Herpes causa morte de pelo menos dois soins no Parque do Cocó

A transmissão ocorreu por alimentos mordidos entregues aos animais. Outras 12 mortes dos bichos estão sendo analisadas

Escrito por Angélica Feitosa , angelica.feitosa@svm.com.br
Sagui ou soin no Parque do Cocó
Legenda: Soins convivem diretamente com os seres humanos, e muita gente que frequenta o Cocó morde um alimento a entrega para um dos animais
Foto: Alex Costa/SVM

Pelo menos dois soins (ou saguis) morreram contaminados por herpes humana no Parque Ecológico Estadual do Cocó. Foi o que concluiu laudo cadavérico encomendado pelo Instituto Pró-Silvestre (IPS) realizado em dois animais do parque. O documento saiu neste fim de semana.

Segundo o médico veterinário Marcelo Jucá, que compõe o IPS, outros 12 macacos morreram apresentando sintomas semelhantes. Os resultados das necrópsias deles ainda devem sair.

Jucá ressalta que 90% dos seres humanos apresentam o vírus de herpes humana. No entanto, nos homens, a doença pode ser assintomática. Já nos primatas, como os macacos, ela é letal.

O IPS é uma Organização Não Governamental (ONG) de defesa dos animais silvestres.

Compartilhamento de alimentos

O Parque do Cocó tem poucas famílias de soins vivendo em seu habitat, mas a quantidade de animais em cada uma delas é alta. Por serem da mesma família, os animais acabam compartilhando espaços, alimentos e, como consequências, doenças.

Esses animais convivem diretamente com os seres humanos, e muita gente que frequenta o parque morde um alimento a entrega para um soim.

“Temos inclusive relatos de pessoas que vão ao parque só para dar comida a esses animais. Se alguém vai com uma banana, morde e passa para o bicho. Se essa pessoa tiver herpes, a contaminação é certa”, aponta o veterinário.

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Herpes

De acordo com dados do Ministério da Saúde, de 2019, 80% dos brasileiros são infectados com o vírus da herpes. Esses micro-organismos ficam em estado latente e podem ser reativados em estágios diferentes da vida, sendo transmissíveis quando se tornam ativos e criam bolhas avermelhadas nas regiões oral e genital.

Essas bolhas contêm uma mucosa carregada com a infecção. Caso estourem, criam úlceras altamente contagiosas, que podem ser transmitidas pelo contato.

Os corpos dos soins analisados apresentavam os mesmos sintomas. Lesões de pele e nas mucosas afetaram diversos órgãos, como pulmão. Depois que um macaco do grupo é contaminado, a tendência é que ele espalhe entre os agregados e a doença, por ser altamente fatal, pode fazer com que todos os membros de um bando morram. Com a possibilidade, inclusive, de contaminar outros grupos.

Pesquisa sobre animais no Cocó

Titular da Coordenadoria de Proteção e Defesa dos Animais (Coani), da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema), Jeová da Costa aponta que foi realizado o contato com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) e profissionais parceiros para realizar o transporte desses animais ao laboratório para posterior diagnóstico da ocorrência.

“Gostaria de fazer um apelo para que população que faz trilha, que faz exercícios, anda pelo Cocó, evite alimentar os animais”.
Jeová da Costa
Titular da Coordenadoria de Proteção e Defesa dos Animais (Coani)

Além dos casos documentados, a pesquisa foi ampliada a outros animais que não demostram estar com sintomas como precaução de saúde da fauna do Cocó.

O prazo dado pela Coani é de até 50 dias para ter os dados concretos da situação dos animais do parque.

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