Cearense descobre gravidez 5 dias após morte do filho: 'Deus viu o quanto eu precisava desse amor'

"Entregar um filho a Deus é a missão mais dolorosa que fiz aqui na terra"

Escrito por
Geovana Almeida* geovana.almeida@svm.com.br
(Atualizado às 08:45)
Paciente de câncer ao lado da mãe, usando máscara, ao lado uma imagem de um teste de gravidez reagente positivo
Legenda: Sara Paulino descobriu a gravidez cinco dias após a morte de Arthur.
Foto: Reprodução/Instagram.

A cidade de Quixeramobim, no interior do Ceará, foi marcada pela partida trágica e precoce do pequeno Arthur Paulino, de nove anos. O menino faleceu em decorrência de um linfoma linfoblástico - tipo grave de câncer -, na última segunda-feira (3). Cinco dias após a morte de Arthur, sua mãe, Sara Paulino, descobriu uma nova gravidez. 

O câncer que atingiu Arthur é um tipo agressivo de linfoma que se desenvolve a partir de células jovens do sistema imunológico. 

Família feliz no shopping, com mãe e filho sorrindo para a câmera, criando momentos especiais juntos.
Legenda: Arthur antes do tratamento.
Foto: Reprodução.

A gravidez de Sara não foi planejada, pois ela estava se programando para ir a São Paulo, tentar um transplante de medula para Arthur, mas a notícia da gestação comoveu não apenas familiares do menino, mas moradores da cidade. 

A doença

Sara Paulino, mãe de Arthur, conta que os primeiros sintomas surgiram da maneira quase imperceptível: através de uma gripe. "Ele gripou, ficou com os lábios roxos e meu coração de mãe dizia que não era só uma gripe comum". 

A doença, que chegou de forma silenciosa, levou o menino a óbito em poucos meses. "Nunca passou, nem pela nossa cabeça, nem pela cabeça dele, de um dia chegar um diagnóstico assim, que paralisou a infância dele", contou a mãe de Arthur.

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"Antes ele era muito espirituoso, muito inteligente, gostava muito de brincar.  Se dava bem com todo mundo, gostava de conversar, de ler, de correr, de jogar bola, de andar de bicicleta", disse a mãe da criança. 

Diagnóstico

A batalha por um diagnóstico começou em maio de 2025. Mesmo após exames e idas constantes ao hospital, não se sabia a causa dos sintomas gripais incuráveis, até que Sara levou a criança a um médico particular de Quixeramobim, que solicitou vários exames e conseguiu descobrir o câncer.

O diagnóstico de um linfoma linfoblástico veio no dia 3 de junho de 2025. Imediatamente, Sara, que trabalhava como frentista em um posto de gasolina, largou tudo e mudou-se com Arthur para Fortaleza. O menino passou a receber o tratamento no Centro Pediátrico do Câncer, na Vila União, na capital cearense. 

Criança com câncer deitado em cadeira de rodas, ao lado de mascote do SUS, representante do Sistema Único de Saúde, em ambiente hospitalar, enquanto uma mulher de máscara ao fundo observa.
Legenda: Arthur após a primeira quimioterapia.
Foto: Reprodução.

"Em um piscar de olhos"

"Na primeira quimioterapia que ele fez, ele ficou sem andar", revelou Sara. O menino passou a enfrentar efeitos colaterais fortes como tremores nas mãos, baixa imunidade, colesterol alto e gordura no fígado, todos decorrentes da quimioterapia. 

"O corpo dele nunca reagiu bem a quimioterapia. Tanto é que foram estudados vários protocolos pra ele, por que sempre que ele iniciava o tratamento o corpo dele reagia de uma forma muito negativa"

Na segunda sessão do tratamento a doença já tinha evoluído e a criança perdeu a visão de um olho. A quimioterapia não conseguia mais combater o avanço da doença, até que Arthur passou a sentir dores de cabeça e tonturas muito fortes

Criança feliz em cadeira de rodas na orla do mar com céu nublado ao fundo, aproveitando o dia ao ar livre perto da água.
Legenda: Arthur recuperou o movimento das pernas em 15 dias.
Foto: Reprodução.

Arthur completou cinco meses de tratamento no dia do falecimento, 3 de novembro. A mãe conta que o tempo passou em um piscar de olhos, e que, durante o tratamento, Arthur não apresentou melhoras. 

"Quando chegou nesses últimos dias, foi muito rápido, ele começou a sentir tudo isso na sexta-feira, começou a paralisar os poucos, os movimentos dele já não eram movimentos normais, era um movimento involuntário. Chegou a um momento, que ele não me reconhecia", contou emocionada a mãe da criança.

Durante a última internação, Arthur entrou em coma e teve uma parada respiratória seguida de parada encefálica. A mãe, Sara Paulino, decidiu deixar o filho partir. 

Família feliz no shopping, com mãe e filho sorrindo para a câmera, criando momentos especiais juntos.
Legenda: Sara e Arthur Paulino.
Foto: Reprodução.

"Logo em seguida, fiquei lá com ele até o fim, pra mim era muito forte esperar a morte do meu filho. Eu disse com o meu filho: Se tiver alguma coisa te prendendo aqui, pode ir, vá pela mamãe. Por que era um sofrimento que já não era mais dele era nosso" 
Sara Paulino
Mãe de Arthur Paulino

Homenagem 

Na terça-feira (4), moradores da cidade de Quixeramobim saíram às ruas para homenagear Arthur durante o velório e cortejo da criança. Três dias depois, Sara Paulino fez um teste de gravidez e descobriu estar grávida de seu segundo filho. 

"Eu não sentia nada, até porque eu estava vivendo, um momento muito preocupante na minha vida eu nem imaginava a possibilidade disso", revelou em entrevista

A criança é fruto do relacionamento de Sara com seu atual companheiro, João Emanuel, com quem está há cerca de três anos. Os dois não planejavam a gravidez, pois estavam se programando para ir a São Paulo em janeiro, tentar um transplante de medula para Arthur. 

Sara compartilhou a descoberta da gravidez em uma publicação no Instagram. Na legenda, a cearense escreveu: "Há 5 dias encerrei o ciclo mais lindo da minha vida, entregar um filho a Deus é a missão mais dolorosa que fiz aqui na terra. Deus viu o quanto eu precisava desse amor, e me mandou você, para que de alguma forma você pudesse curar meu coração, nossa família já te espera com muito amor". 

*Estagiária supervisionada pela editora Geovana Rodrigues.

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