Porão com piso intacto é achado em casarão do século XIX durante restauração no Centro de Fortaleza
Residência será transformada em centro cultural, com previsão de abertura ao público em setembro
As obras de restauração do casarão histórico da Rua Sena Madureira, no Centro de Fortaleza, estavam em pleno andamento quando um cômodo de existência desconhecida foi descoberto: um porão erguido entre paredes de cerca de 50 cm de largura.
O compartimento fica abaixo do piso onde se estima que há cerca de 120 anos funcionava a sala do palacete, e foi encontrado pelo marido da empresária espanhola Pilar Jesus Rúbio, 54. Eles alugaram a construção do século XIX para instalar um centro cultural.
Pilar relata que, por ser um casarão antigo e pela altura do primeiro piso, o marido deduziu que havia um cômodo no subsolo. “Ele abriu um buraco na parede pela lateral, iluminou e viu que estava cheio de entulho”, relembra.
Após retirar todo o entulho e peças de madeira que preenchiam o porão, o casal identificou que a estrutura se assemelhava à de uma copa, com balcão e pequenos armários de cozinha. O piso, em quadrados vermelhos com branco, estava intacto.
Um acesso ao compartimento foi aberto pela parte de dentro da casa e, em breve, será instalada uma escada em espiral, para que os visitantes possam entrar. “Provavelmente, será uma adega para degustação de vinhos”, projeta Pilar.
Casarão funcionará o centro cultural
Um refúgio tranquilo em meio ao caos do Centro de Fortaleza. É nisso que o casarão histórico, situado ao número 907 da Rua Sena Madureira, deve se transformar, após restaurado e transformado no Centro Cultural Nalage – que deve abrir ao público em setembro.
O Diário do Nordeste visitou e registrou, além do porão, cada cômodo do palacete de dois andares, que preserva quase todas as estruturas e características originais (veja tour abaixo).
Segundo a empresária espanhola Pilar Jesus, a ideia é não apenas “resgatar os valores e a cultura antiga do Ceará”, mas criar “um espaço em que a gente interaja entre si”.
Não é um centro cultural normal. Aqui não vai ter TV nem Wi-Fi. Se você tem um celular, bem-vinda, pode tirar foto, fazer o que quiser. Mas o que queremos que aconteça aqui é que as pessoas interajam.
O espaço, cuja fachada já foi pintada com as cores das bandeiras da Espanha e do Brasil, contará com biblioteca, café, salão musical, espaço para fumantes, sala de meditação, salão de jogos e até alpendre com redes armadas.
“Todo dia, gente de qualquer idade pede pra entrar e ver. Estudantes, gente que os avós têm casarões antigos, gente de 70-80 anos que se admira que a casa não vai ser derrubada”, relata Pilar, segundo quem “as portas estão abertas a quem quiser entrar”.
Curiosidade para ver o casarão
Talvez o que desperta o interesse de quem passa e vê os janelões abertos é o movimento, a vida que ocupa os cômodos de um casarão centenário numa cidade que pouco valoriza essas construções.
Apesar de ter a estrutura e detalhes arquitetônicos preservados, o palacete já perdeu muito. As tomadas de porcelana da casa e a banheira do lavatório principal foram roubadas, assim como outros itens que remetem ao século em que foi erguida.
Segundo Pilar, o proprietário do lugar não sabe informar a data de construção, mas arquitetos que visitaram a construção estimam – justamente a partir de detalhes do piso, da pintura e até dos armadores de rede – que ela tem cerca de 120 anos.
Em entrevista ao Diário do Nordeste, o arquiteto Romeu Duarte, professor e pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC), destacou que o edifício é um dos últimos da virada do século XIX para o século XX que ainda resistem no Centro.
Em junho deste ano, a Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor) informou à reportagem que o edifício histórico não é um bem tombado pela Prefeitura, mas que há pedido de tombamento realizado.
Veja tour pelos cômodos do casarão