Indústria cearense cresce em 2021 quase o triplo da nacional
Estado teve crescimento de 13,35%, enquanto o Brasil registrou, no mesmo período, 4,5%. Construção civil e eletricidade, gás e água puxaram a alta
A indústria foi o setor com maior alta no Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará em 2021. De acordo com dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) nesta terça-feira (22), houve um crescimento de 13,35% em comparação ao resultado de 2020.
O resultado da indústria cearense foi superior ao registrado no Brasil. No nível nacional, a indústria teve um crescimento de 4,5% no ano de 2021.
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Os segmentos de eletricidade, gás e água e construção civil tiveram as principais altas, de 29,32% e 15,06%, respectivamente. Em contraponto, a extração mineral teve queda de 21,08% em 2021.
Serviços e agropecuária
O setor de serviços também colaborou para a alta de 6,63% no PIB, divulgada nesta terça pelo governador Camilo Santana. Os serviços cresceram 5,96% no Ceará no ano passado, enquanto o crescimento a nível nacional foi de 4,77%.
A agropecuária teve queda de 4,71% durante o ano, motivada principalmente pela falta de chuvas e pelo aumento nos custos de produção diante de matérias-primas dolarizadas. No Brasil, o setor teve leve crescimento de 0,2%.
Para 2022, a expectativa do Ipece é que o PIB cearense feche em alta de 1,25%, enquanto o nacional deve crescer 0,5%. A perspectiva de desaceleração se manteve da projeção feita pelo instituto em dezembro do ano passado; uma nova projeção será feita em junho, contando com os efeitos da inflação e da guerra na Ucrânia.
Crescimento da indústria
O analista de indústria do Ipece, Witalo Paiva, explica que o resultado da indústria cearense é explicado pelo bom desempenho das atividades, mas também tem influência da base de comparação. A alta é tão expressiva em comparação a 2020 porque o setor sofreu mais no primeiro ano de pandemia.
O segmento que teve maior crescimento foi o de energia, gás e água, o que se explica pela crise energética que o país passou no ano passado. “Foi um resultado positivo que o estado alcançou diante da crise energética, porque o Estado é produtor de energia”, detalha.
A construção civil também se destacou, puxada principalmente por investimentos públicos do estado no setor, conforme o analista. Segmento mais relevante dentro da indústria, a transformação merece uma análise especial.
“Nosso principal segmento industrial, que é a de transformação, merece reflexão porque viveu dois momentos. Fecha o ano positivo, mas esse crescimento foi obtido em decorrência de um crescimento muito forte no primeiro trimestre e uma desaceleração no segundo trimestre. Tem a ver com o próprio processo de reabertura da economia, tivemos uma realocação de demanda para o setor de serviços”, coloca.
O assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Lauro Chaves, considera que o resultado vem de uma capacidade de adaptação por parte da indústria.
"Nós temos que ressaltar o esforço de adaptação, de transformação digital, de inovação que a indústria cearense teve com o apoio do sistema S, da Fiec, do SENAI, do SESI, do IEL, do SEBRAE e com isso a indústria cearense cresceu em produtividade em competitividade", afirma.
Para 2022, Chaves destaca o câmbio, preço do petróleo e a guerra na Ucrânia como fatores decisivos para a defninição do que esperar, além das eleições no cenário nacional. Ele espera que a indústria tenha um crescimento acima dos 1,5% projetados para o PIB cearense.
"A longo prazo, a indústria cearense sim tem uma expectativa de ganho de crescimento muito forte, tanto nos setores tradicionais, como também em setores inovadores, os quais nós podemos destacar energias renováveis, lembrando sempre da importância do hub de hidrogênio verde", destaca.
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Serviços
O setor de serviços representa 77,8% do PIB cearense e obteve bons resultados durante o ano de 2021. Conforme o analista de serviços do Ipece, Alexsandre Lira Cavalcante, ocorreu uma desaceleração no final do ano após um segundo trimestre com resultados elevados.
O comércio teve crescimento 8,59%, mas, segundo Alexsandre, foi uma alta muito concentrada em dois segmentos específicos: materiais de construção e automóveis. Todos os outros segmentos registraram queda.
Houve alta de 10,80% no segmento de transportes, principalmente no segmento aéreo. “É muito bem explicado por causa do serviço de correios, as pessoas se acostumaram a comprar pela internet”, coloca o especialista.
Intermediação financeira e administração pública tiveram altas de 6,73% e 5,30%, respectivamente. O segmento de alojamento e alimentação teve queda 5%. Alexsandre explica que a retomada no setor de serviços é rápida.
“É muito diferente a reação do setor de serviços para outros setores que exigem planejamento. Setor de serviços contrata rápido e como boa parte é intangível, se adapta muito rápido ao momento de retomada”, diz.
Agropecuária
A agropecuária acumulou queda no ano passado. Para a analista de agropecuário do Ipece, Cristina Lima, o baixo volume de chuvas e o aumento nos custos de produção impactaram as culturas cearenses, que, em sua maioria, são de sequeiro.
O aumento nos custos de energia elétrica e na importação de fertilizantes e agrotóxicos em razão da valorização do dólar também impactaram o setor de agricultura. O que permitiu que a queda no ano passado fosse menor foi a pecuária.
“Para salvar o setor agropecuária, tem a pecuária. Há seis anos a pecuária vem tendo crescimentos. Nos anos anteriores, muito influenciado pelo leite e, nos últimos dois anos, puxado por aves e ovos”, afirma.