Previsão aponta retorno do El Niño ao CE e possível prejuízo das chuvas em 2024; entenda impactos

Quadra chuvosa deste ano não será impactada pela mudança na temperatura do Oceano Pacífico

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Legenda: Próximo ano pode ter menos registros de chuva devido ao retorno do El Niño
Foto: José Leomar

A quadra chuvosa cearense de 2024 pode ser prejudicada pelo fenômeno El Niño, que tem 60% de probabilidade de retorno nos meses de agosto a novembro deste ano, conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Os modelos de previsão, no entanto, não apontam a intensidade disso. A quadra chuvosa deste ano não será impactada.

A informação surge como um alerta sobre o que pode acontecer na próxima estação chuvosa, porque no início deste mês, a La Niña, fenômeno que aumenta as chances de ter um bom período de precipitações, começou a perder força com mais intensidade.

Esse período, então, é considerado como de neutralidade, mas logo o cenário pode inverter. Isso após 3 anos de condições favoráveis às chuvas no Estado com relação à La Niña.

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“Nós acompanhamos através dos canais oficiais, atualizados toda semana, e existe essa tendência de 60% de (retornar o) El Niño, e o impacto para o Nordeste é grande, dependendo de como o Oceano Atlântico vai se comportar”, analisa Flaviano Fernandes, meteorologista do Inmet.

No trimestre agosto-setembro-outubro há 60% de chances de atuação do El Niño, que deve permanecer com 62% de probabilidade para o período setembro-outubro-novembro.

Mesmo assim, não é possível saber a intensidade do fenômeno ou quais municípios do Estado podem ser mais afetados, como pondera  Meiry Sakamoto, gerente de meteorologia da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

"Um ponto importante é que isso não vai afetar as chuvas deste ano e, se isso se configurar, poderá afetar as chuvas do ano que vem. Essa condição de aquecimento acaba impactando de forma negativa a qualidade da nossa estação chuvosa", destaca.

Por isso, o monitoramento contínuo é muito relevante, porque quanto mais distante o alcance das previsões mais incertos os apontamentos podem ser. De todo modo, o Oceano Pacífico Equatorial já está mais quente.

Em janeiro deste ano, por exemplo, a costa do Peru e do Chile já estavam mais quentes do que a média histórica, o que indica a chegada do El Niño.

Legenda: Intensidade do fenômeno só poderá ser observada nos próximos meses
Foto: Thiago Gadelha

Entre dezembro do último ano e janeiro de 2023, as temperaturas do oceano foram de -0,8°C e -0,7°C, respectivamente, abaixo da média. No começo deste mês, essa diferença entre a temperatura e a média foi de -0,5°C.

A oscilação nas águas daquela parte do mundo tem interferência direta sobre as chuvas no Ceará. Caso tenha aquecimento, há mais chances de redução de chuvas no Estado.

“Se tiver o El Niño e as águas do Atlântico Norte estiverem aquecidas, faz com que a Zona de Convergência, o principal indutor de chuvas, não atue. Tem uma grande chance de ser mais seco”, explica o especialista.

Para esse ano, a tendência é que não afete a quadra chuvosa, estamos com a La Niña tendendo para a neutralidade. Então, os meses até por volta de maio vão ficar dentro da normalidade
Flaviano Fernandes
Meteorologista do Inmet

Apesar desse indício de um cenário pessimista, os próximos dados ainda devem mostrar em qual proporção isso pode acontecer. “A tendência que todos os modelos estão mostrando é que vai ocorrer o El Niño, mas temos que ver em qual intensidade”, conclui.

Meiry Sakamoto contextualiza que além dos fenômenos do Oceano Pacífico, o comportamento do oceano que banha o Ceará também determina como deve ser o período chuvoso. Isso pode ser visto nos últimos 3 anos de atuação da La Niña.

Legenda: La Niña favorece as chuvas em vários estados nordestinos
Foto: Helene Santos

"A influência disso aqui no Estado não foi por igual, tivemos um ano bom de chuva, em 2020, e depois os volumes acumulados ficaram dentro dos valores médios, em 2021 e 2022. Só a La Niña não garante as chuvas porque isso depende do Oceano Atlântico”, completa.

Entenda La Niña e El Niño

Enquanto no fenômeno La Niña acontece o resfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, além de mudanças na circulação atmosférica, no El Niño há o aquecimento oceânico. Ambos impactam as temperaturas e os regimes de chuvas em diversas partes do mundo, como o nordeste brasileiro. 

O efeito quente aparece, principalmente, no final do ano e esse período acabou dando o nome do fenômeno, como explica Meiry. "As primeiras pesquisas sobre esse aquecimento foram justamente em dezembro na época do Natal, e na língua espanhola, tem o menino Jesus 'El Niño', que deu o nome".

Um período depois, notaram o fenômeno de resfriamento da superficie do oceano que ganhou o nome oposto: La Niña.

 

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