Da Barra do Ceará à Sabiaguaba, um tour gastronômico com as delícias do mar de Fortaleza
Não bastassem as lindíssimas paisagens, os verdes mares do Ceará mexem com todos os sentidos do café da manhã ao jantar
Moqueca quentinha à mesa. Camarão completo ao pôr do sol. Isca de peixe na areia da praia. Ostra e lula sob o aroma do mangue. Diversa, a gastronomia de Fortaleza tem o mar como inspiração. De uma ponta a outra da faixa de praia, costumes, culturas e muitas delícias a saborear, envolvendo paladar, tato, olfalto e visão.
O Diário do Nordeste inicia hoje a série de reportagens Ceará, Rotas de Amar, que percorre diferentes lugares do Ceará, destacando a importância do turismo que se baseia nas riquezas do oceano.O especial multimídia integra o projeto "Praia é Vida", promovido pelo Sistema Verdes Mares, com foco na valorização e sustentabilidade desse meio indispensável para a vida.
Nosso primeiro destino é explorar a gastronomia do litoral de Fortaleza. Traçamos a rota para descobrir os sabores da Barra do Ceará à Sabiaguaba. Tem restaurantes que investem no preparo tradicional e outros em novas formas de apresentação. Seguimos o rumo para conhecer os cardápios e opções e, claro, provar as delícias do mar em qualquer refeição.
Se o assunto é café da manhã, uma boa pedida está no começo do nosso tour, a Barra do Ceará. O Maré Café resguarda fartura de opções para quem gosta de comer sentindo o vento do litoral.
Sanduíche de filé com creme de gorgonzola, croissant de parme & brie e waffles de frango com requeijão, entre outros, estão disponíveis no cardápio. Mantendo o foco sobre os insumos marinhos, carro-chefe dos estabelecimentos à beira-mar, experimente o Duo de Camarão Crocante e a Tapioca com recheio de camarão. Ambos despertam apetite desde a apresentação, com simplicidade e elegância.
O primeiro é feito com duas fatias de pão artesano, camarão puxado na manteiga e cream cheese maçaricado. Tomate cereja e manjericão dão o toque final na decoração. O prato serve bem uma pessoa, possui textura consistente e sabor leve, ideal para apreciar com uma boa bebida. A nossa foi café com melaço de rapadura, maçaricado diretamente na mesa. Incrível.
Já a tapioca com recheio de camarão é preparada de forma tradicional, na frigideira, com cream cheese, queijo coalho, camarão e manjericão decorativo. Degustamos com café com leite e café com nutella. Delícia completa. Por sinal, o que mais agrada nas porções servidas no Maré Café é a generosa quantidade de camarão, agradando aos paladares mais exigentes.
Ao som das ondas vestindo a areia, praia despertando aos poucos nas jangadas e canoas, a vontade é de estender a permanência no recanto. Após o lanche, aproveite o cenário fotográfico do mar da Barra. Convida para um passeio, uma conversa. O de comer sempre ultrapassa a mesa.
Moqueca nas alturas
Do rés do chão ao alto do morro, as delícias continuam. No Ponto da Muqueca (com “u” mesmo), localizado no Vicente Pinzón, o prato que nomeia o negócio é também o carro-chefe do sabor. Bandejas e mais bandejas saem da pequena cozinha transportando a preferência diária de centenas de clientes. É um sucesso, e já tem 20 anos.
Para o almoço, mesas e cadeiras lotadas. A moqueca vem quente e rapidamente, acompanhada de arroz, farofa e duas metades de limão. Experimentamos a bendita e comprovamos o porquê de tanto alcance. Bem temperada e com gosto apurado, é impossível não satisfazer o público. Duas pessoas conseguem dividir a porção.
Quem explica o preparo é Solange Nascimento Freitas, proprietária do estabelecimento. Aprendeu a cozinhar com a mãe. Primeiro, ela mistura leite de coco, cheiro verde, tomate e pimentão. Depois refoga tudo com colorau – "é ele quem dá o amarelo na moqueca". Prontinho. O insumo é pescado na Praia do Mucuripe, conectando dois pontos da cidade.
“É difícil encontrar moqueca em outro lugar que não seja aqui, principalmente feita dessa forma. Geralmente, ela é preparada com todos os ingredientes misturados, e fica uma textura branca. Aqui, não. Os ingredientes são refogados com azeite separadamente, e isso faz muita diferença no gosto e na apresentação”.
