Uece anula questão sobre Holocausto após ser acusada de antissemitismo no vestibular; entenda
Outras duas questões da prova do último domingo (28) estão sob análise
A Universidade Estadual do Ceará (Uece) foi acusada de cometer antissemitismo em três questões da primeira fase do vestibular 2024.2, realizado no último domingo (28). A Confederação Israelita do Brasil (Conib) informou que, em conjunto com a Sociedade Israelita do Ceará, oficiará a instituição e o Ministério Público do Ceará, “diante do absurdo desta situação".
Em nota repassada pela advogada e diretora da Conib, Andrea Vainer, a entidade alegou que o caso pode configurar tanto ato ilícito quanto improbidade administrativa.
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O assunto ganhou repercussão após publicações do pesquisador sobre antissemitismo contemporâneo, Matheus Alexandre, no X – antigo Twitter. Nas postagens, ele fez comentários sobre as três questões do vestibular e questionou se a prova seria “um teste para aferir o nível de antissemitismo".
“Isoladamente, as questões podem parecer um acidente. No entanto, quando analisadas em conjunto na mesma prova, compreendemos sua intenção: transmitir uma narrativa unilateral que nega ao povo judeu sua história e relação originária com o território do Levante, além da absurda relativização do Holocausto”
O principal alvo de questionamentos foi o item 29 da prova de História. Na pergunta sobre os custos humanos na Segunda Guerra Mundial, a resposta apontada como correta era a que dizia: "O extermínio dos judeus foi uma decisão antieconômica na medida em que sua mão de obra escrava poderia ter sido mais bem explorada pelos alemães".
“A resposta à questão 29 ofende e desumaniza, de forma flagrante e irreparável, a memória das vítimas do Holocausto, na medida em que normaliza as atrocidades cometidas contra o povo judeu pelo regime Nazista e aplica um cálculo de custo-benefício para avaliar o genocídio de seis milhões de pessoas”, defendeu a Conib.
Em nota ao Diário do Nordeste, a Uece informou que, após análise, a questão foi anulada pela Comissão Executiva de Vestibular (CEV).
“A CEV já constatou inconsistência na elaboração dessa questão e, após consultar a banca de elaboração das questões, a CEV concluiu que os itens propostos para análise deixam margem para diversas interpretações e, portanto, nenhuma dessas respostas corresponde à realidade”, explicou a universidade.
SOB ANÁLISE
A Uece também confirmou que as questões 27 e 35 do vestibular estão sendo analisadas pela comissão.
Também do caderno de História, a questão 27 trata da passagem bíblica sobre o êxodo do "povo Hebreu do Egito para a Palestina" conduzido por Moisés. Segundo a Confederação Israelita do Brasil, o item “deturpa de forma maliciosa o texto bíblico”, tentando “apagar os laços milenares do povo judeu com a Terra de Israel".
“Como se sabe, Moises conduziu o povo Judeu à Canaã, Terra de Israel. A denominação “Palestina” surgiu muito tempo depois, no Império Romano, não guardando absolutamente qualquer relação com o contexto da questão apresentada. Frise-se que o povo judeu foi escravizado no Egito. Portanto, é verdadeiramente inconcebível utilizar o termo ‘elite judaica’ ao se referir a um povo escravizado, que fugia da perseguição”, defendeu a entidade.
Já a 35 está entre as questões de Geografia da prova. O assunto gira em torno da discussão do aspecto expansionista territorial israelense, que teria sido revigorada pelo conflito Israel-Hamas.
“A questão 35 foi construída de maneira tendenciosa e carente de respaldo histórico, distorcendo a definição de Sionismo e instigando preconceitos e estereótipos contra a comunidade judaica”, apontou a CONIB.