Hotéis preveem volta em julho, mas retomada do fluxo só no fim do ano
Mesmo livre para operar durante o isolamento, grande parte da rede hoteleira suspendeu as atividades por conta da falta de hóspedes. Expectativa é que a ocupação comece a voltar ao normal apenas nas férias de dezembro
Um dos setores mais afetados pela quarentena imposta para conter o avanço do novo coronavírus no Estado, a indústria hoteleira cearense, mesmo não incluída nas atividades com restrição de funcionamento, está praticamente parada há mais de dois meses devido à falta de hóspedes. Agora, com o retorno gradual de algumas atividades, a maior parte do setor se prepara para retomar as atividades, ainda que de forma tímida, a partir de julho. A expectativa é de que a ocupação comece a voltar à normalidade apenas no final deste ano, com uma taxa pouco acima de 60% dos leitos. Em dezembro do ano passado, a ocupação foi de 63%.
Sem contar ainda com o fluxo de turistas do Sul e Sudeste para o que seria a alta temporada de julho, e dos estrangeiros, em agosto, seja por conta da redução de voos domésticos ou pelas barreiras para entrada de turistas internacionais, o setor hoteleiro aposta no turismo local, principalmente aquele de cidades mais próximas, que viaja de carro.
No entanto, a ocupação esperada pelo setor nesse período é baixa. "Julho ainda será muito fraco, podendo ficar entre 15% e 20% de ocupação, por conta das viagens de avião (mais restritas). Acredito que devem vir os turistas regionais, que vêm de carro", avalia Régis Medeiros, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Ceará (ABIH-CE).
Falando dos destinos do Nordeste como um todo, Medeiros diz que os estados com mais atrativos turísticos, como o caso do Ceará, tendem a apresentar uma volta à normalidade com maior velocidade. "Tudo vai depender da abertura de barracas de praia, de restaurantes, das atrações. Sabemos que a abertura será lenta e gradual, podendo voltar ao normal em novembro ou dezembro. Mas eu diria que o ano de 2020 já está comprometido", prevê. Hoje, atividades da cadeia de turismo representam cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do Nordeste.
Quanto ao período pós-coronavírus, o presidente da ABIH-CE avalia que haverá um "redirecionamento do turismo brasileiro", o que irá favorecer destinos no Nordeste. "Com o dólar alto, e essas restrições de viagens internacionais, o brasileiro vai deixar de ir para fora. Não será um movimento rápido, mas o brasileiro vai viajar mais dentro do Brasil", ele diz. "E o turista estrangeiro, mesmo com o real mais barato, vai demorar a vir".
Medidas para abertura
Em maio, apenas quatro hotéis estavam funcionando em Fortaleza, atendendo à demanda, sobretudo, de profissionais da área da saúde. Agora, os hotéis e pousadas se preparam para voltar a receber os hóspedes habituais do turismo de lazer, com medidas mais rígidas de higiene e de distanciamento social.
De acordo com Medeiros, a estratégia, agora, é alinhar um protocolo único para todo o setor no Estado, mas o ideal seria a elaboração de regras para serem aplicadas em todo o País. "Estamos analisando protocolos da ABIH nacional, de redes internacionais e do próprio Ministério do Turismo para que a gente faça o nosso próprio protocolo. Mas o ideal seria um protocolo único".
Segundo Elise Magalhães, diretora do Marina Park Hotel, a previsão é voltar às atividades em julho com uma nova política de higienização, café da manhã no quarto, mudanças na capacidade dos restaurantes e uso das áreas externas.
"Estamos com uma ocupação de praticamente zero desde março. E, até o momento, não há muitas reservas para julho. As pessoas ainda estão muito receosas. Acredito que em dezembro vai estar mais tranquilo", prevê. Elise diz que a ideia é abrir os restaurantes com 40% da capacidade, oferecendo apenas uma parcela dos apartamentos. "Não vejo julho com uma movimentação significativa".
