Chuvas no Ceará ficaram até 54% abaixo da média em anos com El Niño similar ao de 2024; entenda

Fenômeno já atinge o 4º pior nível desde 1957 no Estado e deve ser principal fator para poucas chuvas durante a quadra

Escrito por Theyse Viana e Gabriela Custódio , ceara@svm.com.br
Açude seco
Legenda: O Ceará tem 45% de probabilidade de chuvas abaixo da média histórica nos primeiros três meses da quadra chuvosa de 2024, segundo prognóstico da Funceme.
Foto: Natinho Rodrigues

A alta probabilidade de o Ceará ter chuvas abaixo da média histórica em 2024 tem como um dos principais fatores a ocorrência do El Niño. O fenômeno já atinge o 4º pior nível desde 1957, e deve incidir sobre todo o período entre fevereiro e maio, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

O El Niño atual é classificado como de “moderado a forte”, e não é inédito no Estado. Nos outros anos em que ocorreu, ele gerou grande impacto nas precipitações, com quadras chuvosas ficando até 46% abaixo da média, como relembra Eduardo Sávio Martins, presidente da Funceme.

“Temos uma condição de El Niño estabelecida desde junho de 2023, de moderado a forte. No passado, El Niño de moderado a forte gerou um impacto significativo na quadra chuvosa, com desvios negativos de 42% a 46% abaixo da média”, recobra.

Nos últimos 50 anos, segundo informações do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe), o El Niño ocorreu ao menos 12 vezes, além do fenômeno atual. Em 6 delas, a quadra chuvosa do Ceará registrada pela Funceme ficou abaixo da média histórica; em outras 5 ocorrências, as chuvas ficaram em torno da média; e em apenas 1 ano o Estado teve quadra chuvosa acima da normal meteorológica.

No período de 1997/1998, por exemplo, foi registrado El Niño classificado como "forte". Em 1998, foi observado um acumulado de 271,9 mm entre os meses de fevereiro e maio, 54,7% menor que a média de 600,7 mm.

Esse foi o maior desvio negativo apontado pela Funceme nos anos de El Niño. Apenas em 1988 a quadra chuvosa do Ceará ficou acima da média mesmo com a ocorrência de El Niño "forte".

Em 2024, o fenômeno deve “estar atingindo ou estar próximo ao pico” ainda neste mês, com mais de 80% de chance de continuar durante toda a quadra chuvosa cearense e gerar efeitos mais intensos em março, abril e maio.

“Em fevereiro, ainda estamos em transição entre o sistema que atua na pré-estação e o que atua na estação, que é a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)”, destaca o presidente da Funceme, explicando, ainda, de forma resumida, o porquê de haver mais condições desfavoráveis a chuvas no Estado.

“A tendência é que a ZCIT fique posicionada mais ao norte, e a umidade dos oceanos que ela traz não virá para o nosso território. Para que a umidade entrasse no território e fosse combustível para formação de nuvens e chuvas, esse aquecimento precisaria ser mais ao sul”, frisa.

A maior preocupação, segundo Eduardo, é a duração da estação chuvosa em si, que deve ser menor. “Abril é mais complicado e maio fica mais escasso ainda de precipitações. Para o setor de recursos hídricos, uma estação curta significa aportes bem reduzidos. Isso pode comprometer os reservatórios do Ceará”, alerta.

“A situação para este ano é confortável, estamos tranquilos. Mas se no final de 2025, se a estação de 2025 não for boa, já temos que pensar em medidas mais restritivas do uso da água na Região Metropolitana de Fortaleza”, complementa o presidente da Funceme.

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REGIÕES QUE PREOCUPAM

Ao ser questionado sobre quais pontos do Estado exigem mais atenção e políticas para mitigar os efeitos da seca, Eduardo lamenta que “quando temos um cenário de El Niño tão característico como esse, a expectativa é que o impacto seja no Ceará todo”.

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Ele cita também algumas medidas que devem ser priorizadas na agricultura, por exemplo. “O problema do impacto do clima não é só o clima em si, mas o meio ambiente: os solos rasos, os tipos de solo e as decisões que tomamos”, inicia.

“Se você tomar uma decisão para uma cultura (plantio) de ciclo mais longo, fica mais vulnerável, então é melhor uma de ciclo mais curto. Trabalhar um manejo que retenha a umidade, plantar em terras mais baixas. Esse tipo de solução”, pontua.

IMPACTOS NA AGRICULTURA

Homem no sertão
Legenda: A vice-governadora do Ceará, Jade Romero, afirmou uma série de anúncios do plano de mitigação da seca devem ser anunciadas pelo governador Elmano de Freitas
Foto: Kid Júnior

Robério Monteiro, secretário de Recursos Hídricos do Ceará, avaliou o prognóstico da quadra chuvosa com preocupação, mas sinalizou que as medidas de mitigação da seca devem minimizar os impactos.

“O momento é preocupante, delicado. Temos grandes desafios, mas temos a garantia de que não precisa de desespero. Somos referência nacional da política de segurança hídrica, mesmo sendo um Estado semiárido”, avaliou o gestor da SRH.

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Jade Romero, vice-governadora do Ceará, destacou que o governador do Estado, Elmano de Freitas, deve divulgar, em breve, uma série de ações do plano de secas. “Garantia Safra, medidas de segurança hídrica, Eixão e Cinturão das Águas, reforço da educação ambiental. As políticas públicas corretas garantirão a nossa produtividade mesmo no semiárido”, disse.

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