Vez ou outra, Solange olha para o Morro Santa Terezinha, onde fica o empreendimento sob sua direção, e suspira. A vista impressiona e acalenta. Também energiza o espaço. De terça a sexta, das 8h às 14h, e aos sábados e domingos, das 8h à meia noite, um barulho bom de gente reunida ocupa a área. Para novatos e veteranos, a moqueca se torna vetor de união.
“É um prato que alimenta pessoas do bairro, mas, principalmente, gente que vem de outras partes de Fortaleza. O Ponto da Muqueca mudou minha vida e continua a mudar. Por dia, vendemos cerca de 40 porções. É um cansaço bom, de saber que todo mundo gosta e sempre volta”. Prometemos fazer o mesmo. Garantimos que você também.
Peixe para almoço e petisco
Crianças de boia, picolezeiro passando, massagistas à espera. Agora o cenário é a Praia do Futuro, com outras opções para a refeição do meio dia – dessa vez, à beira-mar. Não faltam.
Na barraca Vira Verão, insumos das águas podem ser degustados em várias combinações. Arroz de camarão, Peixada Cearense, Posta de Cavala e Bolinha de Bacalhau são exemplos.
Sob indicação do gerente, Felipe Lopes, você pode ir de Peixe à Belle Meuniére. O prato prioriza a leveza e é bastante solicitado pelos frequentadores. É feito com filé de pescado grelhado e acompanha molho de alcaparras com pimentão, tomate-cereja e azeite. Coloridíssimo. Para complementar, legumes cozidos e arroz branco.
Sucos de frutas podem dividir a mesa, completando a experiência. É realmente uma iguaria muito apetitosa. O filé de pescado desmancha na boca, beneficiado pelo molho de alcaparras e os legumes. “É algo bem saudável pra quem quer aproveitar o mar e o sol. Você come bem por um preço acessível e com uma qualidade excepcional”, avalia Felipe.
A poucos metros dali, a sensação é a mesma quando se experimenta a isca de peixe da barraca Santa Praia. Feita da pescada corvina – peixe nobre, proveniente da região Norte do país – é temperada com mix de especiarias. Pimenta de cheiro, cebola branca, coentro e cebolinha vão juntas ao liquidificador com azeite e depois misturadas ao peixe.
É Tiago Quemel, gerente do espaço, quem divide esses detalhes. Segundo ele, após esse processo, a mistura é batida com ovo e leite, e é aí que se forma a isca de peixe apresentada da forma como a conhecemos. O prato chega com 12 unidades, ideal para um petisco. Não à toa, é um dos mais pedidos da Santa Praia.
A degustação ganha um toque inconfundível com a geleia de pimenta que acompanha as iscas. O salgado do peixe contrasta com o vigor palatável do condimento e proporciona excelentes sensações. Para beber, água de coco, claro, é a melhor opção. “Esse é o carro-chefe dos petiscos da casa”, reforça Tiago.
“São mais de três mil pessoas passando a cada fim de semana por aqui, compondo a loucura agradável de servir esses e outros pratos do mar, como trio de mariscos (lagosta, pescada amarela e risoto de camarão), pargo e pastel de arraia. São os produtos que mais saem”.
O que não sai é o desejo de continuar escutando o som das ondas e dos coqueiros enquanto a rotina praieira vai ganhando corpo até o cair da tarde, quando novas praças convidam para mais perto e o corpo se prepara para provar outros presentes do oceano.
Camarão ao pôr do sol
Se o camarão deu o tom no café da manhã, é impossível não repetir o gesto quando o lugar é o Mercado dos Peixes. Tradicional recanto de apreciação do alimento, o ambiente tem um jeito todo próprio de tratar a delícia. Há mais de 40 anos, o comum é vender o camarão fresquinho nos boxes e levar para as barracas de fritura.
Tudo feito na hora, do jeitinho que a gente gosta. O mais pedido é o camarão ao alho e óleo, mas é possível servir também camarão a vapor, sem casca, arroz de camarão e risoto de camarão. Optamos pelo primeiro prato. Não demora muito para que ele chegue à mesa, acompanhado de farofa e rodelas de pimentão.
