Grande Fortaleza voltará a receber águas do Castanhão após 5 anos, afirma Cogerh

Prognóstico da Funceme aponta 45% de probabilidade de chuvas abaixo da média histórica no Ceará

Escrito por Renato Bezerra e Theyse Viana ,
Açude Castanhão
Legenda: Açude Castanhão vai liberar água para o sistema da Região Metropolitana de Fortaleza
Foto: Honório Barbosa / SVM

Diante da maior probabilidade de chuvas abaixo da média em 2024 no Ceará, o abastecimento de Fortaleza e municípios da Região Metropolitana terá de ser reforçado com a transposição de águas do açude Castanhão, segundo informou ao Diário do Nordeste o diretor-presidente da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), Yuri Castro. 

A necessidade de transferir água do maior açude do Estado para abastecer a Grande Fortaleza não ocorria desde 2019, como informou Hermilson Barros, gerente regional da Cogerh de Limoeiro do Norte, em entrevista ao Diário do Nordeste no ano passado. A capital cearense e as demais cidades se mantinham com as reservas do sistema metropolitano, formado pelos açudes Pacajus, Pacoti, Riachão e Gavião.

O cenário, contudo, exigirá medidas de contenção. Conforme prognóstico divulgado pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) nesta sexta-feira (19), o Estado tem 45% de probabilidade de chuvas abaixo da média histórica, nos primeiros três meses da quadra chuvosa de 2024. 

Os demais cenários possíveis, segundo o órgão, são de 15% de probabilidade de chuvas acima da média e 40% de chance de os três primeiros meses da quadra chuvosa terminarem com acumulado em torno da média. 

"O prognóstico foi bem claro quando citou que o Atlântico Norte está bem mais quente do que o Atlantico Sul. Então, a Zona de Convergência não desce nem para a Região Metropolitana, que normalmente quando se forma o dipolo favorável ela desce e atende pelo menos os nossos açudes aqui: Pacoti, Riachão e Gavião", afirma Yuri Castro. 

A partir de simulações realizadas pela Cogerh, explica ele, a transposição das águas do Castanhão, localizado na Bacia do Jaguaribe, deve acontecer em março e se prolongar até o fim do ano. "Porém, se tivermos alguma surpresa na quadra chuvosa, algum aporte em um dos nossos reservatórios, no Pacajus, no Aracati, no Aracoiaba, aí a gente pode fazer nova simulação", diz. 

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Presidente da Funceme revela preocupação com aquecimento de oceano

Eduardo Sávio Martins, presidente da Funceme, pontuou que o início do mês de janeiro tem chuvas significativas em todo o Estado, inclusive "com algumas cheias", mas ressaltou que os números seguem abaixo da média.

"Tivemos uma ampliação da área de seca moderada. Já temos áreas com impactos que preocupam produtores. Eles têm solicitado uma ação mais conjunta", pontuou Eduardo Sávio. 

Uma preocupação ressaltada pelo gestor do órgão estadual é o aquecimento do Oceano Atlântico, além da problemática do El Niño.

O que vemos é um aquecimento muito extenso no Atlântico, nunca vimos um aquecimento dessa ordem em termos de extensão. Tanto na região central como nas outras temos uma configuração de aquecimento mantida.
Eduardo Sávio Martins
Presidente da Funceme

Conforme análise das condições oceânicas e atmosféricas divulgadas pela Funceme, o campo de anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) revelaram, na média das últimas quatro semanas, no Oceano Pacífico equatorial central, condições térmicas — um aquecimento anômalo — que caracterizam o fenômeno El Niño.

No Oceano Atlântico tropical observa-se predomínio de áreas aquecidas nas porções norte e sul.

"O El Niño está como o quarto maior desde 1957. Ele está atingindo ou próximo ao pico neste momento. A tendência é desaquecer, mas o aquecimento deve permanecer até o final da quadra chuvosa", explicou o presidente da Funceme. 

Impactos na agricultura

Robério Monteiro, secretário de Recursos Hídricos do Ceará, avaliou o prognóstico com preocupação e sinalizou que os recursos hídricos atuais estão semelhantes ao do início do ano passado.

"O momento é preocupante, delicado. Estamos com uma recarga de quase 31% de armazenamento de água bruta no Ceará, temos 7 bilhões de lâmina d'água de reserva. Foi a mesma com que iniciamos o ano passado", comentou o titular da SRH.

Ainda em coletiva de imprensa, o secretário de Recursos Hídricos pontuou as ações articuladas para evitar a falta de água:

De antemão, temos ações. Cinturão das Águas, com o grande dilema de trazer águas do Jati. O ramal do Salgado, obra que está sendo feito pra fortalecer a transposição do São Francisco e contribuir com 54 cidades
Robério Monteiro
Secretário de Recursos Hídricos do Ceará

O titular da SRH lembrou também que foi publicada licitação do Estado para fortalecer e dar segurança hídrica à Grande Fortaleza e ao Pecém por meio da duplicação do Eixão das Águas.

"Temos grandes desafios, com o momento que estamos passando, mas temos garantia de que não precisa desespero. Somos referência nacional da política de segurança hídrica, mesmo sendo um Estado semiárido", concluiu o gestor da SRH. 

Jade Romero, vice-governadora do Ceará, destacou em coletiva que o governador deve fazer uma série de anúncios do plano de mitigação da seca. "Garantia Safra, medidas de segurança hídrica, Eixão e Cinturão das Águas, reforço da educação ambiental. "As políticas públicas corretas garantirão a nossa produtividade mesmo no semiárido".

Como foi o cenário em 2023

A quadra chuvosa de 2023 foi uma das mais intensas dos últimos anos. Conforme a Funceme, o intervalo de fevereiro a maio somou um acumulado de 642 milímetros, quando a média histórica é de 600,7 mm.

O destaque ficou para o mês de março, que foi o mais chuvoso no Ceará em 15 anos. A última vez que havia chovido em proporção similar no segundo mês da quadra chuvosa foi em 2008.

Em algumas regiões do Estado, foram registradas enchentes e diversas ocorrências devido ao grande volume de água.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
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