'Balde de água fria' e 'setor não aguenta mais', dizem empresários sobre decreto prorrogado no Ceará
Representantes do comércio revelam que empreendedores já estavam se preparando para voltar a funcionar nesta segunda-feira (05)
O adiamento do início da flexibilização das medidas restritivas no Ceará, anunciado pelo governador Camilo Santana em live na noite deste domingo (4), frustrou expectativas do comércio e foi considerado um "balde de água fria" no setor.
Segundo o governador, o lockdown tem sido eficaz em reduzir casos da doença e prometeu que o início da flexibilização do decreto, com plano de retomada para atividades não essenciais, começa no próximo dia 12 de abril.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE), Maurício Filizola, aponta que os empresários já vinham se preparando para reabrir a partir desta segunda (05), tendo em vista a sinalização anterior dada pelo próprio governador.
"De certa forma, é bem frustrante. Já são 30 dias de comércio fechado. As expectativas eram grandes para o retorno amanhã. Isso traz enormes prejuízos para o empreendedor, que já está fragilizado, afirma. E complementa:
A gente entende que a parada por poucos dias, para o governo se reorganizar na saúde, é necessária, mas quando se estende tanto desestrutura todo o comércio. Foi um balde de água fria"
"Fazemos nosso dever de casa"
Filizola lembra que o setor tem aprendido ao longo da pandemia, observado os números e se adaptado à realidade para continuar funcionando.
"Nós trabalhamos bem, fazemos nosso dever de casa. Até porque já estamos há um ano na pandemia, não aprender com esse período seria burrice. É uma frustração, o tanto de ligação que temos recebido esses dias. Até divulgamos uma pesquisa que mostra que 71% dos empresários são contra o lockdown", ressalta.
Filizola acrescenta que não espera que algum setor econômico seja priorizado pelo Governo, mas que todos possam atuar, gerando emprego e renda e impostos. "O Governo não produz dinheiro, ele vive do pagamento de impostos, que vem da sociedade e do setor produtivo. Parece que não entenderam isso ainda. Acho que é porque nunca empreenderam. Pelo menos essa previsibilidade é saudável", pontua.
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"Conversar mais o que?"
Sobre as negociações com o Comitê Estadual de Enfrentamento à Pandemia do Coronavírus, o presidente da Fecomércio-CE revelou que o contato alimentou o otimismo para a reabertura já nesta segunda (05). "Não entendo. Sei que é uma precaução, mas não é uma decisão nossa, só do governo. Dizem que vão conversar com a gente essa semana. Conversar mais o que? Não sei. E o que vamos falar pro empresário depois disso?", argumenta.
'Castigo desproporcional'
O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL-CE), Freitas Cordeiro, também discorda da forma de combate à pandemia escolhida pelo Executivo cearense, mas revela não ter se surpreendido com a decisão.
"Tenho que confessar que não foi uma surpresa. Porque a metodologia adotada é pautada em números, e se o platô ainda permanece muito alto, o Governo tinha que seguir uma coerência e manter o lockdown. Mas eu permaneço discordando"
Ele esclarece que não é contra as medidas protetivas, mas sim da forma como o Varejo vem sendo prejudicado. "Só não me conformo que o Varejo seja o patinho feio da história, que paga o preço como se fosse o local de infecção, sem evidência científica. Não estou pleitando que outros deixem de trabalhar. Entendo que, a exemplo dos demais, o Varejo deveria continuar trabalhando", afirma.
"Acredito que o Governo tinha que chamar todo mundo e traçar uma rota de saída que contemple todos. Não adianta tratar de maneira diferenciada, criando nichos de castigo, porque todo mundo está prejudicado, a pandemia não selecionou uns e outros não. Precisamos de uma saída compartilhada", acrescenta Cordeiro.
Aumento de falências e demissões
O segmento de alimentação fora do lar é um dos mais impactados desde o início da pandemia com as medidas restritivas. Segundo o presidente do Sindicato de Restaurantes, Bares, Barracas de Praia, Buffets e Similares do Estado do Ceará (Sindirest-CE), Dorivam Rocha, cerca de 10 mil empresas do setor já fecharam no Ceará, resultando no fechamento de 400 mil postos de trabalho.
"Nessa próxima semana, mais empresas do setor serão extintas. O setor não aguenta mais um dia fechado. É uma verdadeira catástrofe. Entendemos que as medidas restritivas, o lockdown, não funcionam, a população circula normalmente", ressalta.
Conforme Rocha, ainda falta fiscalização entre os setores considerados essenciais para o cumprimento dos protocolos exigidos. "Os setores chamados de essenciais não são fiscalizados como o nosso quando em funcionamento, e não cumprem as medidas de combate à pandemia. Basta visitar uma instituição financeira para ver como a população é atendida, no meio das ruas, em grandes filas e aglomeradas. O transporte público, já é assunto bastante comentado por toda a população. Não entendemos a redução de frota", indica.
"Tudo isso colabora para que as demais atividades que não são consideradas essenciais, o qual não concorda com essa definição, permaneçam fechadas", acrescenta o presidente do Sindirest-CE.
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'Pior momento do setor'
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel-CE), Taiene Righetto, reforça os prejuízos acumulados e a insatisfação com as medidas restritivas ao setor, que devem contribuir para o desenho do pior cenário até o momento para o setor.
"A gente tava acompanhando com o Governo tudo isso que ia acontecer. É claro que pra nós o importante era retomar segunda-feira agora, mesmo de forma parcial. Até porque nós estamos passando pelo pior momento do setor, o pior momento de desemprego, de demissões, tudo que você imagina", dispara.
Ele lembra que as atividades em geral estão sendo impactadas com as restrições há cerca de três semanas, enquanto os restaurantes vêm sofrendo com mais restrições desde janeiro. "Com essa prorrogação, a gente espera poder conversar com o Governo do Estado e realmente decidir como vai ser essa retomada. Uma retomada que não volte mais atrás. Porque não dá mais pra gente voltar a trabalhar, retomar, voltar, retomar, isso não funciona".
Righetto afirma que a volta da suspensão de contratos de trabalho e redução de jornada e salários é uma das medidas essenciais para garantir a sobrevivência dos estabelecimentos, tendo em vista que ela alivia o custo da folha de pagamento, despesa que mais pesa no orçamento dos negócios. "Então, nós estamos já em uma situação muito difícil e o Governo Federal desde janeiro deu quinze dias pra reeditar a MP 936, de suspensão de folha de pagamento, e infelizmente isso não aconteceu. Até hoje a gente não tem", lamenta.