Evento raro: saiba quantas vezes choveu em todas as cidades do Ceará nos últimos 50 anos

Para que isso aconteça, diversas condições climáticas devem atuar conjuntamente

Escrito por André Costa , andre.costa@svm.com.br
Legenda: Neste ano, o feito quase foi atingido em março, quando 181 cidades foram banhadas em um intervalo de 24 horas
Foto: Arquivo/Diário do Nordeste

De um modo geral, o Sertanejo não tem do que reclamar da quadra chuvosa deste ano no Ceará. Salvo alguns dias de exceções, o período tem sido de bons índices pluviométricos e 2022 pode entrar para um seleto grupo cuja média histórica anual foi superada. Na última década, apenas 2020 e 2019 alcançaram tal feito.

Mas, com tantos dias chuvosos, será que o Estado já foi banhado 'de cabo a rabo' alguma vez? A pedido do Diário do Nordeste, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) realizou uma varredura minuciosa dos últimos 50 anos.

Neste intervalo, em apenas três oportunidades o Ceará teve todas as 184 cidades banhadas pela chuva.

Um feito raro e que quase foi alcançado neste ano. Em 16 de março, as precipitações atingiram 181 dos 184 municípios cearenses, tornando-se o dia mais chuvoso, para março, desde 1973, ano em que a Funceme iniciou o monitoramento climático no Ceará. 

A primeira vez que o Estado conquistou essa marca foi em 2004, no dia 27 de janeiro. À época, o maior volume foi registrado na cidade de Cascavel, como 150 milímetros. Logo na data seguinte, em 28 de janeiro, o feito voltou a se repetir. Desta vez, o município de Mauriti liderou o índice, com 180 mm.

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A terceira e última vez que as chuvas atingiram todas as cidades cearenses foi em 2009, no dia 3 de março. Naquela data, a cidade de Milhã, no Sul do Estado, obteve o maior volume, com 115 milímetros. 

A gerente de meteorologia da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Meiry Sakamoto, explica que, em 2009, diversas condições climáticas favoreceram o posicionamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) sobre o Estado do Ceará causando chuvas generalizadas.  

"O oceano Pacífico equatorial apresentou uma La Niña de fraca a moderada. O campo das anomalias de temperatura da superfície do mar sobre oceano Atlântico tropical ficou muito favorável, pois configurou-se o chamado dipolo negativo, ou seja, águas do Atlântico tropical sul relativamente mais aquecidas do que as águas do oceano Atlântico tropical norte. Essas condições favoreceram as chuvas generalizadas", detalha.

Evento raro

É justamente a combinação desses fatores que pode possibilitar chuvas bem distribuídas no território cearense. Sakamoto acrescenta que é necessário "a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) está posicionada sobre o Estado [para que as chuvas sejam generalizadas]. Para isso acontecer, precisamos de condições atmosféricas e oceânicas favoráveis".

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Se antes eventos como estes não eram comuns, agora tendem a ser ainda menos. Meiry alerta que a "região semiárida nordestina encontra-se dentre as mais vulneráveis às mudanças climáticas" e, portanto, a ocorrência de chuvas gerais, como ocorreu em 2004 e 2009, podem se tornar raros.

"Os dados de temperatura da superfície do mar do Atlântico tropical e as projeções dos modelos apontam cenários futuros com um maior aquecimento na porção norte. Em termos climatológicos, isso poderia prejudicar o posicionamento da ZCIT mais próxima a costa do Nordeste", diz.

Diante dessas mudanças, a especialista alerta ainda que eventos extremos de chuvas poderão ser mais frequentes, porém, de forma localizada territorialmente falando.

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