Semáforos apagados ou piscando: registro de defeitos dobra em Fortaleza e Prefeitura gasta R$ 21 mi
Os 5 primeiros meses de 2022 tiveram mais do que o dobro de falhas em relação ao igual período de 2020. De janeiro de 2020 a maio deste ano, foram investidos R$ 21,3 milhões em reparos
Uma realidade no trânsito de Fortaleza é se deparar com as consequências causadas por semáforos defeituosos. O problema - de acordo com dados da própria Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) - vem se tornando mais intenso e recorrente no início deste ano. Os 5 primeiros meses de 2022, por exemplo, tiveram mais do que o dobro de falhas em relação ao igual período de 2020.
Entre janeiro e maio deste ano, foram feitos 1.641 registros de semáforos apagados ou no modo intermitente, quando ficam piscando. No mesmo recorte de tempo do ano passado foram 1.014. No igual período de 2020 foram 745.
Para além do risco aumentado de colisões, lentidão de trânsito e estresse relatado por motoristas, há um impacto também financeiro para os cofres públicos. De janeiro de 2020 a maio de 2022, foram investidos R$ 21,3 milhões em manutenção de semáforos em Fortaleza.
Os dados foram obtidos com exclusividade pelo Diário do Nordeste por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).
Existem dois motivos apontados, epla AMC, como os principais para esse cenário: as intensas chuvas que, de forma atípica, banharam a Capital esse ano (os ventos também incidem com mais força na fiação). Nos 2 últimos anos, cerca de 30% dos registros se concentraram na quadra chuvosa, entre fevereiro e maio.
Além disso, o furto de cabos é associado ao grande número de ocorrências de defeitos. Com isso em mente, alguns cabos de cobre, que são menos desejados em ações criminosas, já começam a ser substituidos por fiação de alumínio em pontos mais críticos, como adiantou Lélio Vale, Coordenador da Central da Mobilidade para Preservação de Vidas no Trânsito pela AMC.
“Continuamos em um trabalho intensivo no monitoramento dos casos na Central onde a gente consegue identificar os locais de furto e junto com a Polícia Civil e Militar conseguimos coibir os furtos e os receptadores”, frisou.
Quase 60% da rede de semáforos de Fortaleza é monitorada em tempo real. Isso significa que furtos de cabos e falhas na rede elétrica são vistos no mesmo momento, como indicou Lélio Vale.
O conjunto de fatores fez com que maio deste ano se tornasse o mês com o maior registro de sinais defeituosos em todo o período analisado. Foram 443 ocorrências de defeitos em semáforos em um contexto de 1.065 equipamentos distribuídos na Capital.
Cada semáforo pode ter mais de uma notificação de falhas e alguns equipamentos podem concentrar esses problemas. Maio, consequentemente, também foi o mês em que mais se gastou com manutenção dos sinais de trânsito, chegando ao valor de R$ 1,19 milhão.
Esse foi o maior valor gasto com reparos no período analisado (janeiro de 2020 a maio de 2022) e no decorrer dos meses também cresceu o número de equipamentos de trânsito. Em janeiro de 2020, Fortaleza tinha 991 semáforos. Um ano depois eram 1045. No primeiro mês de 2022 já eram 1063 - de lá para cá foram implantados mais 2.
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Lélio Vale explica que desde o início do ano há um trabalho de inteligência para evitar esses casos e desde junho são intensificadas ações contra furto e a receptação dos materiais. .
Na sexta-feira (8), segundo o coordenador da Central da Mobilidade da AMC, 0,85% dos sinais, o que representa cerca de 9 dispositivos, estavam com problemas. “A gente consegue dar uma resposta pelo tamanho da nossa equipe, tanto para atender na operação, como na manutenção”, completa Lélio.
Transtorno cotidiano
Motoristas, ciclistas e até quem anda a pé sente as dificuldades de se deslocar por Fortaleza, como é o caso da empresária Jamile Cunha, de 34 anos.