O momento fica ainda mais especial com a vista arrebatadora do pôr do sol no Mucuripe, responsável por fazer você se demorar no local. Quem resiste? No total, 45 boxes trabalham com a comercialização de pescados e mariscos no Mercado dos Peixes, sendo quatro barracas de frituras. A dinâmica agrada o público, que preenche mesas e cadeiras com vontade.
Uma das partes mais interessantes do espaço é saber que a maioria dos permissionários é gente moradora do entorno. Pescadores, marisqueiras, cozinheiras e grande fartura de profissionais da comida muito orgulhosos e contentes ao despertar, no paladar, a essência da gastronomia fortalezense. Mais uma vez, a atividade garantindo a sustentabilidade econômica de quem ganha a vida através da pesca, preparo e comercialização das delícias do mar.
Entre mar e mangue
A parada final de nosso tour incorpora a mesma atmosfera. No Complexo Ambiental e Gastronômico da Sabiaguaba, são os próprios nativos os responsáveis por fazer a clientela suspirar diante de tanta coisa boa. Dentre as tantas qualidades do centro de culinária, está o vasto leque de insumos, indo da lula à ostra, passando pela lambreta.
Procure saborear as três. A lula você encontrará apenas no quiosque Gran Maré, sob as mãos do chef André Gomes. Lá, ele pode lhe apresentar o prato Lula à Dorê. Para prepará-lo, primeiro a lula é cozinhada com sal e pimenta. Na sequência, bate-se um ovo e separa-se o trigo e a farinha de rosca. O insumo, então, passa por esses dois produtos até ser frito no óleo.
A apresentação do prato é composta de molho e limão. Bastante crocante, dá água na boca só de olhar, além de sair rapidamente por ser prato de entrada. “É rapidinho, preparamos tudo em três minutos”, detalha André. “A lula vem do Mucuripe, e é bastante pedida. Além dela, temos arroz de camarão, caranguejo, entre outros”.
Riqueza igualmente comprovada no quiosque Recanto das Flores. Estampada no cardápio, ostra natural. O alimento faz parte da dieta de Ana Vitória Monteiro, uma das cozinheiras, desde a infância. Não à toa, é tudo muito bonito e saboroso para quem vai experimentar, como se fosse de casa. No total, são pescadas 15 ostras para compor o aperitivo.
O preparo envolve primordialmente abrir o insumo para tirar a casca. Feito! Limão e alface compõem a apresentação final da gostosura, com possibilidade de ostras em menor ou maior tamanho. Além da modalidade natural, existe a ostra “no bafo”. A diferença é que esta última é cozida, alterando apenas o miolo. “Sai bastante e todo mundo ama”. Compreensível.
Assim como é tarefa difícil desgostar da lambreta. Ela é uma espécie de molusco oriunda dos mangues, envolto em duas conchas, muito comum no litoral nordestino. Integra pratos deliciosos, a exemplo de caldos, ou pode servir como tira-gosto.
No quiosque Recanto do Rio, a cozinheira Ivaniza de Sousa Barbosa, moradora do Caça e Pesca, enfatiza que a lambreta é afrodisíaca. Um deleite! Depois de lavada e escaldada, ela é servida com molho especial da casa, composto de vários legumes e leite de coco. No cozimento é que a lambreta abre as conchas, deixando exposta a preciosidade interior.
“Para comer, você tira a conchinha e, dentro dela, encontra a carne da lambreta. Tem gente que aprecia com limão ou com azeite, mas, no nosso caso, ela já vem com o molho especial da casa”.
Ivaniza diz que viemos na época de fartura do molusco, entre os meses de abril e julho. Depois desse período, a iguaria só é conseguida por meio de fornecedores.
É um prato que transita bem entre mangue e mar, tal qual a Sabiaguaba. O gosto lembra o tradicional caldo de peixe consumido à beira-mar, mas o toque dos legumes e o próprio sabor da lambreta remetem às mansas águas fluviais. Equilíbrio sem igual e deliciosíssimo.
É esta a Fortaleza do paladar litorâneo, do cotidiano das águas, dos povos do mar. Percorra o tour e confirme: há muito o que se desbravar na cidade-luz. Praia é vida.
Na próxima reportagem do especial Praia é Vida, você conhece a fartura gastronômica da praia do Cumbuco, em Caucaia, responsável por promover oportunidades tanto para nativos quanto para estrangeiros que passaram a morar na região. Um lugar onde todos os sabores do mundo se concentram num só espaço.