Já os hotéis Coliseum Beach Resort e Hotel Parque das Fontes, em Beberibe, que juntos contam com 630 leitos, tiveram as operações suspensas em 22 de março e deverão reabrir em datas distintas. Segundo Talita Leite, diretora comercial dos hotéis, o Parque das Fontes irá abrir no dia 1º de julho e o Coliseum voltará apenas em 1º de setembro.
"Devido à tímida demanda até o momento, não justifica a abertura de dois produtos na mesma praia e do mesmo grupo com serviços tão parecidos. Então, pelo fato do Hotel Parque das Fontes ter 463 unidades habitacionais e o Coliseum Beach resort, 166, decidimos abrir primeiramente o Hotel Parque das Fontes".
Talita diz que o protocolo de segurança está sendo finalizado, mas que será dividido em quatro grupos: check-in, que será feito online, limpeza das acomodações, alimentação e áreas de lazer. "Estamos no aguardo do protocolo que está sendo elaborado pelo Governo do Estado, direcionado aos hotéis, para compatibilizarmos e divulgarmos oficialmente", ela diz.
Beach-office
Além de medidas de higiene e de distanciamento, as pousadas Vila Kalango, em Jericoacoara, e Rancho do Peixe, na praia do Preá, que normalmente recebem turistas estrangeiros e do Sul e Sudeste, irão testar inovações como o conceito de "beach-office", pelo qual é oferecido ao hóspede conexão de internet com alta velocidade, além de todo o serviço de alimentação no quarto. A ideia é atrair o turista cearense, que em períodos normais representa uma pequena parcela do público dos estabelecimentos. De agosto a novembro, cerca de 80% do público das pousadas é do exterior. E, dos turistas nacionais, 80% é do Sudeste.
"A gente espera reabrir em julho com o público de Fortaleza, que está em quarentena e vai querer sair de casa", diz Silmara Américo, CEO das pousadas. "Como julho não deverá ter uma característica de férias, por conta das aulas, vamos adotar esse esquema de 'beach-office' para que o hóspede possa trabalhar, na praia, com tudo o que precisa". Silmara avalia que a volta à normalidade deverá ocorrer apenas no início do próximo ano. "Estamos esperançosos. E, em um primeiro momento, vamos fazer uma abertura voltada ao público que consegue chegar de carro. O de fora deverá cair bastante".
Réveillon
Período em que a taxa de ocupação da rede hoteleira local fica próxima de 100% em Fortaleza, a última semana de dezembro ainda é motivo de dúvidas para o setor. "Eu gostaria que estivesse normal, mas vai depender do que irá acontecer nos próximos meses. O que a gente vê é que as coisas mudam a cada dia. Ainda não dá para ter uma opinião formada, tudo vai depender de como as coisas vão acontecer", avalia Medeiros.
Feiras e Eventos
Com relação ao turismo corporativo, a expectativa é de que o segmento de negócios apresente uma recuperação mais rápida, à medida que as atividades empresariais voltem ao normal. Já no segmento de feiras e eventos, por conta da quantidade de participantes, deverá demorar um pouco mais a voltar.
"O turismo de negócios, que compreende o executivo que vem visitar um cliente ou fazer uma venda, volta rápido. Mas as grandes feiras, que agregam centenas ou milhares de pessoas vão ser adiadas mais um pouco", prevê o presidente da ABIH-CE.
Segundo Ivana Bezerra, presidente do Visite Ceará-Fortaleza Convention & Visitors Bureau (FC&VB), cerca de 100 eventos de pequeno, médio e grande porte, programados para o 2º semestre continuam marcados. Somente no Centro de Eventos do Ceará, há cerca de 40 eventos confirmados entre julho e dezembro.
Contrato de trabalho
Em meio à crise, o setor está tentando negociar a extensão da Medida Provisória 936, que permite suspensão de contrato de trabalho, além de redução de salário e jornada, por mais 120 dias. O temor da área é que muitas empresas não consigam sobreviver a esse período sem a ajuda do Governo, uma vez que mesmo com o retorno de outras atividade, o setor deva apresentar uma volta mais demorada.