Qual o tipo de solo na sua cidade? Novo estudo mapeia perfil no CE e onde é possível plantar

Levantamento permite avaliar potencial de uso agrícola, concessão de crédito rural e recuperação de áreas degradadas

Escrito por
Nícolas Paulino nicolas.paulino@svm.com.br
Homem segura pedaço de solo no Ceará
Legenda: Mapeamento deve contribuir para escolha de áreas de plantio, embora não descarte análises de fertilidade posteriores
Foto: Agência Diário

Do que é feito o chão onde você pisa? Qual é o perfil do solo da sua cidade? Será que é possível plantar nas proximidades? Uma nova ferramenta tecnológica inédita no Brasil, lançada na última quinta-feira (5), pode ajudar agricultores e cidadãos a responderem a essas perguntas. O Levantamento dos Solos do Estado do Ceará já está disponível em forma de aplicativo e pode ser acessado por qualquer pessoa.

A ferramenta foi desenvolvida em parceria entre a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) e a Secretaria do Desenvolvimento do Agrário (SDA), por meio do Projeto São José. O estudo utilizou a escala de 1:100.000 (isto é, cada 1 cm de mapa corresponde a 100.000 cm reais), o que traz maior detalhamento do território.

Segundo Eduardo Sávio Martins, presidente da Funceme, essa é uma atualização do último levantamento estadual, publicado em 1973, cuja escala era menos precisa (1:600.000). Os trabalhos foram iniciados em 2008 e concluídos em 2024, 16 anos depois. O investimento foi de R$15,5 milhões.

1.582
perfis de solo foram identificados no Ceará, divididos em 710 unidades de mapeamento.

Moisés Braz, titular da SDA, destaca que o estudo vai dar dimensão para que prefeitos, Secretarias de Agricultura e de Meio Ambiente possam fazer a análise de solo e permitir que o pequeno agropecuarista ou produtor rural consiga decidir onde colocar investimentos, “para que dê resultado”.

“O Governo do Estado, assim como o Governo Federal, está apostando em fazer muito investimento para desenvolver o campo, para desenvolver a pequena produção. Mas sem estudo, a gente não chega em canto nenhum”, afirma.

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Do que é feito o solo do Ceará?

Engenheira agrônoma e técnica da SDA, Gislane Mendes explica que o Ceará tem maior representatividade de neossolos. Eles se caracterizam por serem mais rasos (de 40 cm a 2 metros de profundidade, em média), arenosos e de cor mais clara. Além disso, são menos desenvolvidos do que outros tipos.

“O solo é a decomposição da rocha, que vai formando vários perfis. Por estarmos num lugar com menos precipitação, temos menos desenvolvimento desse solo. Quando ele é mais raso e chove, alaga, porque a água não drena, não passa”, detalha ela.

Por esses motivos, segundo a especialista, os neossolos de baixa profundidade ou baixa retenção de água têm menos aptidão ao uso agrícola, requerendo medidas como adubações, correção de acidez e cuidados contra erosão.

Pesquisadora escava buraco para análise do solo
Legenda: Amostras dos solos foram enviadas para análises físico-químicas em laboratório
Foto: Divulgação/SDA

Para que serve o estudo do solo?

De forma prática, para a região semiárida, o estudo se torna relevante por permitir:

  • uso eficiente dos recursos hídricos
  • identificação de solos aptos para a agricultura
  • conservação do solo e combate à desertificação
  • fortalecimento da agricultura familiar
  • planejamento de políticas públicas
  • estudos de modelagem hidrológica
  • potencial de terras para irrigação
  • visualização dos mapas de risco de salinização dos solos

“A identificação dos solos aptos é importante para saber onde manejar e produzir”, complementa Gislane Mendes. “Se a gente não usar nosso solo de forma coerente e adequada, vamos aumentar as áreas compactadas, causando desertificação e gerando áreas que não vão mais produzir”.

O mapeamento também permite a avaliação de investimentos públicos, como a mecanização do campo, a distribuição de sementes do programa Hora de Plantar e a irrigação nas propriedades rurais.

Apesar dos avanços, Rafael Cipriano, pesquisador da Funceme, afirma que o levantamento não dispensa os produtores de avaliar a fertilidade do solo para definir as áreas de plantio. “O mapeamento não isenta qualquer tipo de análise do solo”, reforça.

Aplicativo Solos+Ceará
Legenda: Interface do aplicativo permite navegação simples; basta escolher localidade ou posto de coleta para acessar as informações
Foto: Divulgação

Como foi feito o estudo?

Primeiramente pela avaliação de imagens de satélite, a Funceme conseguiu identificar e cartografar a distribuição dos solos, considerando aspectos como o relevo e atributos referenciais.

Em seguida, os pesquisadores dividiram o território em marcos separados por 1 km de distância. A terra foi escavada e enviada para análises laboratoriais, a fim de identificar características físicas e químicas.

Conforme o pesquisador Rafael Cipriano, o projeto pode ser integrado, futuramente, ao Zoneamento Ecológico-Econômico, estudo que orienta as culturas produtivas recomendadas para cada tipo de solo.

“Esse zoneamento já foi feito na região Sul e vai ser atualizado. Temos a proposta de fazer para todo o Estado, levando em consideração as diferentes situações climáticas, os diferentes tipos de solo e quais culturas cultivadas mais se adaptam a determinadas regiões”, descreve.

O presidente da Funceme, Eduardo Sávio, confirma: o zoneamento seria “uma oportunidade pra gente dar um valor agregado maior ao levantamento, para subsidiar a política agrícola do Estado do Ceará”.

O aplicativo Solos+Ceará está disponível para os sistemas Android e iOS.

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