Como fazer jejum na Quaresma? Arcebispo tira dúvidas

Muitos fieis ainda têm incerteza sobre o consumo de carne e quais públicos não precisam cumprir a exigência

Escrito por
Nícolas Paulino nicolas.paulino@svm.com.br
(Atualizado às 15:55)
Dom Gregório Paixão, arcebispo de Fortaleza, durante pregação
Legenda: Arcebispo recomenda diminuir quantidade de alimentos e praticar orações simples ao longo do dia
Foto: Laércio Peixoto/Arquidiocese de Fortaleza

Para a fé católica, a Quaresma é o período que vai da Quarta-Feira de Cinzas até a Quinta-Feira Santa e representa o período de preparação para a Páscoa, a maior de todas as festas cristãs. O momento é norteado por três preceitos de reflexão: jejum, caridade e oração.

Esse tempo tem início com a imposição das cinzas, antigo costume que faz referência à penitência e rememora que o ser humano “é pó e voltará ao pó”, segundo a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Assim, anuncia um novo tempo de conversão para Deus, “abandonando o pecado e praticando o bem”.

Reforçando as tradições, a Igreja Católica propõe exercícios que estimulem uma mudança de vida com base no Evangelho de Mateus, no qual Jesus faz referência à esmola, à oração e ao jejum.

Mas como praticar a Quaresma corretamente? Para tirar dúvidas, o Diário do Nordeste conversou com o arcebispo de Fortaleza, Dom Gregório Paixão, durante o lançamento da Campanha da Fraternidade 2025, cujo tema é “Fraternidade e Ecologia Integral”.

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Tipos de jejum

O arcebispo adianta que jejum não significa passar fome. “O desejo não é esse, mas o reconhecimento de que nós exageramos quando nos alimentamos. E esse alimento significa tanto o alimento que a gente come quanto aquilo que, muitas vezes, a gente ‘come’ da realidade que está ao nosso lado. Do que que a gente está se alimentando?”, reflete. 

O ideal, aponta, é tentar diminuir a quantidade de alimentos, sem excesso, especialmente nos dias especiais: quartas e sextas-feiras da Quaresma. 

Ao mesmo tempo, é preciso se afastar “do que não serve aos olhos de Deus”, para “tirar de nós aquilo que não é bom”.

“Então, é fazer uma refeição equilibrada, mas sempre com um toque de ‘eu não vou aonde eu gostaria’, para que eu sinta um vazio interno no que diz respeito ao estômago, mas desejando que Deus seja esse complemento da minha vida”, recomenda.

Pode comer carne na Quaresma?

Segundo Dom Gregório, a orientação da Igreja durante esse período é a abstenção de carne às sextas-feiras. Isso inclui carne bovina e suína, aves e outras variedades, em respeito ao sacrifício de sangue de Jesus Cristo na cruz.

Contudo, o arcebispo lembra que “nem todo mundo tem possibilidade até mesmo de comer carne”. Assim, é possível tanto não comer a proteína quanto substituí-la por ovos.

Carne e doce são coisas que viciam o ser humano, por isso temos tanta necessidade. Então, podemos nos abster de carne, principalmente na sexta-feira - e é apenas um dia. Se possível, na quarta e na sexta. Temos condições de fazer isso tranquilamente pra dizer: ‘eu vou tirar de mim aquilo que é um vício’.
Dom Gregório Paixão
Arcebispo de Fortaleza

Além da carne e do açúcar, o arcebispo avalia que há uma série de “realidades externas” que aprisionam o ser humano. “Não sejamos escravos de nada, nem do alimento, nem daquilo que não serve na nossa vida”.

Quem não precisa fazer jejum?

Apesar da obrigatoriedade da Igreja sobre o jejum na Quaresma, alguns públicos estão dispensados:

  • pessoas com menos de 18 anos
  • pessoas acima de 60 anos
  • pessoas com comorbidades
  • pessoas em dieta restritiva de saúde
  • gestantes

“Mas, para quem estiver ‘inteirão’ e puder, vale a pena se abster”, guia Dom Gregório. Aqueles que não podem fazer o jejum podem substitui-lo por uma penitência.

Como praticar a oração?

Já no pilar da oração, o arcebispo orienta um contato franco com Deus através do carinho “que nós temos para com o Altíssimo, reconhecendo que ele é pai de nós todos”.

“Isso gera em nós um desejo de oração; tanto aquela que nós fazemos na igreja, quando estamos reunidos, mas também particularmente, fazendo com que ela seja natural em nossa vida”. 

“Se vou almoçar, agradeço a Deus. Vou tomar banho? Peço que aquela água lave não apenas o meu corpo, mas a minha alma. Vou me deitar? Agradeço a Deus. Se acordo, agradeço pela graça do dia. Uma oração que seja simples, comum”, orienta. 

‘Bolão’ para fazer caridade

Por último, os ensinamentos da Igreja recomendam a caridade aos menos favorecidos. “Seria muito importante que a gente transformasse em alimento para aqueles que vivem num eterno jejum vivos, numa eterna Quaresma. Ou seja, a caridade é fundamental nesse período”.

Para Dom Gregório, organizar-se individual ou coletivamente faz “muitíssimo bem”. Ele, inclusive, propõe a organização de um bolão para angariar fundos.

“Se eu vou me abster de refrigerante, quantos refrigerantes deixo de comprar ao longo do mês? O que de carne eu vou economizar? De repente, se faz um bolão com todo esse valor e faz uma obra de caridade”, pensa.

“É muito legal fazer com que isso seja um louvor a Deus: daquilo que a gente se abstém, fazemos jus ao segundo mandamento, que é amar o próximo como a si mesmo - principalmente os que mais necessitam”. 

Por que a Quaresma tem 44 dias?

Biblicamente, o número 40 é recorrente e indica a preparação para algo novo. Foi assim com os 40 dias do dilúvio, os 40 dias para Moisés receber as tábuas da Lei no Monte Sinai, os 40 anos de peregrinação dos israelitas para entrar na Terra Prometida e os 40 dias de jejum de Jesus no deserto.

Tradicionalmente, a Quaresma tinha 40 dias, iniciando-se na Quarta-Feira de Cinzas e se encerrando no Domingo de Ramos. Contudo, desde o pontificado do papa Paulo VI, o período tem duração de 44 dias e só se encerra na tarde da Quinta-Feira Santa.

Após a Quaresma, inicia-se o Tríduo Pascal, que abrange a Missa da Ceia do Senhor (celebração do Lava-Pés); a Sexta-feira Santa (ou Paixão do Senhor); o Sábado Santo (ou de Aleluia); a Vigília Pascal e a véspera do Domingo da Ressurreição.

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