Guia para pais: como apoiar os filhos na reta final do Enem 2025
Especialista explica que o segredo está em acolher sem cobrar e confiar sem controlar.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) costuma ser um período de ansiedade para os estudantes que sonham com uma vaga no Ensino Superior. Ao longo do ano — mas também durante a semana entre o primeiro e o segundo dia de prova —, o apoio dos pais pode influenciar o desempenho dos filhos. Saber incentivar, aliviar a pressão e contribuir na rotina de estudos é essencial para ajudar sem aumentar o estresse.
A psicóloga clinica Roberta Cavalcante, orientadora profissional e de carreira e docente do curso de psicologia da Universidade de Fortaleza (Unifor), afirma que o clima emocional em casa tem influência direta no estado mental do estudante. Com isso, mesmo querendo ajudar, muitos pais podem acabar aumentando a pressão sem perceber.
“De fato, muitos pais querem ajudar, mas confundem apoio emocional com incentivo excessivo, cobrança ou superproteção. Oferecer apoio emocional verdadeiro é, acima de tudo, ajudar o filho a se sentir seguro, valorizado e capaz, independentemente do resultado”, afirma a psicóloga.
Nesse contexto, a professora explica que o estudante pode sentir medo de não se sair bem na prova, mas também de decepcionar os pais. Cabe aos adultos transformar esse receio em confiança. “Creio que o que mais pesa para o jovem não é a prova, é o olhar dos pais. Quando esse olhar é de amor e não de cobrança, o medo se dissolve”, afirma.
O segredo, de acordo com ela, está em acolher sem cobrar e confiar sem controlar. “O melhor que os pais podem fazer é ser um porto seguro, e não um fiscal de desempenho. Mais do que dicas de estudo, o filho precisa de presença afetuosa, escuta e confiança”, indica.
Como saber que a cobrança virou pressão excessiva?
Segundo Roberta Cavalcante, é fundamental que os pais saibam dar espaço para eles, porque isso faz parte do processo de confiança, amadurecimento e regulação emocional desses jovens. “Incentivar não é controlar e apoiar não é decidir pelo outro. E dar espaço não é se afastar, mas permitir que o filho tenha voz, tempo e autonomia”, destaca a psicóloga.
Alguns sinais podem mostrar aos adultos que esse limite está sendo ultrapassado. É o caso, por exemplo, de quando o diálogo se torna uma fonte de tensão na família.
“Se cada conversa sobre o Enem termina em irritação, silêncio ou lágrimas, é sinal de que o tema deixou de ser apoio e virou peso. A cobrança saudável motiva, [enquanto] a pressão desgasta o vínculo”, afirma.
Outras situações são quando o foco está mais no resultado do que no esforço, o jovem começa a evitar falar sobre os estudos ou os pais assumem o protagonismo do processo.
Além disso, o estudante pode demonstrar sinais de exaustão emocional quando estresse ultrapassou o limite, como:
- Dificuldade para dormir;
- Dores de cabeça;
- Perda de apetite;
- Irritabilidade;
- Fala frases como “não aguento mais”.
Fazer comparações com pessoas que já passaram no Enem também mostra que algo não está adequado. “A cobrança vira pressão quando o medo de decepcionar os pais é maior do que o desejo de realizar o próprio sonho”, afirma a professora.
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Dicas para apoiar os filhos no momento final do Enem 2025
Confira as dicas da psicóloga clinica Roberta Cavalcante.
- Acolha antes de aconselhar. O primeiro passo é escutar. Deixe o filho falar, desabafar e chorar, se ele precisar. O acolhimento verdadeiro é presença silenciosa e empática.
- Mostre confiança no futuro. Os pais são os principais transmissores de esperança. Quando os pais acreditam, o filho encontra força para recomeçar.
- Elogie o esforço, e não somente o resultado. Reconheça o empenho, a disciplina e a coragem de tentar.
- Evite comparações. Cada jovem tem seu tempo, seu ritmo e sua trajetória. Comparar apenas aumenta o sentimento de fracasso e diminui a motivação.
- Proponha diálogo com leveza. Depois que as emoções se acalmam, é hora de conversar sobre o futuro. Pergunte: “O que você pensa em fazer agora?”, “quer que eu te ajude a olhar outras opções?”. Isso mantém o vínculo e reforça o senso de autonomia do jovem.
- Reforce o amor incondicional. Os pais não precisam “resolver” a dor, precisam sustentar a calma, oferecer colo e mostrar que o sonho continua possível. Isso será de grande valia a seu filho se sentir amado.
E quando o resultado não é o esperado?
Quando o resultado do Enem ou de outra prova de vestibular difere do esperado, há um momento emocionalmente delicado tanto para o jovem quanto para a família. Nessa hora, o mais importante é acolher antes de aconselhar e ouvir antes de interpretar, sugere a psicóloga.
Do ponto de vista psicológico e relacional, ela explica que o estudante lida com frustração, insegurança e medo de decepcionar, sentimentos que podem gerar silêncio, irritação ou desânimo. “A reação dos pais nesse momento marca profundamente como ele vai aprender a lidar com os fracassos e desafios da vida adulta”, alerta.
Nessa hora, o papel dos pais é ensinar o filho a lidar com a situação sem pressão. “Acolher primeiro, escutar com paciência e, só depois, ajudar a reconstruir o caminho. Mais importante do que acertar o caminho é saber que, mesmo nas curvas, há alguém ao lado”.