De caverna no mar a ‘esqui’ na areia: conheça atrações para turismo de aventura em praias do Ceará

Programas atraem cearenses e visitantes que desejam ir além do relaxamento do ambiente praiano

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Esquibunda em Canoa Quebrada, no Ceará
Legenda: "Esquibunda" na praia de Canoa Quebrada, em Aracati, é uma das atrações do turismo de aventura no Ceará
Foto: Ismael Soares
Projeto Praia é Vida é apoiado por:


Ao longe, a paisagem de dunas brancas, contrastando com o verde intenso do mar e o vermelho das falésias, remete a uma tranquilidade de paraíso. Quando se chega perto da praia, porém, o barulho de motor já indica: ali também é cenário de se aventurar.

As praias do Ceará, famosas pela beleza, pelo mar de águas mornas e pela rica culinária, recebem cada vez mais turistas em busca de atividades que rompem com a tranquilidade. A bordo de buggy, carro 4x4 ou a pé, cearenses e visitantes enveredam por dunas e trilhas para gastar e renovar as energias – tudo ao mesmo tempo.

Na 6ª reportagem da série Ceará, Rotas de Amar, o Diário do Nordeste percorre cidades do Litoral Leste para mostrar que o turismo de aventura pode descer a serra e ser usufruído no mar.

O especial multimídia integra o projeto Praia é Vida, promovido pelo Sistema Verdes Mares com foco na valorização e na sustentabilidade desse meio indispensável para múltiplas formas de vida.

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Duna acima

Falésias em Canoa Quebrada, no Ceará
Legenda: O sobe-e-desce para se aventurar nas dunas e falésias é feito, principalmente, por buggy
Foto: Ismael Soares

A primeira parada do nosso roteiro foi Canoa Quebrada, em Aracati, tradicional destino turístico a cerca de 160 km de Fortaleza. Falar de passeio e aventura por lá é praticamente ter uma certeza: em algum momento, um buggy cruzará o seu caminho.

Foi a bordo do automóvel vermelho de Janilson Caraço, 55, que encaramos o sobe-e-desce do areal de Canoa. Nativo de lá, ele é o segundo da família a herdar a profissão que exerce há 34 anos. Conhece os caminhos das dunas como as linhas da palma da mão. E coleciona zero acidentes.

Foto: Theyse Viana

A experiência, aliás, foi o que apresentou nossa equipe ao bugueiro. Janilson é membro da Associação Buggy Turismo de Canoa Quebrada, que conta com 111 motoristas credenciados.

Aqui fica a primeira dica: jamais embarque num buggy se não for dirigido por um deles. As dunas móveis, a velocidade e o próprio desenho do veículo exigem, além de experiência, muito treinamento. Mas abordagens clandestinas na rua principal da praia não faltam.

Pra poder rodar, nós passamos por licitação na Prefeitura de Aracati, fazemos cursos de atendimento ao turista, de primeiros socorros e passamos por testes aqui nas dunas. Com emoção ou sem emoção, é com responsabilidade e muita segurança.
Janilson Caraço
Bugueiro há 34 anos

Saímos, então, da sede da associação, na Rua Descida da Praia (sem número), rumo às dunas. O passeio varia de R$ 300 a R$ 320, e percorre quilômetros de vento forte no rosto, paisagem exuberante e muita força nos braços para se segurar firmemente na traseira.

Como se o próprio percurso de ida já não bastasse como aventura do dia, uma última descida tão alta como o riso nervoso do nosso produtor audiovisual nos levou a outra atração: o “esquibunda”.

Duna abaixo

Legenda: Duna onde funciona o "esquibunda" em Canoa Quebrada, Aracati, Ceará
Foto: Ismael Soares

No local, cuja chegada só é possível por buggy ou carro 4x4, oito barracas ofertam acesso à “brincadeira”. Sob uma prancha, quem se aventura escorrega duna abaixo, a dezenas de metros de altura, e é recebido por um corpo d'água límpido.

À primeira vista, a altura assusta. Repórter, produtor audiovisual e motorista do Diário do Nordeste que o digam: os três pensaram em desistir. O discurso de convencimento, porém, mora na ponta da língua de Klécio dos Anjos, 40, nativo à frente da Barrada do Vanderlei.

“Muita gente chega e quer desistir, mas se eu tiver a oportunidade de conversar, falar que é seguro, que a velocidade é totalmente controlada, dá certo. Consigo em 80% a 90% das vezes”, orgulha-se.

Quem “libera a descida” e regula a velocidade é Elaine Cristina, 48, nativa da Vila Sítio Beirada, em Aracati. A receptividade e a simpatia dela, que mesmo sob contraindicação médica garante o sustento no dia inteiro sob o sol, são como um brinde da viagem.

