Estrutura, cursos e pesquisas: saiba como vai funcionar a Escola de Saúde Pública de Fortaleza
Instituição deve ganhar prédio definitivo em abril de 2024, mas já está em atividade para a criação de 5 cursos de especialização
Como ter mais profissionais dedicados e capacitados a, de fato, atender as carências da população? O conhecimento de excelência é ponto de partida. Na saúde, uma das áreas mais desafiadoras da capital cearense, essa formação será concentrada na Escola de Saúde Pública de Fortaleza (ESPFor), regulamentada nessa quinta-feira (14).
A instituição já possui 8 núcleos de atuação e 5 projetos de cursos de especialização que devem ser disponibilizados para os servidores de unidades básicas, hospitais e Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Fortaleza. Já existem parcerias com universidades e há a ideia de oferecer formações para a comunidade externa.
No momento, a equipe da ESPFor é composta por 20 servidores e funciona na Secretaria da Saúde de Fortaleza (SMS), a qual é vinculada, mas deve ganhar uma sede em abril de 2024, no antigo prédio do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), na Praia de Iracema.
Os primeiros cursos de especialização da ESPFor devem ser:
- Enfermagem em cardiometabolismo na estratégia saúde da família
- Saúde na primeira infância
- Saúde do adolescente
- Saúde mental
- Gestão da informação e dados sensíveis nos processos de trabalho no SUS
O funcionamento da Escola de Saúde Pública de Fortaleza foi detalhado pela gestora da unidade, a médica pediatra Anamaria Cavalcante e Silva, de 76 anos, em entrevista ao Diário do Nordeste. Anamaria, inclusive, foi a responsável também pela criação da Escola de Saúde Pública do Estado, há 30 anos.
A SMS já possui uma coordenadoria de Educação, Pesquisa e Programas Especiais, mas a escola permite a criação de cursos de lato sensu, ou seja, de especialização e parcerias locais, interestaduais e até internacionais. Os projetos de criação dos cursos serão enviados para o Conselho Estadual de Educação do Ceará (CEE) para aprovação.
“Une a Saúde e a Educação eu fico muito feliz de ter essa oportunidade”, resume Anamaria. Os braços da ESPFor vão da residência em saúde à pós-graduação à distância.
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Confira os 8 núcleos de atuação:
- Núcleo de Desenvolvimento Educacional em Saúde
- Núcleo de Educação Permanente em Saúde
- Núcleo de Educação à Distância
- Núcleo de Residência em Saúde
- Núcleo de Pós-Graduação à Distância
- Núcleo de Educação Profissional em Saúde
- Núcleo de Integração da Saúde na Educação Saúde
- Núcleo de Pesquisa, Extensão e Inovação em Saúde
“No dia 10 de janeiro vamos ter a nossa primeira reunião com o Istituto Superiore di Sanità, uma grande escola de saúde pública da Itália. Também já nos reunimos com a escola que fica na Fiocruz”, adianta sobre as articulações para promover os cursos na unidade de Fortaleza.
Outros cursos previstos são de engenharia ou arquitetura hospitalar e do direito à saúde. A gestora também avalia o Núcleo de Pesquisa como uma das bases da escola que já possui profissionais para avaliar as propostas de estudo.
“Toda pesquisa na saúde pública ou em hospital privado precisa passar por um comitê de ética, algo regulamentado após a criação do SUS, e nós já temos desde 2022 porque já tínhamos essa ideia da escola que foi comprada pelo doutor Galeno”, detalha sobre a gestão do secretário de saúde de Fortaleza.
Entre as pesquisas já avaliadas para acontecer na instituição, Anamaria adianta sobre o estudo de “órfãos da pandemia, um triste legado” devido às várias crianças e adolescentes que perderam os pais por causa da Covid.
Estrutura da ESPFor
O anúncio da Escola de Saúde Pública de Fortaleza foi feito em julho deste ano, quando foi detalhado o orçamento de R$ 500 mil para as obras na futura sede da unidade e a expectativa de beneficiar 16 mil colaboradores da SMS.
O prefeito José Sarto (PDT) comentou que a Escola de Saúde vai funcionar também para residências médicas e que os cursos ofertados contarão com recursos do Governo Federal. Estão previstos programas de extensão e eventos científicos.
Durante o processo de reformas do prédio, também há uma interação com os moradores do entorno para conhecer o histórico do local e as demandas de saúde observadas pela população, como do Poço da Draga.
“Nós estamos nos inserindo na comunidade da Praia de Iracema, dialogando com psicólogo, jornalista e advogado ligado à área da saúde, que estão visitando o entorno da escola com agente de saúde para conhecer”, frisa Anamaria.
Conheça a estrutura da ESPFor:
- Salas administrativas
- 8 salas de aula
- 2 auditórios
- Estúdio de gravações
- Laboratório de informática
- Biblioteca
- Salas de estudo
- Centro de Simulação Realista do Samu
- Refeitório
- Comitê de Ética
“Vamos ter laboratórios de tecnologia e inovação, porque temos que estar alinhados com o nosso tempo. Temos, na Secretaria de Saúde, a “segunda opinião”: um projeto fantástico em que os médicos estão com a oportunidade de consultar dermatologistas, cardiologistas e outros especialistas, geralmente com respostas em 30 minutos”, completa.
Perfil da gestora
Anamaria Cavalcante é médica pediatra e foi a primeira titular da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), entre 1992 e 1994, quando enfrentou a epidemia de cólera e participou da erradicação da poliomielite no Estado.
Também foi responsável pela implantação do Programa Saúde da Família (PSF) com ideia pensada para Fortaleza e executada em Quixadá, no Sertão Central, como projeto-piloto e apresentada ao Ministério da Saúde.
Anamaria cursou uma formação sobre saúde urbana durante um mês na London School of Tropical Medicine (Escola de Medicina Tropical de Londres, em tradução livre), quando despertou o interesse por criar uma unidade similar no Estado.
A Escola de Saúde Pública Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE) foi criada em fevereiro de 1993 e as obras concluídas em dezembro daquele ano, sendo o primeiro equipamento do Nordeste voltado à finalidade.
Exatos 30 anos depois, Anamaria lidera a missão de criar a Escola de Saúde Pública de Fortaleza. “Eu tenho o apelido de polvo, com muitos pés e mãos, porque eu adoro trabalhar com parcerias”, define.
“Ontem (21) eu disse para minhas filhas e para meu marido que essa (saúde e gestão) é uma das minhas paixões, meu vício. Eu adoro, já tenho 76 anos, mas eu não consigo parar e deve ter muito do meu arcabouço genético, meus pais eram assim”, explica ao lembrar do pai jornalista que foi responsável pela fundação de algumas rádios em Fortaleza e trabalhou até os 93 anos.