CE perde protagonismo na exportação de melão

Após liderar mercado por oito anos consecutivos, falta de água afugentou produtores para o Estado vizinho

(Atualizado às 13:03, em 06 de Maio de 2019)
Legenda: Com a saída dos produtores de melão do Ceará, mais de mil vagas de empregos foram fechadas
Foto: Foto: Fabiane de Paula

Após liderar as exportações brasileiras de melão por oito anos consecutivos, de 2008 a 2015, o Ceará perdeu, em 2016, o 1º lugar para o Rio Grande do Norte, que desde então voltou a ser o grande produtor nacional. A maior parte da produção cearense concentra-se na região do baixo Jaguaribe, próximo à divisa com o Rio Grande do Norte, e a disponibilidade hídrica acabou sendo determinante para a fuga de produtores do Ceará.

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Com o baixo nível dos reservatórios do Estado, sobretudo do Açude Castanhão, que após mais de cinco anos de estiagem está com cerca de 5% de sua capacidade, algumas das maiores empresas do País acabaram migrando para outros estados. "Diferentemente do Ceará, o Rio Grande do Norte tem bastante água no subsolo. A região da Chapada do Apodi é muito abundante em água subterrânea, coisa que o Ceará não tem", destaca o empresário Luiz Roberto Barcelos, presidente da Associação Brasileira de Exportadores de Frutas (Abrafrutas) e sócio da Agrícola Famosa, maior produtora e exportadora de melões do Brasil.

Em 2014, ano em que atingiu o pico das exportações da fruta, o Ceará enviou ao exterior 110,5 mil toneladas de melão, o equivalente a US$ 90,2 milhões, enquanto o Rio Grande do Norte exportou 84,4 mil toneladas, no valor de US$ 60 milhões. Mas em 2017, considerado o pior dos últimos dez anos, o Ceará exportou 67,6 mil toneladas (US$ 53,3 milhões) e o Rio Grande do Norte, 163 mil toneladas (US$ 108,1 milhões), segundo dados do Mdic.

"Após anos seguidos de seca, em 2017, a crise hídrica se agravou", diz Barcelos. "O Castanhão secou e alguns projetos foram também para o Piauí e para a Bahia". Segundo o empresário, a opção de produtores locais migrar para o Rio Grande do Norte é natural, uma vez que o clima igualmente seco e o sol favorece o cultivo de melão. Entretanto, o retorno dessas empresas para o Ceará dependerá basicamente da oferta de água.

Apesar de as chuvas deste ano terem superado a média histórica, elas ficaram concentradas na região litorânea, impactando pouco no nível dos reservatórios e prejudicando a safra de melão, que não convive bem com chuvas. "Então, teve pouco benefício para os açudes do Castanhão, Orós e Banabuiú. O que a gente espera agora é a conclusão da transposição do Rio São Francisco o quanto antes, para que haja segurança hídrica no Ceará. A partir daí, a tendência é que os produtores voltem", avalia Barcelos.

Água dos reservatórios

Há pelo menos dois anos, uma das principais demandas do setor se refere à disponibilidade de água para a agricultura irrigada no Estado. Alguns produtores até investiram na perfuração de poços mas, além do alto custo dessas perfurações, os resultados ficaram aquém do esperado.

O uso da água dos reservatórios para a irrigação depende de autorização da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) que, conforme o nível dos açudes, concede a outorga aos produtores. De acordo com a Política Nacional de Recursos Hídricos, que estabelece o direito de uso da água em situações de escassez, a prioridade é o consumo humano, seguida pelo consumo animal e só então para a agricultura.

Segundo Flávio Saboya, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), a saída de empresas produtoras de melão do Ceará, por falta de água, foi responsável pela perda de mais de mil empregos no setor. "A questão da outorga é um impasse que nós estamos analisando, porque a saída de diversas empresas do Estado por causa da suspensão (do fornecimento de água para a agricultura) vem prejudicando as receitas do Ceará, além de aumentar o desemprego".

Exportação

O item "melões frescos" é o sétimo mais importante da pauta de exportação do Ceará. Em 2018, a maior parte foi enviada para a Holanda (US$ 23,7 milhões), seguido por Reino Unido (US$19,7 milhões) e Espanha (US$12,6 milhões). De janeiro a abril deste ano, o Ceará exportou US$5,8 milhões em cargas de melão, enquanto o Rio Grande do Norte já enviou US$49,3 milhões ao exterior, quase nove vezes mais. Juntos, os estados realizam 98% das exportações de melão do Brasil.

De acordo com o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em março, a expectativa para a produção de melão na região do Fortim (litoral leste) aumentou, com a inclusão de novos produtores no Estado.

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