Ministra Anielle Franco lança no CE Plano Nacional para jovens negros: 'prioridade é combater mortes'

Políticas públicas devem ser criadas após processo de diagnóstico feito em todos os estados brasileiros

Escrito por Thatiany Nascimento e Lucas Falconery , ceara@svm.com.br
Legenda: Ministra veio ao Ceará para o lançamento das caravanas
Foto: Fabiane de Paula

A ministra Anielle Franco, do Ministério da Igualdade Racial (MIR), lançou as caravanas para criação do Plano Juventude Negra Viva, em Fortaleza, com autoridades e movimentos sociais, nesta quinta-feira (18). Além do simbolismo da terra do abolicionista Dragão do Mar, o Ceará também foi escolhido para o evento, conforme a ministra, devido às ações institucionais por parte do Governo Estadual de compromisso com a promoção da igualdade racial.

A proposta é criar um Plano a ser incorporado e executado pela gestão federal no qual constem as principais demandas da juventude negra, após realização das caravanas nos 26 estados e no Distrito Federal, entre maio e agosto deste ano. São feitas consultas sobre as principais demandas não só da Segurança Pública, mas também da Saúde, Esporte e do acesso à Ciência e Tecnologia, por exemplo.

Para o encontro na capital cearense, também veio Yuri Silva, diretor de Políticas de Combate e Superação do Racismo. Cumprem agenda no Ceará, nesta quinta, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.

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Anielle frisa que combater mortes de jovens negros é o foco na atuação do MIR. "Eu tive que numerar prioridades e dentro delas eu tenho enfrentamento ao genocídio da população preta, principalmente, da juventude", destaca.

"Estamos construindo algo coletivo e que possa ter política pública concreta que chegue na ponta, porque não basta estarmos no Ministério pensando nesses programas sem que chegue aqui", resume Anielle.

As atividades acontecem, conforme a ministra, para coletar dados e informações sobre a letalidade contra a juventude negra. "É um diagnóstico de território, pensar qual o lugar mais crítico, por onde a gente começa”, acrescenta.

Para além de aperfeiçoar o plano, vamos pensar o que é de mais imediato, porque dos últimos 10 anos para cá os dados que a gente tem de assassinatos da juventude negra é uma crescente de 73,3%
Anielle Franco
Ministra da Igualdade Racial

Do Estado, a vice-governadora, Jade Romero, a secretária da Igualdade Racial do Ceará, Zelma Madeira, e a secretária da Juventude do Ceará, Adelita Monteiro, fazem parte do evento. Além disso, movimentos estudantis e das periferias integram o grupo.

Legenda: Autoridades do Estado foram convidadas para o evento
Foto: Fabiane de Paula

Além do lançamento, a programação se estende nesta sexta-feira (19) até quando deve ser realizada a oficina.

Eixos-temáticos das oficinas:

  • Segurança Pública e acesso à Justiça;
  • Trabalho, Emprego e Renda;
  • Educação, Esporte e Lazer;
  • Democratização do acesso à Cultura e à Ciência e Tecnologia
  • Promoção de Saúde;
  • Garantia do Direito à Cidade e Valorização dos Territórios.

"Ontem eu estive na Câmara e disse a seguinte frase: 'a gente não vai mudar nunca mais para caber dentro da política, é a política que tem de mudar para que a gente caiba nela", destaca Anielle.

Dessa forma, a ministra conta da parceria com as outras pastas do Governo Federal para a implementação das políticas públicas

"A gente tem um sonho e um projeto político de País. Me arrepio de olhar para vocês hoje, lançando o Plano Juventude Negra Viva, porque no meu País vocês estarão vivos e respeitados do jeito que são", acrescenta a ministra.

Cenário racial

Zelma Madeira contextualiza que as demandas dos povos negros são manifestadas desde o processo de escravização. Por isso, como analisa a secretária, é preciso resistir e se aliar para a construção de uma política antirracista. 

"A gente precisa saber qual o lugar da gestão e dos movimentos sociais para a gente construir alianças quando for possível", frisa a secretária. Zelma é colunista do Diário do Nordeste onde escreve sobre negritude

Aqui é possível pensar o povo negro não só como beneficiário de uma política, mas com capacidade de formular políticas para manter o povo negro vivo, em especial, a juventude
Zelma Madeira
Secretária da Juventude do Ceará

Legenda: Foi debatido o cenário racial no País e no Ceará
Foto: Fabiane de Paula

Jade Romero destaca a relevância de ouvir diretamente dos jovens quais são as principais demandas para atuação dos governos contra o racismo.

"Nós temos muitos desafios, mas eu quero parabenizar a ministra pela sensibilidade de rodar o Brasil para construir a política ao lado das pessoas, da juventude, e dar o direito para quem vive o racismo na ponta", destaca Jade.

Sem dar demais detalhes, a vice-governadora disse que no dia 26 de maio deve acontecer um anúncio do Governo do Estado voltado para a questão racial. "Fazer o Ceará mais igualitário e combater esse racismo estrutural e a misoginia, que é um desafio para todos nós", completa.

O que é esse Plano?

O Plano Juventude Negra Viva foi decretado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 21 de março, com o objetivo de elencar demandas da população negra jovem de todos os estados.

Por isso serão feitas oficinas em todo o País, por meio das caravanas, com foco na redução da letalidade entre jovens negros de todo o Brasil. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, de 2021, apontam que pessoas negras representam 77,6% das vítimas de homicídio doloso.

Além disso, o Ministério da Igualdade Racial analisa o levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz, entre 2012 e 2019, que demonstrou que a taxa de mortalidade por homicídio de jovens negros 6,5 vezes maior que a taxa nacional. 

Legenda: Movimentos da juventude e da população negra fizeram parte do evento do Ceará
Foto: Fabiane de Paula

No Ceará, o número de pessoas negras, entre 15 e 29 anos, somaram 1.808 jovens mortos, em 2021, ainda conforme os dados divulgados pelo MIR. Do total de mortes causadas por agressões intencionais de jovens no Ceará naquele ano, 93% são de jovens negros, o que está acima da média nacional de 82%.

O Plano promove os valores da igualdade e da não discriminação, somando esforços do Estado, em diálogo com a sociedade civil. Além das caravanas, a população pode contribuir com sugestões por meio do Fala.BR.

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