Do calor forte à chuva repentina: conheça os fatores por trás da mudança do tempo no Ceará
Cidades cearenses ultrapassam 30ºC de temperatura e registram precipitações fortes em curtos intervalos
Tempo quente, abafado e o desconforto de perturbar até o "juízo", como se diz popularmente, tem uma explicação comum nesse período do ano entre cearenses: "vai chover". O indicativo pode proceder e está ligado a 3 fatores principais: radiação solar, temperatura e umidade.
O período de chuvas, concentrado entre fevereiro e maio, acontece, na verdade, no verão brasileiro. Ou seja, apesar das precipitações, são esperadas temperaturas mais altas. Além disso, o Ceará fica no semiárido, onde o tempo tender a ser mais quente.
Nem sempre essa mudança é percebida, mas em geral acontece no dia anterior às chuvas, como explica Bruno Rodrigues, meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) ouvido pelo Diário do Nordeste.
Então, o calor pode ser lido como um anúncio de chuva? “Esse pode ser um indicativo, mas a gente também observa períodos marcados por mais incidência de radiação e temperaturas mais elevadas”, pondera Bruno Rodrigues.
Veja também
Os fortalezenses, como exemplifica o especialista, vivenciaram isso na última semana. Entre a quinta (2) e a sexta-feira (3), a oscilação no tempo foi bem característica sobre essa percepção da população.
“Na sexta-feira, tivemos chuva praticamente durante todo o dia, mas na quinta-feira que antecedeu, a irradiação solar foi de 885 W/m² (watt por metro quadrado). Durante a chuva, esse valor foi de 218 W/m²”, completa.
Além dessa queda expressiva do alcance do sol no território da capital cearense, a temperatura máxima passou de 31,4ºC para 27,5ºC. Já a umidade subiu de 63,4% para 83% entre um dia e outro.
Quixadá, no Sertão Central, também pode ser uma mostra dessa mudança brusca no tempo. Em fevereiro, a cidade foi uma das mais quentes no Estado com temperatura média de 34,3ºC, conforme os dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Mas, nesse mesmo período, a cidade registrou fortes chuvas com ventos intensos.
Isso acaba por alterar de forma repentina a sensação sobre os ambientes, seja de quem está em casa ou na rua. Quando a chuva se instala, há um alívio com o conforto térmico.
Indução de chuvas
No Estado, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) é um dos principais sistemas indutores de chuva.
Esse fenômeno é descrito como uma banda de nuvens que circunda a faixa equatorial, formada pela confluência dos ventos alísios do Hemisfério Norte com os do Hemisfério Sul. Também contribuem para as chuvas a interação dos ventos com o relevo de cada região.
Ainda assim, isso não é sentido de forma muito brusca no Estado, porque apesar da mudança no tempo não costuma haver uma grande amplitude térmica.
“Aqui no Nordeste, a gente não tem uma variação tão forte na temperatura, não sentimos como algumas localidades do Sul que, por exemplo, o período antes da chuva é de 30ºC e depois despenca para 10ºC”, pondera Bruno.
Inverno ou verão?
Esse período do ano é marcado por temperaturas elevadas comuns ao verão brasileiro, mas coincide com a quadra chuvosa. Por isso, é comum ouvir o termo "inverno" sendo usado para esses meses.
"Se confunde muito aqui no Ceará o inverno com a chuva, mas não tem nada a ver. O que demarca o inverno são as temperaturas mais baixas, que no Brasil acontece a partir de junho", frisa Alexandre Queiroz, professor de Geografia na Universidade Federal do Ceará (UFC) e colunista no Diário do Nordeste.
"O verão é marcado por temperaturas mais elevadas, períodos de iluminação maior, e estamos no semiárido. No litoral, temos a brisa marinha, com nebulosidade, e isso acaba amenizando as temperaturas"