Abalo em Fortaleza é reflexo, dizem técnicos

Escrito por Redação ,

Hoje, a equipe de Sismologia da UFRN chegará a Sobral para realizar acompanhamento dos tremores de terra

Conforme explica o técnico em Sismologia do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Eduardo Menezes, e o chefe de Sismologia da Defesa Civil do Estado, Francisco Brandão, o tremor ocorrido em Fortaleza foi um reflexo do abalo, com magnitude de 4.3 na escala Ritcher, ocorrido em municípios da região Norte do Estado.

Por volta das 16h25, Sobral registrou dois tremores de terra, com intervalo de cinco minutos entre si. O primeiro atingiu a magnitude 4.3, enquanto o segundo de 3.9. Por conta do mais intenso, os moradores da Capital cearense foram atingidos pela propagação das ondas emitidas do epicentro, localizado entre Jordão, distrito de Sobral, e os municípios de Alcântaras e Meruoca.

Como pontua Francisco Brandão, da Defesa Civil do Estado, os tremores acontecem devido à pressão realizada pelo movimento das placas tectônicas sobre as falhas geológicas. “A terra está em constante movimento”, ressalta. Segundo Brandão, essas falhas são formadas ao longo de milhões de anos, numa seqüência de quebrar e se formar.

No estudo dos fenômenos geológicos, comenta Francisco Brandão, os pesquisadores trabalham com o conceito de “recorrência”. Como justificou, a recorrência se refere ao fato de que “onde a terra tremeu numa determinada época, voltará a acontecer, mas não se pode precisar quando. Pode até a magnitude ser igual à anterior, mas não tem como se precisar a época que será novamente”.

Tanto que, como enumera Eduardo Menezes, com o trabalho de acompanhamento do epicentro em Sobral realizado pela UFRN, quase 900 tremores de terra já foram registrados em municípios da região Norte, desde o início do ano. Muitos, como disse, possuem pequenas magnitudes, sendo detectados somente pelos sismógrafos. Por outro lado, quando apresentam grandes proporções, entretanto, além de serem constatados pelos instrumentos, são ainda sentidos pela população.

Repercussão

Por conta da alta magnitude, 4.0, quando a escala Ritcher, quando esta varia de um e nove pontos, foi percebida em diferentes e distantes bairros da Capital. “Os tremores que acontecerem em Sobral só serão sentidos em Fortaleza quando as magnitudes foram acima de 4.0. Abaixo disso, não se sente. A magnitude é uma só em todos os lugares, mas a intensidade varia de acordo com as condições como solo, da parte estrutural, da distância”, diz o técnico em Sismologia da UFRN.

Para se ter uma idéia, conforme acrescenta Francisco Brandão, a mudança de apenas um ponto na escala Ritcher, pode multiplicar a potência dos tremores emitida do epicentro. Por exemplo, ao aumentar de 4.0 para 5.0 a magnitude do tremor, pode multiplicar em até 30 vezes a intensidade percebida pelas pessoas. Porém, tudo numa fração muito rápida de segundos. “Se uma pessoa estiver dentro de casa e quiser sair ao sentir o abalo, não dará tempo”, compara.

Em geral, conforme o técnico em Sismologia da UFRN, os tremores apresentam a durações de três a cinco segundos. No entanto, enumerou Menezes, a forma como o abalo será sentido por cada um dependerá, inclusive, da sensibilidade da pessoa e do local onde cada um encontra no momento.

Por exemplo, o técnico em Sismologia Eduardo Menezes citou quando uma pessoa está em um prédio muito alto, parado, quando está fora de veículos, como motos e carros, a probabilidade de sentir o tremor é ainda maior. Por isso mesmo, os que se encontram em ambientes mais baixos, a possibilidade de sentir a vibração das ondas é menor. Ontem, ele ainda não sabia precisar a profundidade do epicentro, que, segundo ele, ainda será calculada. Portanto, afirmou que deve ter a profundidade de seis a sete quilômetros, como o registrado na última terça-feira.

Para medir a intensidade das ondas que chegaram a Fortaleza, Eduardo Menezes informou que teria de ser usada a escala usada “Mercali”. Para sabê-la, faz-se um levantamento de todos os pontos atingidos e os relatos da população, como conseqüências dentro das casas. Como antecipou, hoje a equipe de Sismologia da UFRN chegará a Sobral, para acompanhar os tremores.

