Grupo de cearenses moradores do RS se reúne em trabalho voluntário para ajudar vítimas de enchentes
Nascidos de Aquiraz ao Vale do Jaguaribe, eles se juntaram a outros nordestinos para levar suprimentos aos afetados
Comida, água e materiais de higiene e limpeza são, hoje, as principais necessidades das vítimas das enchentes que afetam o Rio Grande do Sul há mais de uma semana – e grande parte desses itens tem chegado às famílias pelas mãos de cearenses e de outros nordestinos.
Um grupo formado por pessoas do Ceará e de outros estados do Nordeste, moradoras de cidades gaúchas, se reuniu para arrecadar e distribuir doações e alimentação às famílias atingidas pela tragédia que assola o estado sulista.
Originalmente criado como espaço de socialização e apoio entre os nordestinos que vivem no Sul, o grupo com mais de 300 pessoas se transformou numa mobilização para juntar recursos e comprar itens essenciais às vítimas das cheias.
De Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza, o representante comercial Rodrigo Medeiros vive em Canela (RS) há 10 meses e tem assumido a linha de frente do voluntariado. Ao contrário das vizinhas, a cidade não foi atingida por enchentes.
“Aqui tivemos deslizamentos, algumas áreas foram bem atingidas. E as estradas foram muito afetadas. Começamos essa campanha assim que iniciaram as inundações. Estamos vivendo aqui na Serra Gaúcha um cenário caótico”, descreve Rodrigo.
As famílias têm perdido suas casas, eletrodomésticos, móveis. Muitas estão desabrigadas, porque a água levou tudo. As pessoas estão necessitando muito de ajuda. Voluntários estão exaustos, mas trabalhando, levando mantimentos, comida, materiais de higiene pessoal.
Rodrigo disponibilizou uma conta bancária pessoal para receber as doações via PIX. Até essa terça (7), cerca de R$ 12 mil já haviam sido arrecadados. Em publicação nas redes sociais, o cearense destaca que fará uma prestação de contas das arrecadações e gastos.
“Temos recebido essas doações via PIX, e presto contas no Instagram. Temos transformado os recursos em alimentos, colchões, cobertores, material de limpeza, fraldas, lenços umedecidos, pomadas para assaduras e outros produtos”, resume.
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‘Pessoas estão devastadas’
Além dos materiais, a mão de obra entra na conta das doações. A estudante de fisioterapia Danielle Fernandes, 34, é outra cearense que compõe o grupo de voluntários, e define o que tem sido mais difícil em meio à tragédia: “é ver como as pessoas estão devastadas”.
“Estamos descendo todos os dias com materiais de limpeza, de higiene pessoal e com alimentos prontos, porque as pessoas não têm como fazer. Estamos indo nos locais mais difíceis. Aqui o que tem mais precisado em todas as localidades é água potável”, frisa.
Muitos perderam suas casas, seus comércios, seu ganha-pão. Tem casas que ficaram só com o teto, outras nem isso. A fragilidade que as pessoas estão, precisando mesmo do básico…
Nas redes sociais, a cearense tem publicado imagens de como estão as ruas das localidades mais afetadas. A lama resultante da enchente e o entulho que sobrou das casas predominam no cenário.
Danielle aponta que, diante da conjuntura, é a solidariedade – do próprio grupo e de pessoas do Brasil inteiro – que renova as energias para continuarem.
“O que tenho visto de mais bonito é a solidariedade das pessoas, empresas e transportadoras de Fortaleza se unindo pra trazer alimentos pra cá… Acredito que o Brasil todo está se solidarizando com isso”, comenta.
Chuvas no RS
As enchentes no Rio Grande do Sul são consequência dos temporais que atingem o estado desde o final de abril, e já deixam mais de 90 mortos e de uma centena de desaparecidos até a manhã dessa quarta (8).
Em Porto Alegre, o Lago Guaíba está mais de 2 metros acima da cota de inundação, estipulada em 3 metros. A menor medição, feita há quatro dias, havia apontado 5,16 metros.
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Conforme dados dos balanços locais, o maior nível já registrado pelo Guaíba foi de 5,33, na manhã de domingo (5). O recorde anterior era de 1941, quando 4,76 metros foram registrados.
O nível do Guaíba, no entanto, deve levar um tempo maior para baixar. Uma projeção do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS aponta que o rio só deve chegar abaixo dos três metros em pelo menos 30 dias.