Dediane Souza fala do ativismo pelos direitos de travestis: "esse lugar não pode ser só de dor"

A militante pelos direitos de pessoas LGBTQI+ foi a entrevistada desta quinta-feira (1) do Que Nem Tu

Escrito por Redação ,

Travesti, preta, sertaneja nascida em Santana do Acaraú (CE), nome e voz potente do movimento pelos direitos humanos de pessoas LGBTQI+.  Nasceu filha de Lindalva, mulher negra, agricultora e sem escolaridade formal, e renasceu Dediane Souza no ventre dos movimentos sociais. Ela diz que o ativismo se tornou um lugar seguro de existência e é na coletividade que se firma como sujeita. Por isso, Dediane nunca está só. Quando abre a boca, quando reivindica, quando transgredi e vence, ela leva Thinas, Dandaras, Sorayas e tantas outras consigo.

A trajetória da jornalista, mestre e doutoranda em Antropologia e defensora de direitos humanos foi contada no episódio desta quinta-feira (1) do Que Nem Tu. Na entrevista, Dediane revisita infância e reflete sobre a leveza que adotou nos últimos tempos: "Eu tento dar meu máximo que não me tire a humanidade. Entendendo esse lugar de não adoecimento. Eu não quero estar em lugares atordoada,  ter medo de sair de casa, aí vem a terapia, as amizades e as cervejas", ensina a mulher que sempre fez da vida luta.

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Ela conta que, durante a pandemia da Covid, vivenciou duas perdas que a fizeram parar e repensar a vida.  A morte de grandes amigas, Thina Rodrigues - ativista histórica do movimento travesti- e Soraya de Oliveira Santiago. Uma morta pela Covid e a outra assassinada pela violência urbana. "Me percebi num processo de adoecimento. Isso me fez refletir muito sobre vida e morte. Eu tinha que lidar com diversos lutos. Toda vida eu tive que conviver com vida e morte".

Após vivencias seu luto, Dediane decidiu que agora quer falar sobre afetos. "Esse lugar não pode ser só lugar de dor", diz ela que já viu muitas travestis serem assassinadas, violentadas e invisibilizadas. Mas ela também viu tantas outras "manas" nascerem, ganharem nome, existência e direitos. Por isso, ela dedica a estudar e pensar as redes de resistência, afeto e irmandade construídas a partir do movimento de travestis no Brasil.

Travesti, preta, pesquisadora Dediane Souza
Legenda: Dediane falou em entrevista sobre a vida mergulhada nos movimentos sociais e as vitórias conquistadas através de reconhecimento de direitos civis para pessoas LGBTQI+
Foto: Ismael Soares

A potência do existir em rede, do aquilombar-se, fez a vida mais segura e com mais sentido, defende Dediane. Um dos momentos de emoção, inclusive relatados durante a entrevista,  vivido por ela foi o processo de retificação de nome e gênero.

"Eu sei que no dia 28 de junho na minha cidade de Santana do Acaraú e saio de lá com minha certidão de nascimento com Dadeiane Souza, gênero feminino. Aì fui pra Sobral beber e comemorar com meus amigos. Qual era a minha urgência? Eu ia colar grau. Então se eu não fizesse a retificação antes da colação eu não ia conseguir manter meu nome Dediane Souza e sim o outro nome que respondia anteriormente. E pra mim isso era muito violento. Na minha foto e colação de grau tá Thina, Soraya, Paulo Diógenes- uma figura muito importante também no meu ativismo. Então essa ideia de dizer que a luta ainda é um empreendimento necessário para dar qualidade de vida ou possibilidade de vida às que virão e as que estão vivas".

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Dediane falou ainda sobre a vida mergulhada nos movimentos sociais, as vitórias conquistadas através de reconhecimento de direitos civis para pessoas LGBTQI+, a infância protegida da violência pela mãe e também sobre Dandara e a morte brutal que virou símbolo de luta no movimento travesti. Em 2024, foi escolhida Madrinha da Parada pela Diversidade Sexual em Fortaleza e viu de um lugar diferente esse evento acontecer.

 

 

 

 

 

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