, é de 8 a 10 empregos por hectare. No sequeiro chega a 0,1, 0,2 empregos por hectare”, compara.
O foco é apostar em frutas que possam ser exportadas. Em 2021, o soma do valor exportado de frutas frescas com sucos de frutas e água de coco, chegou a US$ 118,5 milhões, acima inclusive das exportações dos produtos da castanha de caju, o mais tradicional dos produtos de exportação cearense.
Maior valor agregado
De acordo com Silvio Carlos, o estado pretende expandir a produção de produtos agrícolas que sejam vendidos mais caros tanto no mercado interno como no exterior. Têm sido realizado testes bem sucedidos no plantio de frutas como pitaya, cacau e avocado.
“Abacate é muito produzido na serra, está crescendo muito na Ibiapaba. Com a mesma tecnologia, eu posso produzir o avocado. 1kg do abacate é 8 reais, 1kg do avocado é 50 reais. O avocado tem uma característica muito exportadora”, relaciona.
O secretário prevê que os principais produtos de hoje devem perder espaço à medida que os produtores perceberem a maior produtividade e lucro de outras culturas.
“A gente acredita que no futuro elas vão perder espaço. O melão pela característica exportadora não perderia espaço tão cedo. Mas a banana sim, porque tem baixo valor agregado, consome mais água que muitas outras culturas. Tem um mercado nacional muito forte, mas os produtores quando verificam possibilidade de outras culturas vão mudando”, avalia.