Espécie invasora de coral é identificada pela primeira vez no litoral cearense; veja vídeo

Pelo menos três pontos do litoral do Estado já têm a presença desse coral que causa danos ao meio ambiente e à economia

Escrito por André Costa , andre.costa@svm.com.br
espécie invasora de coral
Legenda: O coral-sol é uma espécie nativa do Oceano Indo-Pacífico com alto potencial invasivo
Foto: Marcus Davis/Mar do Ceará LTDA

Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) identificaram, pela primeira vez no litoral cearense, a presença de uma espécie invasora chamada Coral-sol, apontada por cientistas como uma ameaça à vida marinha e à economia brasileira. Ele foi identificado em uma plataforma de petróleo no Campo de Xaréu, localizado a 30 quilômetros da costa do município de Paracuru.

Essa identificação se deu a partir de uma série de fotos e vídeos gravados por nadadores particulares. Esse material foi disponibilizado à UFC que, por sua vez, fez análise do conteúdo e identificou a praga marinha.

O professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da UFC, Marcelo de Oliveira Soares, alerta ainda para a hipótese de o coral já estar espalhado por mais de uma localidade cearense. "Aqui no Ceará especificar três pontos: um naufrágio em Acaraú, outro naufrágio do Pecém e na plataforma de óleo do Paracaru". 

Ainda segundo o especialista, a aparição do Coral-sol, no Ceará, deve ter "ocorrido em meados de 2015 e 2016". Essa descoberta despertou uma grande preocupação. Isso porque, o local onde a espécie foi identificada, está nos planos de descomissionamento anunciados pela Petrobras em 2019. Por conta da queda na produção nessa plataforma, ela, e outras, devem ser desativadas.

Não se sabe ainda como essa espécie chegou ao Ceará. Precisamos de mais estudos. Porém, uma hipótese é que ele tenha vindo através de algumas embarcações. Mas é só especulação, precisa-se de mais estudos.
Marcelo de Oliveira Soares
Professor do Labomar/UFC

Marcelo Soares aponta que é justamente aí o ponto nefrálgico da questão. Caso a remoção da plataforma não seja realizada de maneira adequada, esses corais podem se espalhar por novos ambientes, atingindo recifes situados na costa brasileira. Devido ao seu poder de causar danos não somente ao meio ambiente, mas também afetar o setor econômico, atingindo atividades de turismo e pesca.

Danos

Os impactos causados por essa praga biológica marinha são múltiplos, detalha Marcelo. Ao meio ambiente, o Coral-sol pode gerar uma redução da diversidade de espécies marinhas e modificar o ambiente. "Ele compete com as espécies nativas e eleva a mortalidade delas. É uma praga que se reproduz muito rapidamente e, portanto, acaba reduzindo a variedade existente naquele local".

Para melhor compreensão, o pesquisador da UFC faz uma analogia com as florestas. "Imagine uma floresta com uma infinita quantidade de árvores nativas, o que gera ampla riqueza natural. Ai uma árvore de fora chega e como a reduzir essas espécies, ela vai se reproduzindo e deixando o ambiente mais pobre e uniforme. É isso que acontece no ambiente marinho".

Legenda: Mergulhador entre as estruturas do porão colonizados pelo Coral-sol
Foto: Marcus Davis/Mar do Ceará LTDA

No que se refere a economia, os danos são igualmente preocupantes. Marcelo Soares explica que o Coral-sol, por modificar o ambiente, acaba reduzindo a quantidade de peixes presentes naquele local. "Afeta diretamente a pesca, com dano bem maior ao pescador artesanal", pontua.

No entanto, não são apenas os pequenos pescadores que se veem ameaçados, ressalta o professor do Labomar. "Até as grandes plataformas de óleo e gás sofrem impactos. Essa espécie se alastra muito rápido e, devido a uma série de questões jurídicas, gera danos com o aumento dos custos de limpezas de barcos e plataformas, além de acarretar outros problemas que impacto na elevação dos custos das plataformas". 

Essa praga também causa impacto no turismo. Com a redução nas espécies nativas e, consequentemente, o empobrecimento da diversidade, a atividade turística acaba perdendo seu atrativo. "Imagine um local com corais de várias cores, veja o quão atrativo é. Quando a redução das espécies e crescimento do Coral-sol, tudo isso é transformado e fica uniforme, perdendo apelo turístico", detalha o docente. 

Medidas 

Diante de tamanhos danos, uma boa notícia. Marcelo Soares garante ser possível reverter este quadro. No Rio de Janeiro, Bahia e Santa Catarina, o Coral-sol está sendo retirando através do apoio de pescadores artesanais e mergulhadores. Esses 'esqueletos' dos corais removidos podem ser processados e utilizados na agricultura ou artesanato.

"Eles usam martelos e outras ferramentas para retirar e matar essas colônias. Mas, o trabalho tem que ser feito quanto antes. Quanto mais tempo passar, maior serão os danos", alerta. O Coral-sol não possui um predador natural em águas brasileiras, portanto, sua remoção tem de ser manual. 

Porém, a missão não é simplória devido a uma diferença entre os corais existentes - e que já estão sendo removidos - nos estados acima citados e o Coral-sol identificado no Ceará é a profundidade. Aqui, eles foram encontrados distantes da costa e a uma profundidade de 30 a 40 metros, "diferentemente dos outros estados, que está a 5 ou 6 metros de profundidade, o que dificulta a remoção aqui" devido as fortes correntes marítimas.

 

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