Um tremor a cada três dias: entenda os motivos e quais os impactos dos abalos sísmicos no Ceará
As regiões de Sobral e Sertão Central são as que possuem maior frequência de registros
Quando se ouve o termo "tremor de terra", logo voltamos à mente aos grandes abalos sísmicos registrados em países como a Indonésia, Japão e Estados Unidos, locais onde esses eventos naturais chegaram a escalas catastróficas, com destruição em massa e mortes. Mas, no Ceará, eles também são frequentes, ainda que com magnitude bem baixas, sem registro de mortos.
No Ceará, o ano de 2021 fechou com 127 tremores de terra com magnitude maior ou igual a 1.5 graus na Escala Richter, o que representa média superior a um tremor a cada três dias. As cidades com registros são:
- Canindé,
- Beberibe,
- Paramoti,
- Chorozinho,
- Maracanaú,
- Maranguape,
- Quixadá,
- Ocara,
- Guaiúba,
- Camocim,
- Tauá,
- Sobral,
- Cascavel,
- Quixeramobim,
- Caucaia,
- Russas,
- Viçosa do Ceará,
- Iguatu,
- Jucás,
- Palhano,
- Paraipaba,
- Pedra Branca,
- Crato,
- Cariré
O levantamento foi realizado pelo Diário do Nordeste com base em dados fornecidos pelo Laboratório Sismológico (LabSis) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
No entanto, quando observado abalos de magnitude menor a 1,5, o número de registros no Estado pode ser até cem vezes maior. Em 2018, foram cerca de 2.000 registrados no Ceará. No ano seguinte, em apenas sete meses - janeiro a julho de 2019 - o LabSis registrou mais de 2.300. Os dados de 2020 e 2021, de abalos com magnitude abaixo de 1,5, não foram fornecidos pelo Laboratório.
Os abalos com magnitude inferior a 1,5 não são registrados pelas estações de monitoramento do LabSis, por esta razão, eles não compõem os dados oficial do Laboratório. Estes números englobando abalos de quaisquer magnitudes são, portanto, estimados.
- Abalos inferiores a 3,5 graus: podem ser sentidos, mas são de baixa intensidade
- De 3,5 a 5,4 graus: são sentido em um raio maior, mas raramente causa danos
- Entre 5,5 a 6 graus: podem provocar pequenos danos em imóveis bem estruturados e grandes efeitos em edifícios de estrutura fraca ou precária
- De 6,1 a 6,9 graus: causa destruição em áreas de até 100 km
- De 8 a 8,5 graus: é considerado um abalo fortíssimo, causando destruição da infraestrutura.
- De 9 graus: podem ser devastadores para uma região
"Contabilizamos apenas os abalos acima ou igual a 1,5, pois são eventos ouvidos ou sentidos localmente", pontua o geofísico e coordenador do LabSis/UFRN, Eduardo Menezes. Dentro desse mesmo padrão, já foram registrados 10 abalos neste ano de 2022 e, em 2019, foram contabilizados 49 tremores de terra no Estado.
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Regiões e impactos
Mas, quais as cidades e regiões onde ocorrem o maior número de tremores? E como surgem esses tremores? O geofísico Eduardo Menezes destaca que a região de Sobral aglutina o maior número de eventos, embora o "maior tremor de terra já registrado no Ceará tenha sido em Pacajus, no ano de 1980".
Já o primeiro terremoto registrado no Ceará aconteceu em 1807, no município de Pereiro.
Nas regiões de Sobral e Sertão Central, próximo a Quixadá, existem áreas que são consideradas sismicamente ativas, o que eleva a possibilidade de tremores. Esses tremores, explica Eduardo, "são provenientes de esforços nas falhas geológica existentes, isso ocorre pelo próprio movimentos de todo globo terrestres, em alguns lugares o acumulo de esforços gerem esses movimentos que assim aliviam essas tensões".
No entanto, apesar da frequência maior nestas regiões, ainda não é possível antever - em qualquer que seja o local - quando esses abalos acontecerão. Essa, é, inclusive, a grande meta dos sismólogos.
"Não há essa fórmula ainda. Não é possível descobrir quando acontecerão e em qual magnitude eles acontecerão", explica Eduardo. Essa previsão seria importante para alertar à população para que os danos fossem minimizados, o que não se aplica ao Ceará, uma vez que os abalos aqui, majoritariamente, são de baixa intensidade.
Assim como não é possível antever tais eventos, o especialista do Laboratório Sismológico da UFRN, acrescenta que não "pode-se afirmar se está havendo aumento ou diminuição dos abalos no Ceará". Em 2020 foram 49 abalos. No ano seguinte, saltou para 127 e, nos primeiros dois meses deste ano, são 10 abalos de magnitude igual ou superior a 1,5. Pelo menos 40 cidades do Estado já tiveram registro de abalo sísmmico.
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"Na história da sismologia, um período de 30 anos é pouco tempo pra avaliar se temos mais ou menos tremores ocorrendo. O que podemos afirmar é que, com a ampliação das estações sismográficas, a observação dos tremores passou a ser mais catalogado", explica Eduardo Menezes.
Atualmente, o LabSis tem capilaridade de cobertura para todas as regiões do Nordeste. Em algumas cidades do Ceará, a UFRN instalou redes sismográficas temporárias para estudar, por no mínimo seis meses, os abalos.
Cidades com instalação de sismógrafos temporários:
- Palhano, Fortaleza, Hidrolândia, Chorozinho, Groaíras, Irauçuba, Sobral, Santana do Acararú, Jaguaribara, Granja, Senador Sá, Castanhão, Paramoti, Tejuçuoca, Ubajara e Quixadá
Se não é possível antever os abalos, é possível afirmar que o Ceará não terá tremores de grandes magnitudes como os que acontecem no Japão, por exemplo? Eduardo Menezes diz ser possível afirmar que os abalos, com grande projeção de dano, não acontecerão no Ceará.
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O geofísico explica que o Brasil, por conseguinte o Ceará, está situado no centro das placas tectônicas sul-americanas. Em outros países, como Japão é diferente. "Ele está na borda da placa, ou seja, é uma questão de localização".
Onde o Japão é situado - borda - há choque nas placas. São nesses choques que acontecem os maiores tremores. Ao passo que, no centro, as magnitudes são menores.
Como agir durante um abalo?
Ainda que o Ceará não tenha histórico de tremores de grande magnitude, é importante saber como proceder durantes os abalos. "São eventos pequenos. Mas, pode haver fissuras nas casas e, em localidades onde os abalos são mais frequentes, essas fissuras podem se acumular e causar danos mais preocupantes em imóveis menos estruturados", diz Eduardo.
Portanto, durante esses eventos, a Defesa Civil alerta para a necessidade de se evitar o pânico. É recomendável ainda buscar abrigo embaixo de alguma cobertura, como mesas de madeiras. E nunca ficar abaixo de um batente de porta.
Ficar dentro de casa também é recomendado. Sair do imóvel apenas quando houver segurança, no entanto, sem utilizar elevadores.