Com desempenho melhor que esperado em 2020, futuro preocupa varejo
Queda de 5% das vendas no ano passado é vista como vitória para o setor diante do pesado impacto da pandemia e reflexo do auxílio emergencial. Sem o benefício e outras medidas de apoio, varejo teme piora do cenário em 2021
A queda de 5% no volume das vendas no varejo ampliado do comércio no Ceará, resultado do acumulado de 2020 divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi menos severa do que calculava o setor, diante das consequências absorvidas com a pandemia de Covid-19 que levou ao fechamento total do comércio por 80 dias, de março a junho do ano passado. No entanto, retrata a manutenção de dificuldades.
“No início da pandemia, jamais imaginei que nós terminaríamos o ano com resultados que conseguimos. Nós olhávamos pra frente e não enxergávamos saída. Mas as medidas governamentais que foram adotadas contribuíram para que tivéssemos esses resultados”, observa o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL), Freitas Cordeiro.
O acumulado do ano também foi considerado razoável pelo presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL Fortaleza), Assis Cavalcante. “Esses 5% são perfeitamente explicáveis, nós perdemos muito nessa pandemia e o comércio reagiu bem. Fica até confortável porque esperávamos mais, uns 30% a menos no faturamento, porque além do comércio ter ficado parado, voltou aos poucos”.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE), Maurício Filizola, endossa a avaliação destacando que o impacto foi minimizado, principalmente, pelo auxílio emergencial.
“A assistência que foi dada durante esse período, até dezembro, fez com que nós tivéssemos setores mais aquecidos, como a construção civil. Se não fosse esse dinheiro circulando e alimentando a economia, os números teriam sido muito piores. Nós temos é que comemorar o fechamento de um ano que foi bem desafiante com esses resultados”.
Reflexo em 2021
Os dados mostram um crescimento de 4,2% nas vendas em dezembro em comparação a igual mês de 2019. Entretanto, os números positivos não refletem no cenário deste início de ano, avalia o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL), Freitas Cordeiro.
“Ao tempo em que me alegro com o resultado, a minha preocupação já começa a aflorar neste mês de janeiro. Os resultados estavam ‘maquiados’ pelos benefícios dados pelos governos federal e estadual. Quando foram tirados, fomos pra realidade. De fato, a economia não cresceu, não resolvemos os gargalos, apenas lutamos numa cama de UTI com todos os aparelhos ligados. Na hora que isso é tirado, o paciente não consegue reagir, no caso, as empresas”, observa Cordeiro. De acordo com ele, janeiro acumulou queda de 6% nas vendas. “É o que estamos vendo agora, números já apresentando uma queda bem imediata de resultado. E se não vierem os socorros, se não tiver uma inteligência por trás, vamos passar momentos difíceis. É uma guerra muito grande, infelizmente, com muito sacrifício”, salienta.
O presidente da CDL Fortaleza, Assis Cavalcante, lembra que as dificuldades despontadas neste início estão sendo amplificadas com o vencimento dos empréstimos tomados pelo setor no período mais crítico da pandemia.
“Acabou a transferência de renda social (auxílio emergencial) e chegaram os vencimentos dos empréstimos, chegou a hora de pagar. Com as lojas de shopping fechando 20h e o medo que a população está de sair de casa em razão dessa segunda onda, isso reduz o faturamento. As vendas agora de fevereiro estão muito baixas”.
A chegada da conta dos empréstimos tomados durante a pandemia para suportar a retração do consumo no período também complica a situação do varejo. “As empresas não vão ter como pagar. Muitas, inclusive, porque já têm falido. Procuraram socorro, mas não foi bastante”, concorda Cordeiro.Uma saída possível, segundo o presidente da FCDL, é prorrogar a assistência social e o tempo de pagamento das parcelas dos empréstimos. “A ação governamental foi válida. E tem que haver uma inteligência agora pra parcelar essas obrigações, até porque a pandemia não parou. O governo estabeleceu um prazo pra acabar, que era dezembro, mas o vírus não obedeceu e até agravou”, aponta.
Outra reivindicação do segmento é a prorrogação do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que estabeleceu a redução proporcional de jornada e de salário e a suspensão temporária do contrato de trabalho. “Temos que ter uma visão do Estado também renunciando a determinadas arrecadações, minimizando o peso nas empresas. Nós temos que ralar muito, ter muita inteligência e nos unir contra esse obstáculo”, pontua Freitas Cordeiro.
Setores
No ano passado, apresentaram crescimento das vendas os segmentos de materiais de construção; equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação; e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo.
Em relação à receita nominal, as lojas de materiais de construção apresentou a maior variação positiva, com aumento de 15,6% em dezembro. O saldo do setor também foi positivo quanto ao volume de vendas, com 5,8% em dezembro de 2020.
Em seguida estão os hiper e supermercados, com crescimento de 14,1% da receita nominal no ano. E a receita das vendas de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação avançaram 6,3% no período.
Entre os setores que terminaram o ano no vermelho está o de tecidos, vestuário e calçados, cujo volume de vendas teve a maior queda, de 22,6%, e a receita, de 21,4%.