CAF diz estar preparado para liberar crédito para a indústria do Hidrogênio Verde no Ceará

O presidente do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) participou de debate na Assembleia Legislativa do Estado (Alece)

Escrito por Bruna Damasceno , bruna.damasceno@svm.com.br
Fonte ao microfone
Legenda: Jorge Arbach é vice-presidente de setor privado do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF)
Foto: Ismael Soares / SVM

O vice-presidente de setor privado do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), Jorge Arbache, quer alavancar os investimentos para desenvolver a indústria de Hidrogênio Verde (H2V) no Nordeste do País, mas ponderou haver necessidade de mais “ambição” para esta pauta avançar no mercado nacional. 

Segundo ele, “assim como São Paulo foi a casa da industrialização, na década de 1930, o Nordeste brasileiro e alguns estados, como o Ceará, podem se tornar o olho do furacão do Brasil”.

Diante desta ambiência, afirmou, a instituição está “preparada” para oferecer crédito e novos instrumentos financeiros. Arbache esteve na Assembleia Legislativa do Estado (Alece), na manhã desta sexta-feira (26), para participar do debate “Hidrogênio Verde: inovação e energia limpa no Ceará".

Na ocasião, o executivo ponderou, no entanto, que o Brasil ainda está atrás na corrida pelo mercado da chamada energia do futuro, enquanto o Chile e a Colômbia já deram a largada.

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Há dois meses, ele se reuniu com o governador Elmano de Freitas (PT) e com o secretário do Desenvolvimento Econômico do Ceará (SDE), Salmito Filho, para apresentar ao Estado “a visão [da instituição] e o que pode e deveria ser feito” em relação aos investimentos para o H2V. 

“A gente acha que pode ser mais ambicioso. A gente Nordeste, Ceará e Brasil”, frisou, lembrando do potencial competitivo regional. Dentre os entraves para concretizar a indústria local do H2V, estão a logística, a ausência da regulação e a precificação.

Para ele, só deve haver estrutura e tecnologia para mudar esse cenário no prazo de oito a 10 anos. 

“Essa é uma agenda nova, em desenvolvimento, mas, na hora que começar a chegar oportunidade de negócios que requeiram crédito ou garantia, a casa vai estar pronta. Isso ainda não chegou. No Chile, já está chegando”, comparou. 

“Então, a gente já começa a receber consultas lá e acho que precisamos trabalhar para isso aqui também. Como eu disse, essa agenda vai em direção a dois dos nossos pilares: um é banco verde e o outro é um banco da recuperação”, finalizou.

Hidrogênio verde mais barato no Ceará

O vice-presidente de setor privado do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), Jorge Arbache, também destacou que o Ceará pode se tornar um dos produtores com o hidrogênio verde mais barato do mundo. 

“No que a gente exporta essa commoditie para a Europa, para tentar viabilizar a competitividade das empresas lá, quando a gente compara com o custo de produção das empresas estando aqui, é incomparável”, avaliou. 

Porque, ao você enviar esse hidrogênio para lá com toda a questão de segurança, a qual é muito grande e muito custosa, ao chegar no Porto de Roterdã, é preciso de energia verde pra reconverter a amônia em hidrogênio"
Jorge Arbache
Vice-presidente de setor privado do CAF

Segundo Arbache, a produção local viabiliza o H2V já acabado para a exportação, fazendo o “preço do transporte por toneladas despencar".
“Você paga aqui uma energia muito barata, está livre de geopolítica, já tem o porto [do Pecém] e uma retroárea industrial”, enumerou. 

O hidrogênio já é um gás usado como fonte para transportes e para a indústria, mas as duas formas mais consumidas desse elemento químico são a marrom (gerado por carvão) e a cinza (gerado por metano). Ambas são extremamente poluentes e vão de encontro à descarbonização da economia.

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Já a terceira é o H2V, produzido a partir de fontes renováveis, sendo considerado verde por esta razão. A geração via energia eólica, solar ou de biomassa garante um processo limpo e sustentável para reduzir as emissões de gás carbônico de diversos setores econômicos que utilizam a substância, além de um transporte.

Diferenciando-se dos demais, portanto, por não utilizar combustíveis fósseis (não renováveis) em toda a sua cadeia produtiva.

Durante o evento, o presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), Ricardo Cavalcante, reiterou o potencial do Ceará. “Como foi dito, nós estamos no olho do furacão, é o lugar onde pode se fazer o hidrogênio verde mais barato do planeta. Não podemos perder uma chance de trabalhar essa questão”, apontou.

Regulamentação é discutida

O presidente da Comissão Mista sobre o Hidrogênio Verde, Senador Cid Gomes (PDT-CE), afirmou haver um esforço para avançar na regulamentação.

“Esse é um processo delicado, porque passa por duas casas no legislativo. Eu já tenho procurado estabelecer essa relação com a Câmara dos Deputados, mas fundamentalmente passa por iniciativas em diversos setores do executivo. Os ministérios de Minas e Energias e da Indústria e Comércio e do Meio ambiente estão focados no assunto”, disse. 

“É um assunto tão importante que o presidente Lula está querendo a participação do Ministério da Fazenda, porque aí teremos que ver também uma série de questões, sem falar dos outros órgãos vinculados a esse ministério. É fundamental que a gente coloque tudo isso de forma sintonizada”, completou. 
 

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