Mazelas, virtudes e perspectivas da agropecuária do Ceará

De acordo com o ex-secretário de Agricultura Irrigada e consultor Carlos Matos, o agro cearense tem baixo nível de inovação e empreendedorismo. E mais: Colégio 7 de Setembro muda de mãos

Legenda: Segundo Carlos Matos, a carcinicultura cearense tem vários gargalos, um dos quais é a questão ambiental
Foto: Honório Barbosa / Diário do Nordeste

Dezoito empresários cearenses da agropecuária reuniram-se ontem, 9, para ouvir o ex-secretário de Agricultura Irrigada, consultor Carlos Matos, que lhes apresentou a proposta do Plano Estratégico da Faec para os próximos 10 anos. 

E surpreenderam-se com a primeira informação do orador, que disse: 

“Hoje, a agropecuária do Ceará tem baixo nível de inovação e empreendedorismo, enfrenta grandes dificuldades na produtividade, sua Agricultura Familiar é de subsistência e o setor como um todo sofre da falta de adoção de tecnologias”. 

Mas ele disse que será possível superar esses gargalos por meio de políticas públicas (segurança hídrica, sanidade, licença ambiental, questão fundiária), de competitividade (promoção comercial, organização da produção, assistência técnica, qualificação profissional, produtividade), de apoio à produção (crédito, logística) e de tecnologia e inovação (mecanização, automação, transformação digital).

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O Plano Estratégico 2022-2032 da Faec põe foco em três setores do agronegócio – a Fruticultura, a Carcinicultura e a Pecuária Leiteira, cada um dos quais com seus desafios. 

Os desafios da fruticultura são segurança hídrica, atração de investimentos, energia, comercialização, organização dos produtores, inovação, questão fundiária e governança da cadeia produtiva.

Os desafios da carcinicultura (criação de camarão) são, pela ordem, a legislação ambiental, a gestão da água, a genética e sanidade, o sistema e organização da produção, a governança da cadeia produtiva, o fomento do consumo interno (que é muito baixo, cerca de 500 gramas per capita/ano), o crédito, a   qualificação profissional, a assistência técnica, o fomento à legalização do produtor e a exportação.

A pecuária leiteira tem os seguintes desafios a vencer: profissionalização das fazendas de produção, intensificação da tecnologia, ampliação do processamento, comercialização, assistência técnica de resultado e logística.

Intitulado “Sementes do Futuro”, o Plano de Desenvolvimento da Agropecuária Cearense 2022-2032 tem o objetivo de aumentar a produtividade e a competitividade e promover a sustentabilidade, a fim de que se obtenham a geração de renda e a promoção de vida digna no campo; a geração de trabalho qualificado no meio rural; inserção do Ceará no mercado internacional; inovação e produção com alta tecnologia. 

Entre as estratégias a serem utilizadas na perseguição desses objetivos incluem-se a gestão, a municipalização da agropecuária, a qualificação de gente e de liderança.

Carlos Matos sentenciou: “Se você quiser acabar com a pobreza no Ceara, invista na agropecuária”. Ele cita o exemplo da pecuária leiteira, que, há 10 anos, representava 1,4% da produção nacional brasileira; hoje, representa 2,3%, podendo dobrar esse percentual até 2032.

Hoje, segundo os dados mais recentes citados por Carlos Matos, o setor de serviços participa com 76,74% da economia do Ceará; 18,09% vêm da indústria; 23,67% provêm da administração pública; 14,54% têm origem no comércio; e só 5,17% são oriundos da agropecuária. É algo franciscano, ridículo até, tendo em vista o potencial do Estado.

Outro exemplo de como o agronegócio cearense necessita de uma mudança de rumo e de atitude foi citado pelo presidente da Faec, Amílcar Silveira, referindo-se ao setor da carcinicultura:

“O Ceará tem 1.306 produtores de camarão, mas 80% deles operam sem licença ambiental, o que é um obstáculo para o acesso ao crédito”, disse ele. E a questão do licenciamento ambiental é um dos problemas do agro no Ceará.

Como a atividade da carcinicultura no estado – e no Nordeste como um todo – cresce em progressão geométrica, “está claro que temos de palmilhar um novo caminho obrigatoriamente inovador, principalmente na tecnologia”, concluiu Silveira. 

COLEGIO 7 DE SETEMBRO TEM NOVOS DONOS

Fundado há mais de 80 anos pelo saudoso educador Edilson Brasil Soárez, o tradicional Colégio 7 de Setembro estámudando de mãos. 

Em comunicado assinado pelos irmãos Ednilton, Ednilze, Edilson e Ednilo, a família Soárez anunciou ontem que "está estruturando uma união estratégica com a Inspira Rede de Educadores com o objetivo de impulsionar nossas fortalezas e ampliar ainda mais as possibilidades dos estudantes".

Traduzindo: a Inspire, que é controlada pelo Banco BTG, comprou o controle do Colégio 7 de Setembro. Pelo acordo, e segundo está dito no comunicado, o jovem educador Henrique Soárez, filho de Ednilton, permanecerá na direção do colégio, representando a família.

O Conselho Administrativo de Defesa da Economia (Cade) é que decidirá se aprova, rejeita ou impõe condições para a oficialização da negociação;