Estudante do CE que passou em Medicina em Alagoas convive com doença rara

Isadora pretende se mudar com a família para Maceió e, no futuro, retornar a Fortaleza, pois sonha ser médica no Instituto José Frota (IJF)

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Jovem diz que nunca deixou de acreditar que conseguiria alcançar seu objetivo
Foto: Arquivo pessoal

Isadora Cristina Pinheiro, de 17 anos, estava dentro de um carro de aplicativo a caminho do ensaio da formatura quando saiu o resultado do Sistema de Seleção Unificado (Sisu). Sem esperanças de que poderia passar, ela não queria verificar a própria página, mas, encorajada pelos colegas, descobriu: foi aprovada para cursar Medicina na Universidade Federal de Alagoas (UFAL).  

Logo ela, que nunca viajou para fora do Ceará. Logo ela, estudante de escola pública a vida toda. Logo ela, filha única com uma rara doença que acomete os ossos. Era ela: a primeira aluna aprovada em Medicina da Escola Estadual de Ensino Médio Dr. César Cals, no bairro Farias Brito, em Fortaleza. 

Foi uma explosão de alegria com os amigos. No ensaio, a notícia foi compartilhada com os professores da escola. Isadora também fez a mãe, Isabel Cristina, chorar de alegria. O pai, Júnior Rodrigues, por chamada de vídeo, mal teve reação. Retornou minutos depois, cheio de lágrimas nos olhos - assim como o dono do cursinho preparatório para quem ela ligou, logo em seguida. 

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Tempos depois, a alegria inicial deu lugar a uma preocupação. Há cerca de uma semana, ela recebeu a notícia de que foi convocada para cursar o 1º semestre presencialmente. A matrícula pode ser online, mas agora ela e a família correm contra o tempo para angariar fundos e se mudarem todos - a jovem, os pais e a avó - para Maceió, capital alagoana. 

A dedicação de Isadora nos estudos tem motivo: após se formar, quer retornar a Fortaleza e ser médica no Instituto Dr. José Frota (IJF), referência em traumatologia.  E não qualquer médica. Desde criança, quer ser ortopedista. Para isso, sabe que vai se deparar com muitos acidentes e malformações do corpo, mas garante que não tem medo. “Eu tenho é mais vontade”, revela. 

Isadora, aliás, convive desde criança com uma doença rara e hereditária, a osteocondromatose múltipla, que provoca tumores ósseos e gera muitas dores, por vezes, incapacitantes. 

"Foi um problema no ano passado porque tinham momentos que eu não aguentava nem andar, indo para o colégio ou voltando do curso, e tinha que tomar muitos remédios para as dores. Precisava parar, deitar e descansar, senão não aguentava”, confessa. 

Rotina tripla 

Aluna do turno da manhã, Isadora acordava por volta de 5h, todos os dias. Chegava à escola às 6h30 e assistia às aulas até 12h30. Em seguida, partia rumo ao cursinho, onde almoçava. Passava mais um turno entre conteúdo, questões e projeções do próprio futuro. Chegava em casa no início da noite, tomava banho e continuava leituras e trabalhos até 21h30. 

Nessa trajetória corrida, sempre contou com o apoio de pessoas ao redor. “Às vezes, o pessoal prefere guardar seus sonhos, mas eu sempre falei para os quatro cantos do mundo que eu queria fazer Medicina, e meus professores sempre compraram essa ideia comigo”, afirma ela, que gosta da área de Exatas e adora estudar Matemática. 

Além da condição física, a jovem também enfrentou dificuldades para pagar o cursinho extra. “Em 2022, foi com muita peleja, com ajuda de familiares”, conta. Em 2023, como o coordenador já a conhecia, deu um desconto expressivo que coube no orçamento. 

“É muito clichê, mas acredite nos seus sonhos”, ensina. “Não importa o que aconteça, muita gente pensa que não vai dar certo, mas pense pelo lado positivo. Eu sempre arranquei forças de dentro de mim porque só eu ia fazer meu sonho virar realidade”. 

Legenda: Isadora dividia rotina entre escola, cursinho e estudos domiciliares
Foto: Arquivo pessoal

Como doar para a vaquinha 

Os desafios, claro, continuam para a menina. Júnior Rodrigues até pensou em "vender tudo", segundo a filha, mas o coordenador do cursinho sugeriu, antes, criarem uma vaquinha para custear a mudança de Estado e a manutenção durante os estudos. 

A campanha seguirá por tempo indeterminado. Atualmente, a UFAL também passa por greve de servidores e professores, o que pode dar mais tempo para o planejamento. “Ainda não sabemos quando vão retornar as aulas, mas aí consigo arrecadar mais dinheiro para conseguir ir”, afirma Isadora. 

“Tem muita gente comprando o meu sonho junto. É meu sonho desde pequena e preciso muito de ajuda para conquistar. Só a empatia das outras pessoas vai conseguir que eu faça Medicina”, conclui. 

Interessados em contribuir com o projeto de Isadora podem fazer doações para o Pix para o número de telefone: (85) 986614205.

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