"Ando muito pela cidade e tenho presenciado, com bastante recorrência, semáforos com problemas. Nunca tinha visto isso nos anos anteriores", observa. Moradora do Bairro de Fátima, Jamile cotidianamente precisa percorrer Centro, Montese, Aldeota e Serrinha.
A empresária já presenciou um acidente na Avenida Eduardo Girão com a Rua General Silva Júnior em decorrência da falha em um semáforo.
"Todos comparam essa situação com aquelas onde algum de nós comete um deslize no trânsito e somos multados imediatamente. Quem multa ou fiscaliza o órgão de trânsito quando ele coloca em risco a vida de várias pessoas?", questiona.
Eles sempre justificam os problemas: furtos de fios ou energia. Problema sempre vai existir, mas enquanto órgão que diz preservar a vida das pessoas, tem que estar preparado para resolver prontamente e urgente
Os semáforos organizam o fluxo de carros, motos, bicicletas e pedestres e podem evitar conflitos no trânsito, como explicou Mário de Azevedo, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Em caso de falhas, há risco aumentado de acidentes e maiores transtornos pela demora nos engarrafamentos.
“Os motoristas vão tomar mais cuidado, mas vão haver atrasos, o pedestre - que é mais vulnerável - vai perder mais tempo para chegar a vez dele. Depende da organização dos próprios motoristas ou agentes de trânsito”, explica o especialista .
Mas, afinal, por que isso acontece?
O que acontece para um semáforo apagar ou ficar no amarelo intermitente? Os motivos são múltiplos e passam pelo furto de cabos, instabilidades na eletricidade ou falhas no sistema controlador, como explica Flávio Tapajós, engenheiro de fabricante de controladores semafóricos.
“Acontece mais no período das chuvas até porque, dependendo das condições elétricas, quando a emenda dos cabos fica envelhecida ou quando tem infiltração dentro da caixa de passagem, a ocorrência de curtos circuitos aumenta nesses períodos”, explicou.
As lâmpadas podem queimar e a fiação pode ser arrancada por veículos altos, como completa o mestrando em engenharia de transportes na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
Soluções a longo prazo
Flávio Tapajós explica que um problema técnico, inclusive furto de cabos, precisa ser identificado com propriedade para a proposição de soluções imediatas e a longo prazo.
"A equipe de engenharia orienta que se faça uma manutenção adequada, que pode ser só a restauração dos cruzamentos nos cabos ou o equipamento pode estar inadequado sem uma boa qualidade", detalha.
Uma solução eficiente contra as falhas nos semáforos por causa de roubos de cabos e da chuva, por exemplo, é o sistema subterrâneo. Com isso, dá para evitar a maioria das causas dos sinais em amarelo intermitente.
"A desvantagem é o custo, porque é bem elevado e maior do que simplesmente passar por isoladores. Precisa de obra, eletrodutos e colocar no orçamento a manutenção da pavimentação ou do calçamento", pondera.
Em Fortaleza, começa a ser implantada uma substituição dos cabos de cobre pelos de alumínio, que são menos desejado em ações criminosas.
“Fizemos uma parceria com a Secretaria de Conservação e Serviços Públicos e estamos utilizando esse material para que nos lugares críticos a gente possa colocar. Temos conseguido diminuir muito dos casos de furtos”, adiantou Lélio Vale.
Como são feitos os reparos
A AMC envia técnicos ao local do equipamento para identificar qual a causa da instabilidade e acionar o responsável por solucionar o problema identificado. Quando o problema é a baixa tensão ou falta de energia, a concessionária é notificada.
Nas outras ocorrências, técnicos da empresa terceirizada providenciam o reparo para restabelecer o funcionamento do semáforo. Para controlar o trânsito enquanto os reparos são feitos, agentes são enviados para as ruas e avenidas mais movimentadas ou em horários de pico de tráfego.
Os condutores também devem seguir a regra geral de circulação, prevista no artigo 29 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Em caso de trânsito por fluxos de veículos que se cruzem em local não sinalizado, a preferência de passagem será do veículo que vem pela direita.