Descer no “esquibunda” custa, em julho de 2023, R$ 28. O valor inclui a atração, o retorno de buggy até a parte superior da duna e as fotos e vídeos do momento. Vale mesmo o registro.

Legenda: Após convencidos, repórter e motorista da equipe se aventuram no "esquibunda"
Foto: imagens inclusas na atração

Até outubro de 2022, havia outra opção para descer a duna: a tirolesa. Mas a estrutura teve funcionamento proibido após a morte de um turista paraense, que caiu do equipamento. Klécio afirma que, ainda hoje, muitos visitantes chegam ao local interessados na atração, mas não há previsão de retorno.

“Já temos o novo projeto, feito por engenheiros. Estamos realizando estudo dos impactos ambientais, levantamento sobre o solo e tudo mais. Depois disso, vamos pedir a liberação da construção da estrutura junto ao Iquama (Instituto de Qualidade do Meio Ambiente do Aracati)”, pontua.

Trilhas e mergulho

A menos de 60 km de Canoa Quebrada, outra cidade litorânea reserva programação ideal para quem quer sair do roteiro barraca-água de coco: é Icapuí, que se desdobra em 16 praias até a fronteira entre Ceará e Rio Grande do Norte. 

Ficamos hospedados na Praia de Ponta Grossa, uma das mais frequentadas e estruturadas. Por lá, embarcamos no buggy de Adaías Crispim, “nascido e criado” na cidade, credenciado à Associação de Bugueiros e Turismo Sustentável de Icapuí. O valor do roteiro é R$ 350.

Legenda: Adaías é nativo de Icapuí e conduziu o buggy que nos levou a conhecer as praias da cidade
Foto: Ismael Soare

Por uma estrada paralela ao mar, o buggy cruzou várias praias desertas de mar limpo e sem ondas e falésias imensas. Na ida, o destino foi a Passarela da Estação Ambiental Mangue Pequeno, na Área de Proteção Ambiental da Barra Grande, em Icapuí.

A estrutura de madeira, erguida sobre o manguezal, trilha entre as árvores até o encontro com o mar, informando, no caminho, sobre a vegetação nativa.

Legenda: Passarela na Praia de Requenguela, em Icapuí, conduz visitantes por dentro do mangue até a vista ao mar
Foto: Ismael Soares

Saindo de lá, a maré seca nos permitiu voltar pela faixa de areia (em áreas permitidas), abraçados de um lado pelo oceano, do outro pelas falésias coloridas. O ponto de chegada, agora, era o barco do pescador Elizeu Crispim, mergulhador há 27 dos 47 anos de vida.

Desde 2015, ele submerge acompanhado. Por R$ 30, visitantes são levados até uma caverna a cerca de 300 metros da costa, onde podem mergulhar com peixes e até esbarrar com polvos e lagostas, se derem sorte. A máscara de mergulho é fornecida no barco.

A caverna é um atrativo muito grande. A água fica na cintura. As pessoas ficam impressionadas, porque o espaço entre o teto e a água tem dias que dá 1 metro.
Elizeu Crispim
Barqueiro e mergulhador

Legenda: Nativo, Elizeu conduz mergulhos nas águas da Praia de Ponta Grossa há quase uma década
Foto: Ismael Soares

Ao contrário desta repórter, Elizeu se joga ao mar sem boia nem colete, com a segurança de quem tem formação em mergulho e em primeiros socorros. De mão dada, me conduz e orienta onde pisar. Sabe onde fica cada pedra e coral. A água límpida também ajuda. 

Legenda: Com a maré ideal, é possível ficar em pé e entrar na caverna no mar
Foto: Ismael Soares

Os mais corajosos vão até a caverna, circundam o local, exploram em apneia. A maioria, como a nossa equipe, aprecia a superfície. A visão e a sensação chegam próximo do que consigo definir como paz.

Pôr-do-sol postal

Legenda: Duna do pôr-do-sol na Praia de Ponta Grossa, em Icapuí, no Ceará
Foto: Ismael Soares

Fora do mar, voltamos ao buggy e apreciamos o pôr-do-sol de cima da duna. Outra descida “radical” e chegamos à Trilha Ecológica de Ponta Grossa, caminho cercado por vegetação que pode ser percorrido a pé ou num veículo. 

Vale a pena investir uns passos, apreciar a natureza e conhecer mais sobre a Caatinga – bioma que compõe a região – até chegar à duna do pôr-do-sol. Nosso produtor audiovisual descreveu bem: “tô me sentindo numa Savana!”

Legenda: Trilha leva da terra à duna do pôr-do-sol e é cercada pelo bioma da Caatinga
Foto: Ismael Soares

Na próxima reportagem do especial Praia é Vida, mostraremos opções de hospedagens e experiências em reservas extrativistas no litoral do Ceará, onde o conceito de turismo comunitário – baseado na simplicidade nativa e no respeito à natureza – se concretiza.

 

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