A essa hora, meu cadastro como doadora voluntária de medula óssea já está sendo processado nos bancos de dados laboratoriais do Sistema Único de Saúde (SUS). Informações prestadas, Termo de Consentimento Assinado e sangue coletado. Pronto! Aos 32 anos, entrei na fila dos doadores potenciais. Uma lista notoriamente distinta daquela da espera, mas que, nessa corrida precisa, crescer, justamente para encurtar essa outra.
Entre o momento em que cheguei ao Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), na Av. José Bastos, em Fortaleza e a hora que ouvi: “Acabou! Agora espere que, se precisar, eles entram em contato com você”, foram cerca de 40 minutos. Isso porque, felizmente, naquele mesmo dia em que decidi fazer essa ação, tão simples quanto fundamental, outras dezenas de desconhecidos tiveram a mesma atitude.
No Hemoce, vários voluntários indicavam em conversas com as atendentes terem ido ao local motivados pela vontade de ajudar a jornalista Marina Alves. Uma colega de trabalho, repórter do Sistema Verdes Mares, que devido a um linfoma, precisa de doação de sangue, plaquetas e medula óssea. Eu ouvi, me emocionei e inquietei-me.
No aspecto prático, eu também fui até lá sensibilizada por essa história, de alguém do meu convívio. Fui esperançar. Esse êxito há de ser alcançado! E a cada ingresso de potenciais doadores naquele prédio, eu pensava: cheguem mais. Porque Marina é uma, dentre tantos outros, que aguardam a empatia de anônimos como única possibilidade de cura. Que alegria se essas pontas se encontram, conectam-se a tempo.
Nesses percursos de esperas, dilemas, mas também de solidariedade, a engrenagem da vida é a insistente vontade de quem se coloca em doação. Particularmente, sinto muita gratidão por dezenas de pessoas das quais nunca vi o rosto, não sei o nome, o gênero, a cor, a idade ou a orientação sexual.
Foi pela garantia de sucessivas doações recebidas por minha mãe, quando há alguns anos, ela foi diagnosticada com um problema hematológico, que tivemos o nosso contato prolongado nesse plano.
Não foram poucas as bolsas de sangue e plaquetas em quase três anos. Uma a uma, literalmente, faziam reviver, ela, meu grande amor.
Minha mãe, vítima de uma doença grave e sem cura, infelizmente, já faleceu. Mas, isso não apaga nossas pequenas e grandes vitórias no processo.
E para alcançá-las, inúmeras vezes, fomos contempladas por essa disponibilidade alheia, essa obstinação de quem, em meio a cenários perversos, como o atual, em que há sucessivos estímulos à barbárie e à falta de civilidade, insiste na cooperação, teima em ser generoso, humano.
Talvez esses doadores desconhecidos nem saibam, mas fizeram e fazem filhas, assim como eu, terem momentos extremamente felizes, pais terem um acalanto, maridos e mulheres terem esperança, pacientes terem fé. Amores das vidas de outras pessoas terem parcelas de otimismo e alívio.
Minhas características genéticas serão colocadas no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) para consulta quando necessário. A minha espera é bem menos nobre do que aquela de quem batalha na outra fila tão dura. Tem dimensões incomparáveis.
Queira o universo e os deuses (todos) que eu também seja uma desconhecida que salva vidas. Dentre tantas humanidades, a solidariedade é o impulso mais intenso. Desperta quem se deixa envolver.
Como se cadastrar?
Para a doação de medula óssea é necessário realizar um cadastro em um dos postos do Hemoce.
Os requisitos são: ter entre 18 e 35 anos, não ter tido câncer e apresentar documento de identidade.
Ao fazer o cadastro, será recolhida uma amostra do sangue do candidato para verificar a compatibilidade com os pacientes que estão aguardando um transplante.
O cadastro é nacional e os voluntários podem ser chamados para doar para qualquer paciente que precise no Brasil.
O procedimento pode ser realizado na sede do Hemoce, no bairro Rodolfo Teófilo, ou nos demais postos de atendimento do órgão no IJF, na Praça das Flores ou no Shopping RioMar Fortaleza.