Com alta de juros, onda de crescimento do mercado imobiliário cearense deve arrefecer em 2022

Mais de R$ 4,2 bilhões foram financiados na compra de imóveis em 2021 no Estado, de acordo com dados da Abecip

Escrito por Lívia Carvalho , livia.carvalho@svm.com.br
Legenda: Especialistas apontam que 2021 foi o melhor ano para o setor nos últimos 5 anos
Foto: Kid Junior/SVM

Com melhor desempenho dos últimos cinco anos, o mercado imobiliário foi um dos poucos setores que não teve tanto impacto com a pandemia. Apesar dos bons resultados, tanto em 2020 quanto em 2021, especialistas apontam que a onda de crescimento do setor deve arrefecer no próximo ano com a alta das taxas de juros.  

No início de dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu aplicar alta de 1,50 ponto porcentual da Selic - a taxa básica de juros. Com isso, a taxa subiu de 7,75% para 9,25% ao ano. Entre agosto de 2020 e janeiro de 2021, o valor da Selic chegou a 2% ao ano, a mínima histórica.  

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O presidente do Sindicato da Indústria e Construção Civil (Sinduscon), Patriolino Dias, afirma que essa é uma preocupação do setor, embora ainda haja uma demanda reprimida dos consumidores.  

São duas variáveis que devem influenciar, a alta de juros e o aumento dos insumos da construção civil, o aço, por exemplo, dobrou de preço. Estamos com uma demanda grande, porque nos últimos cinco anos foram lançados poucos empreendimentos, então a procura ainda está muito forte”.  
Patriolino Dias
presidente do Sinduscon-CE

2022 ainda positivo 

Dias aponta que, por isso, o desempenho de 2022 deve ser semelhante ao deste ano, porém não tão bom. “Mesmo com a Selic aumentando ainda deve ter uma demanda, vai haver uma queda no número de vendas, mas não acentuada”.  

Somente neste ano, até setembro, 17.281 unidades foram financiadas no Ceará, 39,7% a mais que o número de 2020, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Ao todo, o valor financiado foi quase 65% maior que o registrado no ano anterior, atingindo R$ 4,2 bilhões. 

A perspectiva é endossada pelo presidente do Sindicato da Habitação do Ceará (Secovi-CE), Sérgio Porto. "Começa o ano com notícias ruins, Selic subindo, inflação alta, o que retrai o consumidor e o dinheiro circula menos".  

Ainda não posso dizer que as expectativas são as melhores possíveis, as pessoas ainda estão procurando novos imóveis, mas não tem ainda estoque para realizar esses desejos. Essa inflação por demanda é real, mas está coberta pelo financiamento e o desejo das pessoas”. 
Sérgio Porto
presidente do Secovi-CE

Boom de lançamentos 

Segundo Dias, esse crescimento tem relação com o movimento de lançamentos de novos empreendimentos a partir do segundo semestre de 2020, quando a reabertura econômica começou após a primeira onda da pandemia.  

Após a onda de lançamentos entre 2012 e 2014, o mercado vivenciou crise até 2019. Entre 2020 e setembro de 2021, dados do Sinduscon mostram que foram lançadas 8.547 unidades de imóveis. 

O mercado está muito forte, eu sou capaz de dizer que 2021 foi o melhor ano do mercado nos últimos 5 anos”. 
Patriolino Dias
presidente do Sinduscon-CE

O presidente do Sinduscon explica ainda que o período entre a aquisição do terreno até a entrega da obra é de, em média, cinco anos. Logo, esses novos condomínios devem começar a ser entregues a partir de 2024. 

“Após esse período, vai chegar um momento que vai faltar imóvel. A perspectiva é que os juros subiram esse ano, mas devem começar a cair a partir do ano das entregas, então isso deve ajudar o mercado”, pondera.  

Condições favoráveis 

Além desses lançamentos, o presidente do Secovi-CE explica que as condições durante este período foram muito favoráveis para a compra de novos imóveis, apesar do aumento de preço.  

“Foi um ano muito bom, atípico, do ponto de vista que foi muito favorável. Os bancos deixaram de fazer financiamento e, por isso, acabaram oferecendo melhores condições de compra, juntou o desejo das pessoas com as condições favoráveis”, destaca. 

Segundo Porto, outro fenômeno impulsionado durante a pandemia foi o da ‘segunda moradia’, ou seja, imóvel de lazer, e da busca por condomínios com áreas de lazer compartilhadas.

“Houve uma desvalorização do edifício fechado e valorização de mega condomínios e da segunda moradia, uma percepção conjunta do que é melhor para sociedade”.  

 

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