Ceará e CAF negociam crédito para hidrogênio verde e produção de energia renovável no Interior

Uma das definições em aberto é se a operação seria voltada para pequenos empreendedores ou para iniciativas de médio e grande porte

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.mesquita@svm.com.br
Legenda: Além de apoiar o hub de H2V, a CAF também visualiza a possibilidade dessa nova fonte de energia propiciar um momento de reindustrialização do Brasil
Foto: Kid Júnior

O Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) está acompanhando de perto os trabalhos para a implantação do hub de hidrogênio verde no Ceará. Em cooperação com o Governo do Estado, a instituição está definindo parâmetros para uma operação de crédito voltada ao segmento de energias renováveis.

O cearense José Rafael Neto, executivo sênior da CAF, revelou que o foco e os critérios da operação estão sendo avaliados e que, em cenário otimista, até o fim deste mês de junho as partes entrem em acordo.

A liberação dos recursos, no entanto, deve demorar um pouco mais. Isso porque o Governo Federal é garantidor das operações de Estados e municípios junto à CAF. Esse processo, conforme Neto, pode se arrastar por até um ano.

A ideia é a gente apoiar o Governo do Estado, tanto em nível de cooperação técnica, estudos específicos para dar mais solidez à proposta do H2V, quanto em financiamento, pois teremos que fomentar, principalmente, a geração de energia renovável, que seria o insumo para a produção do hidrogênio verde"
José Rafael Neto
Executivo sênior da CAF

O interior do Estado seria o principal beneficiado com a operação de crédito em debate. Neto ressalta que existe a necessidade de interiorizar a produção de energia renovável, atualmente concentrada no litoral.

"Existe essa necessidade de interiorizar o desenvolvimento, sair da região do litoral, mudar um pouco a vida dessas pessoas, dar a elas a oportunidade de gerar sua própria renda e não ficar eternamente nas redes de apoio sociais. A ideia do Governo (do Estado) é totalmente alinhada com nossa proposta e com a do Governo Federal. Esperamos concluir brevemente essa proposta de financiamento que vai oferecer essa oportunidade ao homem do campo", afirma.

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Uma das definições ainda em aberto é se a operação seria uma espécie de microcrédito, voltada para pequenos empreendedores, ou se para iniciativas de médio e grande porte. Neto também indica a possibilidade do próprio Estado tomar a frente em um projeto piloto.

"Independente da operação de crédito por ela mesma, a gente já está apoiando o Estado nos estudos, na preparação, a desenvolver esse espaço de forma efetiva e sustentável para que essa fonte energética se desenvolva no Estado fortemente".

Além de apoiar o desenvolvimento do hub de hidrogênio verde, a CAF também já visualiza, no longo prazo, a possibilidade dessa nova fonte de energia propiciar um momento de reindustrialização do Brasil, que desse vez pode ser concentrado no Nordeste e no Ceará.

O executivo do banco ressalta que, além de ser exportado como uma commoditie, o H2V pode atrair as próprias indústrias que irão consumí-lo para território local, diminuindo os custos de transporte.

Uma dessas possibilidades é o aço verde. A ArcelorMittal, nova dona da CSP, siderúrgica localizada no Pecém, vem dando sinais de querer descarbonizar suas operações, de forma a deixar de produzir o aço convencional e substituí-lo pelo aço verde.

Nesse cenário, a CAF também está disposta a financiar a instalação dessas novas operações. "A CAF trabalha tanto com o setor público quanto com o privado. Nós temos um limite de crédito anual em torno de US$ 2 bilhões ao ano aqui no Brasil. Desse valor, 60% a 70% vai para o setor privado. Então, a gente tem recurso, temos disponibilidade, temos apetite para atender também o setor privado que porventura nos procure", assegura Neto.

Operações municipais

O CAF já possui operações com o Estado e prefeituras cearenses. No âmbito estadual, o banco possui uma operação em fase de conclusão voltada ao desenvolvimento do turismo. O executivo detalha que, entre as ações realizadas, estão a duplicaçao da CE-085, que dá acesso a Jericoacoara, além da recuperação de praias e trabalhos de água e saneamento em nove localidades turísticas.

Já na esfera municipal, seis cidades se encontram na carteira de clientes da CAF: Fortaleza, Caucaia, Itapipoca, Sobral, Juazeiro do Norte e Iguatu.

A Capital contabiliza duas operações de crédito já concluídas, duas em execução e uma a ser iniciada, somando US$ 483 milhões. O novo projeto dará continuidade aos trabalhos de drenagem iniciados pela CAF ainda em 2012, além de incrementar a mobilidade e acessibilidade em grandes avenidas.

Confira o valor investido pela CAF nos municípios cearenses:

  • Fortaleza US$ 483 milhões
  • Caucaia US$ 80 milhões
  • Juazeiro do Norte US$ 80 milhões
  • Itapipoca US$ 50 milhões
  • Sobral US$ 50 milhões
  • Iguatu US$ 50 milhões

Para ser financiado pela CAF, os estados e municípios precisam atender a dois critérios principais do Governo Federal, que é o garantidor dessas operações.

  1. O município tem que acima de 90 mil habitantes
  2. O município tem que ter uma capacidade de pagamento, de acordo com a classificação da Secretaria do Tesouro Nacional (Capag), A ou B

No Ceará, somente nove cidades se enquadram como possíveis beneficiadas.

"Entretanto, para aqueles municípios que não conseguem atender a esses critérios, a gente tem recursos no Banco do Nordeste que eles poderão acessar e, a partir daí, realizar seus investimentos. E esperamos que os outros três municípios nos procurem", destaca Neto.

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