“Paixão no Aracati”: festa de Carnaval durante a Semana Santa causa polêmica entre religiosos
Festejos estão programados para começar logo após a Sexta-Feira Santa e representantes católicos entendem como “desrespeito à fé”
A folia tradicional do Carnaval de Aracati, no Litoral Leste do Ceará, encontrou novo espaço no calendário, devido às restrições da pandemia, na Semana Santa. Essa mudança, no entanto, causa insatisfação de católicos, porque os festejos estão programados para logo após a virada da Sexta-Feira da Paixão.
Por causa disso, foram divulgadas notas contrárias à realização da festa pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Regional Nordeste e por Dom André Vital, bispo de Limoeiro do Norte. As atividades acontecem em Canoa Quebrada e na Cacimba do Povo.
O tema foi motivo de comentários contrários e de apoio à realização do carnaval fora de época da cidade em publicações nas redes sociais da Prefeitura e das organizações religiosas.
A Prefeitura de Aracati divulgou a programação na última sexta-feira (18) e o posicionamento de que não haverá festividade na Sexta-Feira Santa, que acontece dia 15 de abril.
“Jamais foram anunciadas agendas que atrapalhassem os eventos religiosos ou que pudessem desrespeitar os valores cristãos. A programação divulgada corrobora isso”, destacou a Prefeitura.
A abertura dos portões acontece às 0h15 do sábado (16) e a primeira apresentação está marcada para às 2h com o cantor Léo Santana. Também fazem parte do evento Bell Marques, Zé Vaqueiro, Matheus Fernandes, Diego Facó e bandas locais que sobem aos palcos durante a Semana Santa.
Movimentação interpretada como desrespeito “à piedade e à fé do povo cristão”, como definiu a nota assinada por bispos da CNBB. Os religiosos pedem a revisão do evento para outra data.
"O feriado religioso tem um sentido muito preciso: não é um dia destinado ao descanso ou aos passeios turísticos, mas ao recolhimento e à oração. No caso da Sexta-Feira Santa é destinado à meditação sobre o sofrimento, a paixão e morte de Cristo por amor à humanidade”, detalha o texto.
Por outro lado, a Prefeitura de Aracati indicou no posicionamento que há realização de festas no Sábado de Aleluia em diversas cidades e que as festas acontecem distantes das igrejas.
“A Sexta-Feira da Paixão será dedicada exclusivamente à reflexão e aos eventos religiosos. A cidade não terá atrações neste dia além das tradicionais encenações da Via Crucis como a da Quixaba, que este ano voltará a ser realizada após 2 anos, com apoio da Prefeitura”, acrescentou no informe.
Motivo do repúdio
O Dom André Vital, bispo de Limoeiro do Norte - que abrange vários municípios como é o caso de Aracati - publicou uma nota de repúdio em que ele considera o evento como "desrespeito aos católicos, sob o pretexto de diversão e comércio”.
"A desculpa de que vivemos em um Estado laico, além de pueril, é uma afronta à inteligência média da população: o fato de Estado ser laico também significa não poder interferir ou perturbar o direito natural de um povo viver sua religião", detalhou.
Isso porque a interpretação do religioso é a de que o período da Semana Santa deve priorizar o recolhimento e abrir mão disto é “o mesmo que estar conivente com a destruição de valores basilares da sociedade”, como explicou em nota.
Protocolos da pandemia
A Prefeitura de Aracati exige o uso de máscaras e comprovante do esquema vacinal completo contra a Covid-19, porque os espaços de festa serão fechados. Além disso, está proibida a circulação de paredões de som na cidade ao longo da Semana Santa.
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A gestão também incentiva a participação no evento em razão do turismo, que é uma das principais atividades de geração de renda no município. “Centenas de famílias dependem do turismo para garantir seu sustento, e esta retomada responsável é muito importante para todo o setor”, completou.