Como usar a regra 50-30-20 para organizar o orçamento e poupar?
A estratégia não é recente no mercado financeiro, mas pode gerar dúvidas
A regra 50-30-20 é uma tática já conhecida no eixo financeiro para quem pensa em poupar e organizar o próprio orçamento. Ela busca dividir o destino da renda mensal para três eixos principais de mercado: as necessidades, os desejos e as metas.
Apesar de já estar no discurso dos profissionais financeiros há algumas décadas, a estratégia pode ser desconhecida para quem ainda está ingressando no universo das economias e poupanças financeiras.
Qual porcentagem deve ser destinada para cada eixo? Qualquer um pode começar essa tática? Em qual das categorias cada gasto se encaixa? Quando o assunto é a própria renda, é necessário cuidado para que estratégias econômicas não se tornem más decisões financeiras.
O Diário do Nordeste conversou com o especialista em investimentos e colunista Alberto Pompeu para entender a tática. Confira, a seguir, o que é preciso saber para usar a regra 50-30-20 com responsabilidade para se organizar financeiramente e poupar dinheiro.
Divisão financeira
Ao receber a renda mensal, a regra estabelece que 50% do valor seja destinado às necessidades financeiras, ou seja, os gastos essenciais e as obrigatoriedades mensais.
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Outros 30% são reservados para os desejos, conforme a tática. É nesse eixo que estão inseridos questões de lazer e os gastos não essenciais, mas que têm o papel de entreter e trazem maior contentamento para o cotidiano.
Por fim, 20% devem ir para as metas financeiras. Esse é o valor que será mensamente investido no futuro de cada um que aplica essa regra, planejando uma maior estabilidade econômica ao longo do tempo.
O especialista em investimentos Alberto Pompeu explica que, para a tática funcionar, o primeiro passo é listar cada despesa existente e, depois, classificá-lo em uma das três categorias de gastos. É importante que a quantia destinada às metas seja vista de maneira séria, para que não haja a possibilidade de o valor ser gasto em outros eixos.
O segredo está em tratar o investimento como uma conta obrigatória. Assim que o dinheiro cair na conta, já se separam os 20%. Não se deve esperar sobrar, porque nunca sobra. A regra só funciona se for automática
Veja quais gastos se encaixam em cada categoria.
Necessidades
- Despesas de moradia;
- Contas mensais básicas, como água ou luz;
- Saúde, como planos ou medicamentos;
- Gastos alimentícios;
- Transporte;
Desejos
- Saídas para restaurantes;
- Compra de novas roupas;
- Assinaturas de streamings;
- Viagens e lazer;
Metas
- Investimentos;
- Reserva de emergência;
- Quitação de dívidas;
- Poupança para a aposentadoria.
Erros e cuidados
Como qualquer tática, a regra 50-30-20 só funciona se feita da maneira correta e se houver atenção para evitar possíveis erros. Alberto destaca que o mais comum é não saber classificar cada gasto, resultando em confusões entre o que é essencial e o que é desejado.
Assinaturas mensais de streaming, mensalidades em academias de luxo e deliverys diários, conforme o profissional, são, algumas vezes, estabelecidos por quem passa a aplicar a tática como necessidades, ao invés de desejos.
Precauções
- Classificar os gastos corretamente;
- Calcular a relação entre renda mensal e gastos;
- Ter o auxílio inicial de um educador financeiro;
Além disso, o mal uso do dinheiro destinado à reserva financeira também pode ser visto como um fator que leva ao erro. Conforme explica o especialista em investimentos, deixar os 20% voltados para as metas futuras parado, sem investir, pode levar à perda de seu valor ao decorrer do tempo, devido à inflação do mercado.
Como cuidar das metas financeiras?
“Guardar é o primeiro passo, mas investir é o que realmente faz o dinheiro trabalhar por você”, esclarece Alberto. O recomendado pelo profissional é que esse dinheiro não fique apenas parado no banco, mas, sim, que seja investido.
Ele observa que, primeiro, deve-se investir em uma reserva de emergência, como o Tesouro Selic. Apenas depois, esse investimento deve ser feito em ativos que geram renda, como ações sólidas, Fundos de Investimento Imobiliário (FII) ou bons Certificados de Depósito Bancários (CDBs).
Quem pode usar a regra?
A tática 50-30-20 pode ser aplicada em qualquer perfil financeiro, ou seja, independente de qual seja a renda. Entretanto, é preciso se atentar para a própria quantia e realizar alterações personalizadas a depender de salários baixos, altos ou endividamentos.
Uma sugestão do especialista em investimentos é que as pessoas que possuem uma renda mensal menor e estão ingressando agora no universo das economias financeiras comecem com apenas 5% do valor destinado às metas. Com o passar do tempo, essa quantia pode ir progredindo, até que atinja uma boa margem de reserva.
Controlar o dinheiro é o primeiro passo para conquistar liberdade. Mas é importante entender que ela [a regra] é um ponto de partida, não uma regra rígida. Cada pessoa deve adaptar as proporções conforme a própria realidade
Para casos de endividamento, a recomendação é um pouco diferente. O ideal é que uma maior parte da renda mensal seja destinada para o quitamento das dívidas, reduzindo a quantia de 30% que seria destinada aos desejos.
Se já há uma maior estabilidade financeira, entretanto, também é possível ajustar as porcentagens da regra, investindo um valor maior na categoria das metas para “acelerar a conquista da liberdade financeira”.
Entretanto, Alberto enfatiza que, apesar da regra ser ótima para iniciar as organizações de renda, não deve ser o ponto final na jornada dos investimentos e poupanças financeiras. Táticas de planejamento mais personalizado, com um tempo, passam a ser mais recomendadas.
Para ele, o "que realmente transforma a vida financeira das pessoas não é a fórmula, mas sim o comprometimento diário em investir melhor o próprio dinheiro”.
*Estagiária sob supervisão do jornalista Hugo Nascimento.