Janine Maia
Repórter

EPICENTRO EM BRITO
Há 28 anos, Pacajus foi atingido

No próximo dia 20 de novembro, completam-se 28 anos que ocorreu no Estado do Ceará o maior terremoto da Região Nordeste. O epicentro daquele evento sismológico foi registrado na localidade de Brito, no município de Pacajus, limite com Chorozinho, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). O tremor aconteceu por volta da meia-noite e a sua magnitude foi da ordem de 5.2 na Escala Richter.

Em Fortaleza, os torcedores comemoravam uma vitória histórica do Ferroviário contra o Ceará quando foram surpreendidos pelo terremoto. Dos edifícios da cidade, onde o tremor pôde ser sentido com mais intensidade, muita gente desceu dos seus apartamentos sem saber ao certo o que estava acontecendo e só algum tempo depois é que tomaram conhecimento através dos meios de comunicação de que se tratava de um tremor de terra. Esse evento ainda é lembrado como “O Terremoto de Pacajus”.

Nessa mesma região existe uma atividade sísmica que perdura há praticamente 15 anos, apresentando magnitudes e intensidades variadas, os sismógrafos registram todo e qualquer movimento da Terra.

De fato, na atualidade, o Ceará é o Estado que apresenta maior índice de sismicidade do Brasil. Os sismógrafos instalados em nosso Estado podem facilmente demonstrar isso. Algumas vezes as magnitudes registradas chegam próximas a 3 graus (igual, ou superior).

O que é, sem dúvida, um fator de preocupação pois, a partir desse patamar, as edificações começam a mostrar rachaduras, as telhas a se moverem e a população quase sempre fica apavorada.

Histórias

“Na região em que os terremotos acontecem com mais freqüência, os moradores são testemunhas vivas dessas ocorrências. Os depoimentos catalogados são os mais variados: algumas pessoas saem correndo de suas casas quase nuas, outras, se estão dormindo, acordam sobressaltadas e, assim, são muitas as histórias contadas e constatadas”, relata o pedagogo Francisco das Chagas Brandão Melo, chefe do Laboratório de Sismologia da Defesa Civil do Estado do Ceará.

Segundo ele, “é indescritível a sensação de pavor que toma conta dessa gente quando se verifica a ocorrência de um evento dessa natureza. Apesar de todos os avanços da ciência, nem sempre é possível prever o terremoto. Portanto, temos que encarar os fatos e enfrentar um grande desafio: preparar a população para conviver com o fenômeno e qualificar gerações futuras para saber lidar com a questão. É possível afirmar ainda que, onde ocorreu um terremoto uma vez, outro terremoto de igual magnitude voltará a acontecer a qualquer hora do dia ou da noite. Terremotos acontecem duas vezes no mesmo lugar, é só uma questão de tempo”.

Amaury Cândido
Repórter

CONSEQÜÊNCIAS
Escala Mercalli usada para medir gravidade

A gravidade de um tremor de terra é medido pela escala de intensidade Mercalli. Como disse Eduardo Menezes, do Laboratório Sismológica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), leva-se mais tempo para ser realizada, pois é mediante o depoimento das pessoas.

A escala varia de I a XII. Como características, a intensidade I não chega a ser sentida, sendo detectado somente pelos sismógrafos. Já na II, o tremor é sentido por poucos, geralmente em edifícios, objetos que balançam suavemente.

No nível III, o abalo pode ser sentido dentro de casa, com ruídos semelhantes a de um caminhão. Já no IV, o sismo é percebido dentro e fora de casa, fazendo louça, janelas e portas vibrarem e paredes rangerem. Na intensidade V, muitos sentem, pois louças se quebram, portas e janelas se abrem e objetos caem.

Na etapa seguinte, todos sentem. As pessoas chegam a abandonar as casas, mobílias se movem e rebocos caem. O nível VII já assusta a todos. Até mesmo prédio bem construídos sofrem danos. No VIII, há um medo geral e danos em construções irregulares. No IX, há pânico e X rachaduras no solo e deslizamento de terra. Na intensidade XI, pontes são destruídas e no XII os objetos chegam a voar.

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